FC Porto: Pinto da Costa perdeu o norte
Pinto da Costa terminou a 27 de abril reinado de 42 anos na presidência do FC Porto (Foto Imago)

FC Porto: Pinto da Costa perdeu o norte

OPINIÃO27.10.202409:30

Dos cinco antigos jogadores apelidados de «traidores», apesar de somarem 1305 jogos e 63 troféus no FC Porto, ao 'desleal' Sérgio Conceição e a mais uma tentativa de reescrever a história pela pena do antecessor de André Villas-Boas

1No livro Azul até ao Fim, Pinto da Costa (PC) desempenha papel de treinador e assina convocatória para o próprio funeral. Entre os ausentes do jogo de despedida do mais titulado presidente da história do futebol — o homem que transformou um clube de uma cidade numa potência mundial em 42 anos de conquistas inimagináveis — estarão, entre outros, por decisão de PC, cinco antigos jogadores dos dragões.

«Não quero mal a ninguém. Mas porque tanto prejudicaram a paz dos meus últimos dias não gostaria que lá estivesse alguém da atual direção do clube. Nenhum dos ex-jogadores que sempre estiveram comigo e me traíram (por exemplo, Helton, Maniche, Eduardo Luís, André, Sousa)», lê-se num dos excertos revelados recentemente de uma obra que é mais um ajuste de contas após a derrocada eleitoral de 27 de abril e a prova de que PC continua a perder o norte.

O quinteto que apelida de traidor só porque manifestou apoio a André Villas-Boas é uma gota de água que ajudou a formar um oceano de 21.489 votantes que se traduziram em esclarecedores 80,28 por cento dos votos expressos nas urnas. Não há editora disponível para colocar nos escaparates exemplar com páginas suficientes para expor número tão considerável de falsos e desleais cujo pecado, na ótica desfocada de PC, foi apenas escolher em liberdade o novo timoneiro da nau azul e branca.

A mesma liberdade negada aos associados portistas que participaram na lamentável Assembleia Geral de 13 de novembro de 2023, na qual alguns dos eleitos para marcarem presença no derradeiro adeus a PC protagonizaram comportamentos deploráveis.

Na folha de serviços dos cinco considerados persona non grata, Helton soma 334 partidas e 18 títulos no FC Porto, Maniche 124/7, Eduardo Luís 153/10, André 385/19 e Sousa 309/9, total de 1305 encontros e 63 troféus. Se compararmos estes trajetos com alguns dos caminhos percorridos — e respetivos parceiros de caminhada — por PC nos últimos dois mandatos, apetece perguntar: quem são os verdadeiros traidores?

Na lista de convocados para as exéquias — que se desejam o mais tarde possível — constam, ainda de acordo com passagens de Azul até ao Fim, «o António Henrique, o Pedro Pinho, o Quintanilha, o Fernando Póvoas, o Luís Gonçalves, o António Oliveira, o Hugo Santos, a Sandra Madureira, o Fernando Madureira, o Caetano, o Marcos Polónia».

Os amigos são para as ocasiões e Sérgio Conceição (SC), segundo fontes próximas do técnico, tão próximas que este confirmou com o silêncio dele aquilo que foi partilhado com vários órgãos de comunicação social, não gostou do que leu. Porventura sentiu-se traído quando soube que PC, afinal, não pensava renovar-lhe o contrato — nem recandidatar-se — devido a declarações de SC consumada eliminação da Champions aos pés do Inter em março de 2023.

«Mas, porque faço da lealdade uma condição essencial para conviver, depois das declarações de Sérgio Conceição após o jogo FC Porto-Inter não tenho condições de pensar em renovação, e depois desta desilusão, disse a mim mesmo: BASTA!», escreveu, à data, PC, que ainda chamuscou SC ao lembrar que a venda de Luis Díaz ao Liverpool, em janeiro de 2022, se deveu a «dois atos de gestão ruinosos», as aquisições de Zé Luís e Nakajima no verão de 2019, dois anos e meio antes: «Não servia de desculpa a pressão que o treinador [SC] nos fez para a compra desses jogadores, porque os culpados fomos nós em ceder a essa pressão.»

Em duas penadas, SC é acusado de deslealdade e responsabilizado em parte pelo caos financeiro de uma SAD obrigada a negociar um dos melhores futebolistas sob risco de falhar compromissos com a UEFA. Como é possível que negócios selados dois anos e meio antes, volto a frisar, possam servir de pretexto para explicar o declínio de uma SAD encostada às cordas no começo de 2022? É aguardar pelos resultados da auditoria forense anunciada por André Villas-Boas…

E pensar que SC faltou à palavra dada e prolongou o vínculo com o FC Porto a dois dias das eleições, dois, arma eleitoral para tentar missão que se revelaria impossível.

«Tive uma conversa com o presidente de hora e meia no dia antes e, se ele me deixar, um dia vou partilhar e muitos vão colocar a viola no saco. Não podia abandonar o barco», eis a forma como SC reagiu às críticas por ter dado o dito por não dito.

Talvez tenha chegado o momento de SC partilhar o teor dessa conversa para vermos quem andou a dar música aos adeptos portistas ao som de viola.

2No Manchester City desde o verão de 2023, contratado ao Wolverhampton após ter brilhado no Sporting, Matheus Nunes contabiliza apenas 408 minutos de utilização em 2024/25, 90 dos quais na quarta-feira, diante do Sparta de Praga, nona aparição da temporada — ontem chegou ao décimo jogo, mais 90’, com passe para Haaland faturar no 1-0 ao Southampton.

Com dois golos e uma assistência, o médio de 26 anos foi decisivo na goleada de 5-0 aos checos e justificou elogios de Pep Guardiola, que pouco tem apostado nele. «Ele só tem um problema, é que o treinador não lhe dá os minutos que merece», assim se referiu o catalão ao internacional português.

A propósito, lembrei-me de história que remonta ao final da década de 60, quando Joaquim Meirim treinava o Varzim. Questionado pelo espanhol José Luís, guarda-redes ex-Celta de Vigo, sobre os porquês de ser suplente de Pedro Benje, angolano que passara pelo Benfica, o técnico, motivador nato, pediu-lhe para se manter tranquilo.

«És o melhor guarda-redes da Europa, a tua hora vai chegar», afirmou, antes de ouvir resposta rápida: «Se sou o melhor da Europa, por que razão não jogo?» E foi então que Meirim retorquiu sem deixar espaço para mais conversa: «Joga o Benje porque é o melhor guarda-redes do Mundo.»

Guardiola rende-se ao talento de Matheus Nunes, mas há ainda Rodri, Gundogan, Kovacic e até Foden e Bernardo Silva podem pisar os mesmos terrenos. Não faltam Benjes aos citizens

3Messi e Cristiano Ronaldo? Ronaldo fenómeno e Ronaldinho Gaúcho? Iniesta, Figo e Zidane? Federer, Nadal, Djokovic e Serena? Michael Phelps? Carl Lewis e Usain Bolt? Senna, Prost, Michael Schumacher e Lewis Hamilton? Valentino Rossi? Simone Biles? Tom Brady? Bird, Magic, Kobe Bryant, Curry e LeBron James? Génios, simplesmente, imortais do desporto que vi competir, lista seguramente incompleta porque a memória não dá para tudo.

Mas o maior de todos, para mim, estreou-se na NBA fez ontem 40 anos. A 26 de outubro de 1984, frente aos Washington Bullets (atuais Wizards), Michael Jordan realizou, ao serviço dos Chicago Bulls, o primeiro jogo na maior competição mundial do basquetebol.

O resto, o resto é história…