Comissões e comichão
Pinto da Costa disse adeus à presidência do FC Porto, 42 anos depois (Foto GRAFISLAB)

Comissões e comichão

OPINIÃO07:30

Investigação de A BOLA traduz bem o estado em que chegara a SAD portista. Os sócios sabiam, mas não sabiam tudo. 'Estádio do Bolhão' é o espaço de opinião semanal do jornalista Pascoal Sousa

A investigação de A BOLA sobre as comissões pagas pelo FC Porto a agentes de futebol entre 2022 e 2024, muitas delas a roçar o absurdo, traduz bem o estado de dilapidação financeira em que estava a SAD, aliás patente na herança que Villas-Boas recebeu do «presidente dos presidentes» e que criou incerteza sobre a capacidade dos azuis e brancos de sequer reunirem condições para respeitarem os critérios da UEFA no que respeita à inscrição da equipa nas provas europeias.

Mais de 35 milhões de encargos com serviços de intermediação, comissões muito acima dos 10 por cento normais, e a prevalência de Pedro Pinho em muitos desses negócios durante aquele período de tempo, fizeram comichão em muitos associados. Mesmo não conhecendo ao detalhe a grandeza do fenómeno, muitos sabiam que ele existia, que era um problema para o presente e futuro da instituição e que algo não batia certo.

As explicações foram sempre vagas e a conclusão do auditor das contas da SAD sempre a mesma: «Incerteza material que coloca dúvidas significativas sobre a continuidade do Grupo.» Essa incerteza vai manter-se por mais tempo, porque não é num estalar de dedos que se resolve um passivo de €500 milhões. Mas há uma certeza: foi traçado um caminho de sustentabilidade que, como se percebeu, em nada afetou a competitividade da equipa de futebol nem o ataque cirúrgico e bem sucedido ao mercado. Alimentar a ideia de que era preciso alguma loucura financeira para manter o FC Porto lá em cima não passou de uma teoria disparatada e que deu jeito a uns quantos agentes. E não só.