Editorial: Renato, à atenção de João Félix
Renato Sanches e João Félix (Imago)

Editorial: Renato, à atenção de João Félix

OPINIÃO26.12.202310:23

O amuo de Renato Sanches na Roma, mais do que um problema, revela um padrão

O modelo de negócio dos clubes portugueses está assente na formação e na prospeção, como meios de criar e desenvolver jogadores de alto potencial, que depois são injetados no mercado principal, onde o dinheiro é o menor dos problemas, com significativas mais-valias. 

Creio que tudo já foi dito sobre os defeitos e virtudes deste sistema, que vai permitindo sobreviver, sem grandes expetativas, porém, de evolução. Enquanto as equipas de top não vendem por necessidade, permitindo ao treinador uma evolução na continuidade que garante, a cada ano que passa, maior coerência e mais consistência, as nossas fazem o que a necessidade as obriga a fazer e, embora possam vender caro, não é por acaso que Diogo Costa, Pepê, Gonçalo Inácio, Viktor Gyokeres, António Silva ou João Neves, parecem destinados a escrever crónicas de um adeus anunciado. 

Porém, haverá, eventualmente, momentos melhores ou piores para os jogadores de maior potencial abandonarem o ninho e aventurarem-se no mundo real. Umas experiências correm bem, outras nem por isso. Bernardo Silva correu bem (do ponto de vista no enquadramento numa nova realidade, quando demandou o Mónaco), enquanto, por exemplo, Renato Sanches tem corrido muito abaixo do esperado. Renato teve uma entrada ciclónica na primeira equipa do Benfica, foi decisivo na conquista do campeonato nacional, e acabou a época de 2015/16 a ser peça importante na vitória de Portugal no Campeonato da Europa. 

Na temporada seguinte, transferiu-se para Munique, e nunca esteve à altura do desafio, perdido entre a ilusão do dinheiro e a responsabilidade de ombrear com alguns dos melhores jogadores do planeta. Daí em diante, tirando uma boa época em Lille, com Christophe Galtier, coroada com o título gaulês, o percurso de Renato Sanches, dividido entre lesões constantes e uma atitude pouco sensata, tem ficado a anos luz do que prometia. O conflito mais recente, na Roma de Mourinho, mais do que um problema pontual, revela um padrão preocupante. 

Esperando que a novela de Renato na Cidade Eterna acabe bem, e sem estabelecer dogmas quanto a momentos ideais para um jogador mudar de ares, seria bom que João Félix pusesse os olhos em Renato Sanches e refletisse: falhar no Barcelona não pode ser opção. Porque a vida não está para primas-donas...