SE há uma máxima que diz que, no futebol, Deus está sempre (eu acho que sempre não mas quase sempre sim…) ao lado daqueles que têm o melhor treinador, isso não bastou para que, desta vez, o FC Porto ganhasse o campeonato ao Benfica - porque o Benfica, mesmo não tendo (nunca) Roger Schmidt a nível superior a Sérgio Conceição, teve durante muito tempo Roger Schmidt ao nível de Sérgio Conceição (sem que Sérgio Conceição tivesse, porém, a sua equipa ao seu nível…) Ou seja, se Sérgio Conceição não ganhou o campeonato mas ganhou tudo o resto - e, acima de tudo isso, voltou a mostrar o que vem sendo (desde o seu primeiro dia no Dragão): que é o melhor treinador do mundo… para o FC Porto. Sim, é o melhor treinador do mundo… para o FC Porto - e o melhor treinador do mundo… para o FC Porto porque não há (de momento) nenhum outro treinador capaz de dar ao futebol do FC Porto o «espírito de Pedroto» que transformou o FC Porto no que o FC Porto se tornou (com Pinto da Costa à sua cabeça). É verdade: de quando em quando, Alcino Pedrosa (aparece a lembrar-me a afirmação de Brian Clough (um José Mourinho antes de José Mourinho rasgar a eternidade): — Existem treinadores que levam a invenção tão longe que até se iludem pelos seus atos, não conseguindo ver o que realmente fazem… lembrando-me também que, ao exclamá-lo, Clough nunca deixava de pôr José Maria Pedroto no perfeito contraponto desses «treinadores inventores»: — Mr. Pedroto, capaz de fazer e refazer equipas, era um brilhante criador, criador que construía sistemas de jogo e estruturas impressionantes, fazendo crescer os seus jogadores para além deles… Nenhuma dúvida: há esse Mr. Pedroto em Sérgio Conceição (nisso e em mais) - havendo em Sérgio Conceição ainda outro mérito (que o torna o melhor treinador do mundo… para o FC Porto): as «invenções» que tem de fazer para compensar jogadores nucleares que não lhe dão ou que lhe tiram (como se fossem anéis que se vão para que fiquem os dedos…) - nunca o iludem nos seus atos e nunca são em vão porque ele vai metendo nesses «jogadores que inventa» o espírito (de galhardia e luta, de esperteza e matreirice…) que os torna (a todos) muito melhores do que aquilo que se imaginava que eles pudessem ser (e havendo nisso muito de Mourinho também - nunca ninguém fez o que Sérgio Conceição já fez: tanto com tão pouco...) É, Jorge Valdano afirmou-o: — Um bom treinador consegue que os seus jogadores acreditem nele, um excelente treinador consegue que os seus jogadores acreditem neles próprios… e, mais do que conseguir que os seus jogadores acreditem neles próprios, Sérgio Conceição consegue que eles acreditem neles próprios e que joguem todos os jogos com o «espírito de Pedroto» (à… Porto) - com esse espírito que, ainda agora, levou (surpreendentemente ou talvez não) a que, em plena Assembleia Geral do Benfica, um seu sócio tenha lançado remoque (ou talvez pior) ao «medo» e à «ansiedade» com que o «Benfica joga frente ao FC Porto na Luz»… Pois foi: Jorge Valdano também o afirmou: — No futebol, transmitir uma boa emoção é mais eficiente do que explanar uma ideia, boa ideia de jogo até… e, se a ideia de jogo que Sérgio Conceição é quase sempre muito boa (e nunca fechada em inflexibilidades táticas) ainda melhores são as emoções com que ele embrulha a ideia de jogo (consoante o adversário e aquilo que o jogo pede - ou vai pedindo…) Claro, isso há muitos treinadores que o poderiam fazer no FC Porto (e, por exemplo, Roger Schmidt fê-lo no Benfica - perfeitamente e num ápice…) - o que eu duvido é que possa haver alguém a fazer no FC Porto aquilo que Sérgio Conceição faz (por tudo aquilo que já disse - e mais que poderia dizer). Por exemplo, mudar as atitudes dos seus jogadores dentro das cabeças deles para que eles sejam capazes de mudar as atitudes dos seus pés no campo (jogando à Porto) - lutando, ganhando. Ou então construir uma equipa dentro da sua cabeça cheia de sonho sem deixar que os seus jogadores levem (à Porto…) a obra mais além, na ideia de que nenhum deles é tão bom como todos eles juntos - lutando, ganhando. É, nisso (e mais) há, encarnado no Sérgio Conceição, o «espírito de Pedroto» (esse espírito que se vê em quem não se limita a ver a bola em jogo) - o espírito do treinador que nunca se desfaz de uma ambição ganhadora e rapinante, num jogo de espelhos (e nunca de sombras) a refletir a personalidade do treinador. E é por isso, pois, que ele é o melhor treinador do mundo… para o FC Porto. E, podendo não ser tão bom noutro lugar qualquer, outra certeza eu tenho: sem Diogo Costa, sem Otávio, sem Taremi, sem Pepê (sem um ou mais deles) o FC Porto ficaria, obviamente, mais fraco. Mas, mesmo com eles (todos eles) muito, muito, mais fraco ficaria sem Sérgio Conceição.