Como enfiar o barrete
F OI publicada a primeira versão dos Estatutos do Sport Lisboa e Benfica para análise, discussão e edição (urgente) entre os sócios. Concluída a leitura repetida do documento e com base nos Estatutos em vigor, o primeiro pensamento foi ‘como tentar enfiar um barrete’. Mas só aos sócios mais distraídos. Aqui é essencial referir que a média de presenças nas AG ordinárias do clube não corresponde sequer a 1% do universo de sócios pagantes (excetuando eleições). Esta é a fotografia real do movimento associativo do SLB em muitos anos: um marasmo e afastamento malignos no interesse genuíno pela vida de uma Instituição a caminho dos 120 anos. Tal estado imputa-se aos dirigentes dos últimos 20 anos. Até com Vale e Azevedo se assistiam a AG dignas deste nome. Deve ser anulada uma redação de Estatutos que, por comparação aos atuais, torna ainda mais difícil o acesso de jovens com visão diferente e enérgica para a vida do clube. São disto exemplo a manutenção da inexplicável discrepância no número de votos entre sócios bem como o aumento para o dobro do número de votos necessários para pedir a convocatória de AG extraordinárias (de 10.000 para 20.000 votos). Mas há algo positivo: sente-se o cheiro do medo daqueles que alteraram a proposta da comissão nomeada para o efeito e pretendem que os novos Estatutos só entrem em vigor no próximo mandato. Foi indecoroso para a Direção do Clube ter-se tornado pública a manifestação dos próprios membros da Comissão contra esta redação e exigirem transparência. Há 8 dias, os media deram nota de uma única novidade (entre muitas alterações que afinal se apresentaram): a direção fica demissionária em caso de duplo chumbo nas contas. Isto é para inglês ver pois o 45.º da proposta refere que a direção pode corrigir o relatório de gestão e contas e submeter a uma nova AG passados 5 dias ou, se preferir, para uma AG mais tarde (sem estipular prazo) que funcionará das 8 às 22 horas apenas para votação e sem qualquer intervenção dos sócios. Este lápis azul tem uma contradição prática: no SLB vota-se o orçamento enquanto os sócios discutem-no. Com tanta limitação estatutária, os sócios vão continuar a manifestar-se a chumbar orçamento e contas.