Dúvidas metódicas e uma existencial
Após uma pré-época de grande diversidade, está por conhecer a verdadeira face do Benfica que Roger Schmidt vai apresentar. E até ao fecho do mercado assim continuará…
A uma semana do início da I Liga, apesar das impressões iniciais pouco convincentes dos leões Kovacevic e Debast, e ainda das reticências quanto a algumas mudanças estruturais dos leões, continua a ser pertinente discorrer sobre as dúvidas que jorram da Luz.
Uma delas é mesmo existencial, e tem a ver com João Neves: não teria sido preferível o Benfica abdicar de alguns dos salários mais altos do seu plantel, auferidos por jogadores de inegável valor, mas já no ocaso de carreiras brilhantes, e tornar Neves no mais bem pago do grupo, fazendo finca-pé na cláusula, e mantendo um ativo que não só apresentava atributos desportivos, como afetivos e identitários? E, ao mesmo tempo, fazer caixa com jogadores, alguns de nível médio, com mercado? Embora no futebol os ses não tenham grande valor, a resposta a estes só será dada, em forma de resultados, no balanço da temporada, em maio do próximo ano.
Mas há outras dúvidas pertinentes: Depois de Draxler e Bernat, dois craques que falharam no Benfica por deficiente condição física, como estará Renato Sanches, também emprestado pelo PSG, que tem passado as passas do Algarve com as lesões? Quando estará Otamendi operacional, ou seja, em condições de enfrentar a época (depois de ter feito a temporada de 2023/24, a que se somaram Copa América e Jogos Olímpicos, não vai ter férias?). Barreiro (ou Sanches) vão fazer de João Neves, com Florentino, no duplo pivô?
Kokçu conta para Schmidt, ou estará no mercado até ao último dia, sendo dada primazia a Prestianni para jogar nas costas do excelente Pavlidis? Será possível que o Benfica pretenda jogar em pressão alta quando Di María ocupar o flanco direito? Arthur Cabral e Neres são para ficar ou partir?
Como se vê pela amostra junta, não faltam interrogações quanto à forma que o Benfica 2024/25 vai assumir. E, embora já a partir de Famalicão as coisas passem a ser a doer — para o bem e para o mal —, será preciso aguardar pelo fecho do mercado para se perceber o rumo desportivo de um clube que tem no entusiasmo dos adeptos, traduzido na lista de espera para os Red Pass, a sua principal riqueza, que não tem cláusula de rescisão, nem é passível de ser transferida.
Estreia de sonho de Vítor Bruno
Costuma dizer-se que nunca há uma segunda oportunidade para deixar uma primeira boa impressão. Ora, na estreia oficial como treinador principal, e logo num clube com o peso do FC Porto, Vítor Bruno viveu em Aveiro uma jornada que nem o mais arguto dos guionistas de Hollywood ousaria propor para a sétima arte.
Sim, de facto o triunfo dos dragões sobre o Sporting campeão nacional foi de filme , e teve em grande parte o dedo do realizador. O primeiro mérito de Vítor Bruno foi o de não entrar em pânico quando pela mente de muitos terá passado a ideia de que estaria a caminho uma goleada histórica; o segundo residiu no facto de a sua equipa nunca se ter desunido (passado o desacerto inicial, devido em grande parte a erros individuais), nem ter perdido a ideia de jogo que tinha para a final da Supertaça; o terceiro mérito foi mental: logo que a fífia de Debast devolveu os dragões à disputa do resultado, a equipa acreditou que era possível dar a volta ao destino e acabou por consegui-lo; finalmente, para completar o poker, o quarto mérito esteve na forma pragmática como abordou a vantagem, defendendo com unhas e dentes o que tanto trabalho tinha dado a conquistar.
O que o futuro trará, não sei. Mas sei que Vítor Bruno, André Villas-Boas e a nação portista nunca esquecerão a noite de 3 de agosto de 2024, em Aveiro