Editorial: O clássico mistério do século
Di María em ação no Benfica-FC Porto da Supertaça (Foto: Imago)
Foto: IMAGO

Editorial: O clássico mistério do século

OPINIÃO28.09.202309:25

A atitude pode ser uma importante estratégia de sucesso e poucos a usam como o FC Porto

Em vésperas de clássico na Luz, todos os analistas de futebol se debruçam sobre o mistério do século: o que faz o Benfica diminuir-se e, às vezes, até, eclipsar-se, tornando-se uma equipa vulgar, quando joga na sua casa contra o FC Porto?

A maioria chega à conclusão que é um género de bloqueio psicológico coletivo. Nasce fora dos balneários, na insegurança do adepto comum e contamina tudo o resto, de dirigentes a jogadores, de treinadores a técnicos de equipamentos. Fica registado para a posterioridade a curiosa expressão de «medo cénico». Na verdade, qualquer equipa que entre em campo condicionada pelo medo de perder, o mais certo é que perca. É um fenómeno muito comum nas equipas pequenas quando jogam com equipa grandes e contra jogadores de renome. Antigamente, havia também uma expressão significativa que falava do peso das camisolas. No jogo, no adversário e nos árbitros.

É importante pensar que a questão da atitude também pode funcionar como uma estratégia de sucesso. Uma equipa que chega a território adversário e consegue impor-se desde o primeiro minuto, assustando o opositor e causando-lhe dúvida e apreensão, é uma equipa, desde logo, em vantagem. O FC Porto sabe disso e, por isso, não se limita a preparar o jogo com uma semana de antecedência. O FC Porto prepara o jogo da Luz desde sempre, porque, dizem alguns, faz parte do seu ADN e dizem outros faz parte da sua natureza. Quando vem à Luz, o FC Porto, enquanto entidade identitária de uma região e de uma representação antisistema centralizado é um exército treinado no limite da fé, da autoconfiança e do sofrimento.

Ora, o Benfica não pode, nem deve usar as mesmas armas psicológicas. Seria ridículo o Benfica defender o sul contra o norte e ter perante este ou qualquer jogo uma atitude própria de um guerreiro japonês da segunda guerra mundial, para quem a derrota era uma desonra de morte. O Benfica tem outra cultura. Não é melhor, nem pior, é uma cultura nacional (até já foi internacional) e, por isso, uma cultura diferente. É uma cultura que deve obrigar a sentir, em vez de um intimidante medo cénico, uma incentivante superioridade cénica. E isso é algo que não se consegue trabalhar numa semana ou numa época e que se vai consolidando com vitórias.