FC Porto e Benfica: os dados estão lançados
André Villas-Boas com a Taça de Portugal. Foto: GRAFISLAB

FC Porto e Benfica: os dados estão lançados

OPINIÃO30.05.202409:45

No Dragão respiram-se os ares da aurora; na Luz só bons resultados na próxima época podem arejar a casa

André Villas-Boas tomou conta, finalmente e na plenitude, do FC Porto, mais de um mês depois de ter sido eleito e ainda a gozar o prazer da conquista da Taça de Portugal. Já sabia ao que ia, mas só talvez a partir de agora começará a ter a verdadeira noção do enorme desafio que o espera e da dimensão real dos problemas, de que a «situação muito difícil de tesouraria», como chegou a dizer, pode ser a ponta do iceberg.

Fazer muito, depressa e bem com o espartilho de uma situação financeira superdelicada não será fácil e é previsível que demore pouco tempo até apelar à compreensão dos adeptos. Nada melhor do que ser transparente, será sempre essa a arma mais adequada, sobretudo para quem aproveitará todas as oportunidades para lembrar o anterior presidente.

Villas-Boas terá de começar pela anunciada substituição do treinador. E seja quem for o escolhido será complicadíssimo calçar as botas de Sérgio Conceição. Admitindo-se que sete temporadas possam ter causado desgaste em alguns sócios e adeptos, é impossível ignorar a dificuldade de encontrar alguém com um perfil que case tão bem como o de Conceição casou com o FC Porto, para o bem e para o mal, alguém que compreenda as idiossincrasias do clube e do futebol português e que delas tanto proveito consiga tirar, alguém que consiga sobreviver na escassez e conquiste troféus — 11 no caso de Conceição, entre os quais três campeonatos.

Villas-Boas, com Zubizarreta e Jorge Costa, terá depois de construir um plantel competitivo. Haverá, provavelmente, grande transformação, dentro dos condicionalismos financeiros conhecidos, será um FC Porto, praticamente, a começar do zero. Mas com o benefício de as expectativas não serem exageradas.

O novo presidente do FC Porto tem a favor dele a força da mudança e o ar fresco de uma aurora de liberdade. Mas, como outros em qualquer lugar, cedo ou tarde, também precisará da bola que entra na baliza para que tudo posso fazer ainda mais sentido.

A entrevista de Rui Costa na última semana — saúda-se o ar fresco de ter sido com vários órgãos de comunicação social e não fechada para dentro e no canal de televisão do clube — dificilmente terá mobilizado os benfiquistas mais descrentes em Roger Schmidt.

Se a legitimidade de manter o treinador é indiscutível e inatacável, as justificações para mantê-lo, como o sucesso na primeira época, a paixão dele pelo trabalho no Benfica ou a estabilidade do projeto, são ligeiras para a profundidade das feridas de parte significativa de sócios e adeptos.

Também explicar que houve erros na contratação de jogadores e prometer corrigi-los parece pouco para quem gostaria de saber mais. O presidente do Benfica, por outro lado, também não deveria ter chegado ao fim da época sem saber se Di María fica ou sai.

Quanto a José Mourinho já aqui o disse e repito — seria imprudente para não dizer irresponsável se o presidente do Benfica não considerasse a contratação dele. Saúda-se, também, que, mesmo não podendo dizer tudo, Rui Costa tenha neste caso dito tanto.

Os dados estão lançados no FC Porto e no Benfica. Mas na Luz, mesmo depois das palavras de Rui Costa, só bons resultados na próxima época podem arejar a casa. Até a bola entrar na baliza o ar continuará a ser pesado para quem não foi suficiente o que Rui Costa disse.