RAFA é um jogador especial. Especialíssimo, até. Sentindo-se tapado na Seleção Nacional por nomes como Ronaldo, João Félix, Diogo Jota, Rafael Leão ou Bernardo Silva, por exemplo, imaginando que o anterior selecionador nacional continuaria a não lhe dar os minutos de que se achava merecedor ou por outra qualquer razão ainda desconhecida, Rafa abdicou da Seleção Nacional a 19 de setembro de 2022. A desistência, escrevamos assim, apareceu na sequência de entrada fulgurante na atual época: quatro golos e três assistências na Liga e dois golos e uma assistência na Champions (pré-eliminatórias e fase de grupos) até 18 de setembro. Seguir-se-ia mês e meio igualmente fulgurante: dois golos na Liga e três golos e uma assistência na Champions entre 19 de setembro e 2 de novembro. Era a maior figura do Benfica e uma das maiores da Liga, levado ao colo pelos benfiquistas, que adoraram o abandono de Rafa da Seleção Nacional. Porém, de 2 de novembro até hoje, 10 de abril, passaram-se mais de cinco meses e o Benfica disputou 24 jogos, 17 dos quais com a presença de Rafa: apenas um golo e três assistências nestes 159 dias, embora com lesões e castigos pelo meio. Rafa é, de facto, um jogador muito especial, daqueles que necessitará de estar a 100 por cento fisicamente e, sobretudo, a 100 por cento mental e psicologicamente. Não se sabe se estes medianos cinco meses, quando comparados com os primeiros três da época, têm alguma explicação ou se tudo se resumirá a uma das mais famosas frases do universal futebolês: é futebol. Esperemos pelos próximos jogos, a começar, desde já, pelo Benfica-Inter de amanhã. Uma coisa é certa: Rafa pré-Mundial do Catar não é igual ao Rafa pós-Mundial do Catar. PEPE é outro jogador especial. Especialíssimo, também. Por razões diferentes. Amado até ao âmago do âmago por milhões de portistas, é (sejamos suaves na apreciação) indesejado por milhões de benfiquistas e sportinguistas e tolerado por estes quando enverga a camisola da Seleção Nacional. Pepe é o típico jogador (como Otávio) que os adeptos gostam de ver na sua equipa e odeiam ver nos adversários. Por múltiplas qualidades, claro. A primeira das quais é a fiabilidade: Pepe é um luso-brasileiro com motor alemão. Dura, dura, dura. O melhor diesel que uma equipa pode ter. Depois é um motor alemão quase com a potência de um Fórmula 1 italiano. Se a corrida começa com Pepe a três metros do adversário, invariavelmente o portista recupera o atraso ou, no mínimo, não perde mais terreno. Além disso, é um líder. Não só da defesa, mas da equipa e do grupo. É duro? É. É agressivo? É. Por vezes em excesso? Sim. Mas é verdadeiramente especial. Continua titularíssimo no FC Porto e (presume-se) com boas possibilidades de o voltar a ser na Seleção Nacional. Aos quase 40 anos e um mês. TAMBÉM Pedro Gonçalves é especial, especialíssimo. Durante parte significativa do jogo apenas anda pelo relvado. Quase indolente. Porém, despertado por algo inexplicável, rapidamente salta dois ou três degraus e atinge rendimentos absurdos. Como no golo ao Arsenal. Não é número 7, 8, 10, 11 e, muito menos, 9. Mas é um pouco de tudo e um pouco de todos.