Encontro Nacional do Jovem Árbitro
Decorreu, no passado fim de semana, o XIX Encontro Nacional do Jovem Árbitro. A ação, este ano realizada no Fundão, foi mais uma vez organizada pela APAF. Não vale a pena esconder o óbvio: sabemos que este tipo de iniciativas passa ao lado da maioria dos adeptos, imprensa e restantes intervenientes do jogo. As pessoas não sabem nem querem saber como se trabalha a este nível. Digamos que é um tema que não vende.
É, até certo ponto, compreensível. A nossa formatação cultural há muito que está desviada do essencial. Poucos são os que apreciam eventos didáticos ou formativos, quando o tema é futebol. Menos ainda se for arbitragem. A latinidade do povo parece servir de justificação para tudo: para os excessos, para a visão parcial e predominantemente clubística, para a mordaz memória seletiva e para um tipo de discurso mais corrosivo que construtivo. As coisas são como são.
Mas esta evidência não invalida a tentativa de muitos e bons em fazer diferente. Em fazer melhor. Este tipo de eventos não são apenas necessários: são imprescindíveis, porque preparam, no presente, qualidade potencial para o futuro. Neste caso particular, o mérito pertence por inteiro à APAF (tem feito um trabalho fantástico a este nível) e a todos os conselhos regionais de arbitragem, que enviaram as meninas/meninos que tinham mais gosto e vocação para a função.
No sábado, tive o prazer de estar presente numa das sessões e testemunhei a forma genuína, intensa e profissional como decorreram os trabalhos. Estes miúdos (têm idades compreendidas entre os 13 e os 17 anos) não têm bem noção do conjunto de ferramentas que receberam ao longo destes três dias. Refiro-me, por exemplo, às várias sessões de trabalho relacionadas com leis de jogo e às horas que dedicaram a treinos e sessões técnicas em campo. Refiro-me a um conjunto valioso de dicas que receberam sobre nutrição, boas práticas e gestão de emoções. Refiro-me também à partilha de experiências que mantiveram com árbitros de elite (Artur Soares Dias, Luís Godinho, Carlos Xistra, Jorge Sousa e Hugo Miguel estiveram presentes) e ainda a um sem número de lições que receberam sobre superação, relacionamento com agentes desportivos, importância da gestão de imagem e a forma como devem preservar a sua exposição ao mundo exterior.
Na verdade, estes jovens receberam doses industriais de aprendizagem, com predomínio acentuado para valores tão importantes como o respeito por terceiros, a educação, o compromisso, a lealdade, a dedicação e, claro, a busca pela verdade. Penso que entraram bem. Tenho a certeza que saíram melhores.
Convém realçar que antes do início dos trabalhos, todos foram sujeitos a testes de despiste à Covid-19. Mesmo assim, a organização não deixou nada ao acaso, seguindo o protocolo de saúde com rigor: todos os espaços desinfetados em permanência, uso de máscara obrigatório, distanciamento social garantido e a higienização das mãos feita com regularidade.
Tenho a certeza que a Joana, o Carlos, a Ana e tantos outros saíram do Fundão com o coração cheio. Tiveram a coragem de ingressar num mundo mal-amado, quando o apelo por tantos outros caminhos era maior. Contaram com o apoio dos seus pais, que cedo perceberam que a arbitragem é, ao contrário do que se diz, uma escola de virtudes.
Estes meninos treinam com frequência, estudam, aprendem a trabalhar em equipa, a gerir emoções, a lidar com adversidades, a ter responsabilidade, a apurar o sentido de justiça, a mediar conflitos, a competir com respeito, a fixar metas e a lutar por um objetivo. Aprendem tudo o que uma mãe e pai esperam que um bom filho aprenda, em idade de influências.
Fica o repto para quem gosta de futebol.