QUEM vai chegar ao Natal na liderança da Liga? Hoje, antes das nove da noite, hora a que termina o Benfica-Estoril que encerra a 15.ª jornada, saber-se-á. Se os encarnados tropeçarem com os canarinhos (que já ‘tiraram’, na Luz, no tempo de Marco Silva, um título ao Benfica de Jesus), o Sporting, em igualdade pontual com o FC Porto, estará no topo da classificação na noite de consoada; se a equipa de Bruno Lage triunfar, serão os da Luz a apresentarem-se em Alvalade no próximo domingo, para o dérbi, na condição de líderes. Surpreendente, qualquer um destes cenários? Claro que sim. O Sporting ainda não conseguiu refazer-se da saída de Ruben Amorim e dos doze pontos de Liga que disputou sob o comando de João Pereira, ganhou quatro, enquanto que no mesmo período o FC Porto conseguiu dez e o Benfica (que entretanto acertou contas, com êxito, com o Nacional), fez sete, e tem um jogo a menos (com o Estoril). Sabendo-se que depois do dérbi os leões viajam a Guimarães, percebe-se de imediato a transcendência que passou a assumir o duelo com os eternos rivais (que permitirá saber quem será líder no Ano Novo). Numa época que parecia ir ser um passeio, os leões entraram numa montanha-russa, que teve o ponto mais alto nos 2-4 de Braga, e que a partir daí tem sido sempre a descer. Mas é até possível dizer que o Benfica chega a Alvalade na altura certa para o Sporting, que tem, nessa noite, oportunidade de retomar rumo, porque o jogos entre os gigantes de Lisboa são entidades com vida própria e desígnios insondáveis. A propósito da saída de Ruben Amorim de Alvalade para Old Trafford, disse Frederico Varandas, presidente dos leões, na Gala dos Stromps: «o que aconteceu ao Sporting, nunca aconteceu em Portugal... É a primeira vez que um treinador saiu, por sucesso, a meio de uma época.» Pois, não é bem assim. Cronologicamente, o primeiro a fazê-lo foi o Benfica, em 1996/97, quando, a 1 de fevereiro de 1997, foi buscar Manuel José ao Marítimo; seguiu-se o FC Porto, a 23 de janeiro de 2002, ao ir contratar José Mourinho à União de Leiria, onde seguia no quarto lugar, abrindo uma era gloriosa na história dos dragões; três anos depois, a 1 de fevereiro de 2005, os portistas repetiram a fórmula, com José Couceiro, que treinava com êxito o V. Setúbal; finalmente, a 4 de março de 2020, foi o próprio Frederico Varandas a pagar a cláusula de rescisão de Ruben Amorim ao SC Braga, num movimento em tudo semelhante ao que os ‘red devils’ fizeram agora com o Sporting. Aquando da saída do técnico para a Premier League, o líder leonino afirmou: «quando olho para o Ruben Amorim vejo o segundo treinador com mais jogos da história do Sporting. Vejo um treinador brilhante da história do Sporting. O Sporting é grande e nobre em valores. Sejamos grandes e nesta casa trataremos bem quem sempre nos fez bem. Ao Ruben Amorim, nós reconhecemos muita dedicação, trabalho, profissionalismo e batalhas ao longo destes cinco anos.» Que assim continue, sem cair na tentação fácil das narrativas revisionistas.