Espelhos de papel

OPINIÃO22.02.201903:07

1. O Papa Francisco é hoje em dia, por direito próprio, uma das figuras mais consensuais do universo. D. Jorge Bergoglio nunca se cruzou com Bruno de Carvalho. Caso contrário, não reuniria tanto consenso, pois, por certo, também seria um dos culpados do desacerto do ex-presidente dos leões à frente do clube. BdC usou uma caneta para encontrar réus do seu descalabro final. Talvez o uso doutro objeto fosse mais adequado: um espelho.

2. Quem viveu nas décadas de 80 e 90 bem se deve lembrar da casa dos espelhos na lisboeta Feira Popular. Eram muitos e, consoante o ângulo dos vidros, aumentavam ou diminuíam as figuras que à frente deles se colocavam. Os sportinguistas, no domingo, viram a sua realidade aumentada com uma vitória gorda frente ao SC Braga, ontem ficaram com a alma diminuída por uma eliminação frente ao Villarreal. As explicações são muitas e até podem passar pelo desacerto do árbitro no jogo da segunda mão ou pelo dalguns jogadores nucleares. Marcel Keizer tem tido o condão de colocar o leão numa sala cheia de espelhos disformes. Não se consegue perceber bem o que a equipa vale, não há um meio termo de análise; os reflexos saem sempre desadequados. Mas, há um que sai sempre com brilho: Bruno Fernandes.

3. Na Feira Popular havia a Casa dos Espelhos, no ano passado foi lançada a espantosa série A Casa de Papel. A sinopse abreviada passa por um bando superiormente dirigido a entrar na casa da moeda espanhola, a emitir muitos milhões em notas e a levá-las sem ser apanhado. Numa analogia metafórica, o Benfica já emitiu muitos milhões em notas - leia-se a geração que está agora na equipa principal - e o desafio dos responsáveis benfiquistas é tentar que ninguém os leve para que haja ali alimento para a sua economia, com lucro desportivo, até porque as notas, sejam euros, libras ou petrodólares, são sempre em papel. Valem o que valem, não têm reflexo.