Faltam 11 jornadas (e 'meia') de emoção. Vamos continuar a dizer mal do nosso campeonato?
Um dia aprenderemos que nem tudo gira em torno de três clubes; é que os 'os outros' também ganham pontos
Podemos continuar a carpir as mágoas de não ser um dos Big 5 e vermo-nos atrapalhados, muito provavelmente, para vender direitos televisivos que, por acaso, ainda não conseguimos centralizar, e portanto a venda em bloco não é sequer hipótese em cima da mesa.
Podemos - e devemos - queixar-nos dos sucessivos lamentos sobre arbitragens e processos judiciais que marcam a intervenção de boa parte dos dirigentes, funcionários e por vezes treinadores e jogadores da nossa Liga. Poluem o ambiente e, invariavelmente, desviam as atenções do essencial.
Mas, por favor, não continuemos a queixar-nos da competitividade do campeonato, a vários níveis da tabela, só porque nos habituámos a dizer mal do que é português.
O Rio Ave apresenta, neste ano de 2024, uma das melhores propostas futebolísticas dos últimos anos. Já perdeu e empatou jogos do seu campeonato, mas empatou no Dragão e ontem travou o Sporting. Perdeu na Luz, até com ligeiro estrondo (1-4), mas foi dono e senhor desse jogo até ficar com dez elementos.
A equipa de Luís Freire quer jogar futebol e joga. Olha para os poderosos de frente e consegue brilhar. Tem 22 pontos após uma jornada gloriosa (quebrou ciclo de oito vitórias consecutivas daquele que era até este domingo um dos líderes), mas tem a corda na garganta.
Onde quero chegar? Se uma equipa que (ainda) luta pela manutenção consegue impor-se desta forma perante os três crónicos candidatos ao título, parece-me difícil defender que temos uma Liga pouco competitiva e desinteressante.
E que dizer do Gil Vicente? A perder em casa com o FC Porto conseguiu reunir energias e empatar no período de compensação. Isto é sinal de um campeonato demasiadamente desnivelado e previsível?
O que se passa em Portugal, e há muitos, muitos anos - quiçá desde sempre - é que tudo gira em torno de três emblemas. Se o Sporting e o FC Porto empataram em Vila do Conde e em Barcelos é porque não foram suficientemente competentes, raramente porque um Rio Ave ou um Gil Vicente fizeram pela vida e merecem o prémio dos pontos.
Se o Benfica não tivesse arrancado para três minutos épicos diante do Portimonense, resolvendo um jogo num ápice com eficácia raramente vista, já todos estaríamos de dedo em riste, prontinho a ser apontado a Roger Schmidt porque jogou com mais pontas de lança ou menos pontas de lança.
Na realidade parecemos pouco preparados para uma Liga em que os grandes perdem pontos. Ou melhor (e cá estava eu, sem querer, a embarcar na onda da narrativa habitual): onde os menos ricos e teoricamente menos fortes ganham pontos aos maiores.
Um ponto interessante: o Sporting viu fugir o Benfica na classificação e não se ouviu de Amorim ou dos jogadores um ai sobre arbitragem. Será que algo está a mudar na nossa mentalidade?
Venham dai essas 11 jornadas (mais o Famalicão-Sporting) que faltam!