FC Porto: assobios ficaram no relvado
'Hat trick' é o espaço de opinião semanal do jornalista Paulo Cunha
1 Não acredito que os assobios ouvidos no Dragão na receção do FC Porto ao SC Braga fossem o epílogo de um plano organizado por saudosistas de Pinto da Costa para atingir André Villas-Boas através da equipa orientada por Vítor Bruno.
As eleições de 27 de abril foram esclarecedoras e dissuasoras de qualquer tentativa de voltar atrás no tempo, independentemente do estado civil dos adeptos, vivam em união de facto ou sejam casados, solteiros ou viúvos. Num clube em que um sócio vale um voto, não há como ter ilusões de golpes de estado ou palacianos quando 26.876 associados disseram presente nas urnas, 21.489 (80,3%) para apoiar AVB, em absoluto contraste com os 5.224 (19,5%) que se mantiveram fieis a PC e 53 (0,2%) a Nuno Lobo.
Os assobios na reta final do duelo com os bracarenses, acampados no meio-campo portista enquanto estes defendiam a vantagem mínima, justificam-se, creio eu, precisamente por essa incapacidade de afugentar a pressão num palco onde os dragões não costumam ser encostados às cordas. Aposto que inclusive apoiantes ferrenhos do atual presidente — daqueles que estão sobretudo preocupados com a situação financeira da SAD e ansiosos pelos resultados da auditoria forense às contas — não resistiram a levantar-se das cadeiras e assobiar após dois alívios seguidos de Fábio Vieira sem nexo, aos 88’, uma perda de bola de Vasco Sousa, aos 90+1’, lance que terminou com grande defesa de Diogo Costa, e um mau passe atrasado do criativo cedido pelo Arsenal, aos 90+4’.
Era o que se estava a passar no relvado que ditava a assobiadela, assim como a desvantagem de 0-2 diante do Man. United, a abrir, e o recuo exagerado a anteceder o golo de Maguire, a fechar, consumada reviravolta épica para 3-2, explicam os apupos na quinta-feira anterior de Liga Europa. Mais que os assobios — cúmulo da irracionalidade dos adeptos, que tornam difícil a missão dos jogadores por quem estão a torcer — aquilo que deve preocupar AVB e Vítor Bruno é a falta de estofo que o plantel pode ter para aguentá-los e fazer ouvidos de mercador.
À exceção de Cláudio Ramos (32 anos), Samuel Portugal (30), Wendell (31) e Marcano (37), agora que o quarentão Pepe pendurou as chuteiras, não há mais trintões, aqui como sinónimo de experiência, no grupo — e aqueles quatro não são opção.
Lembro-me de Futre e Madjer testarem a paciência do tribunal das Antas sempre que insistiam na jogada individual e perdiam a bola. Na jurisdição do Dragão, quantas vezes Quaresma, Hulk e Brahimi foram assobiados alvo da memória curta dos mesmos que depois vibravam com as diabruras deles? É também deste tipo de jogadores que assobiam para o lado e assumem nas horas de aperto que o FC Porto precisa. É o preço a pagar por um ano zero, mas que até já rendeu um troféu...
2 O Sporting começa a pagar o preço do sucesso, para já com a partida de Hugo Viana para o Manchester City. O mercado de janeiro e do próximo verão promete ser agitado em Alvalade, mas o balanço será sempre positivo desde que Frederico Varandas consiga segurar Rúben Amorim.
3 Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic dividiram a três o trono do ténis neste século. Após o suíço, o espanhol também terminou a carreira. Aguenta-te, Novak!|