O desporto, com destaque para o desporto de elite e em particular para o futebol, tem-se tornado um negócio multimilionário, que tem investido cada vez mais na quantidade de jogos por época. Esta época têm sido diversos os atletas de renome internacional a alertar para a sobrecarga que os atletas têm estado submetidos.Independentemente da expertise de cada atleta, os jogos estão sempre associados a estados emocionais de alta intensidade que trazem picos hormonais. Para que corpo e mente dos atletas estejam preparados para a competição o organismo liberta elevados níveis de cortisol, de adrenalina e noradrenalina. O facto de existirem jogos com uma frequência muito curta leva a que o organismo não consiga metabolizar (eliminar de forma natural) estas substâncias levando a uma acumulação extraordinária. Ao longo do tempo, estes níveis elevados enfraquecem o sistema imunológico, provocam inflamação sistémica crónica, que aumenta a probabilidade de contração de lesões e prejudicam a recuperação muscular, provocam fadiga crónica e reduzem a qualidade do sono (elemento essencial para recuperação e metabolização das hormonas em excesso).Para além do impacto físico, a sobrecarga hormonal também provoca alterações ao nível do funcionamento cognitivo e comportamental. Diminui a concentração e aumenta a irritabilidade. Estas consequências diminuem o desempenho dos atletas na medida em que os torna mais lentos na tomada de decisão e menos focados aumentando a probabilidade de erros e ainda uma maior probabilidade de comportamentos agressivos. Esta alteração também torna os atletas indiretamente mais suscetíveis de contrair lesão.Do ponto de vista da saúde mental, os níveis elevados de cortisol, adrenalina e noradrenalina condicionam a produção de serotonina e dopamina, neurotransmissores associados ao bem-estar e à motivação, o que irá contribuir para a desmotivação e a médio longo prazo poderá evoluir para sintomatologia depressiva ou burnout. Consequências que podem ser ainda mais evidentes se o atleta atravessar mesmo períodos de lesão, quebra de desempenho e não concretização dos objetivos.Em síntese, a sobrecarga a que os atletas estão expostos tem consequências do nível físico, mental e também cognitivo. Esta estratégia de negócio, alicerçada no aumento incessante de competições e jogos, revela um frágil índice de sustentabilidade, pois ameaça os pilares fundamentais que sustentam o próprio espetáculo: os atletas. Estes não são máquinas e a sua exploração excessiva conduz inevitavelmente ao desgaste, gerando custos elevados, sobretudo para os próprios.