FIZ um simples exercício com base nas contas relativas ao 2.º semestre de 2022 das SAD dos três grandes, ainda que saiba que melhor seria fazê-lo com um ano ou época, para reduzir distorções sazonais sobretudo de proveitos ou custos de transferências de jogadores. Benfica, FC Porto e Sporting estão hiper-dependentes das receitas da Champions e das vendas de passes. Se excluirmos as competições europeias, os custos operacionais excedem em 70% o total dos proveitos operacionais! A maior fatia vai para custos com pessoal (sobretudo plantéis e equipas técnicas) que atingem 100% das receitas correntes (sem a UEFA)! Visto por outro ângulo - o da estrutura das receitas correntes, cf. ilustração - verificamos que a ‘Europa’ corresponde a quase metade do total (48%), com as receitas televisivas a chegar a 20% e as ‘outras receitas’ (onde estão patrocínios e merchandising) a outros 20%. Sobram 10% para as receitas de jogos (onde há diferença entre os clubes, com mais peso no SLB (15%) e menos no FCP (6%). Percebem-se assim os severos condicionalismos num mercado exíguo, muito dependente de vendas de direitos de atletas, com a consequente ‘instabilidade’ dos plantéis e a necessidade de ‘exportação’ por via da formação. Mas, repito, cruciais são as receitas da Champions. O dilema é o de ou se ganhar boa presença europeia, ou se terem de vender as pérolas da equipa. E, se a tal se for obrigado, necessário é refazer a equipa, até voltar aos ganhos na Europa. Nada de diferente do Ajax, que ou aparece em grande ou volta durante uns anos à incubadora de atletas. Ser campeão nacional é não apenas o título mais possível e almejado, mas o único que, proximamente, garantirá a fase de grupos na Champions. Sim, porque voltaremos à fórmula ‘1+ talvez 1’ em vez da actual ‘2+ talvez 1’. E, neste enquadramento, há a paradoxal circunstância de os grandes estarem também dependentes das prestações de outros clubes nacionais na Liga Europa e na Liga Conferência. Por outras palavras, a estabilidade possível das suas receitas europeias depende muito da prestação de clubes mais modestos. Em suma, um cenário que não permite - a não ser excepcionalmente - vida de rico com rendimento de remediado. Como conseguir um círculo virtuoso para evitar um círculo vicioso (ou danoso)? Eis a grande questão! FOLHA SECAAursnes entre prosa e poesia Aimprevisibilidade no futebol é, ao mesmo tempo, ansiedade e esperança, receio e estímulo, pessimismo e optimismo, sonho e brilho. A certeza não existe até que a incerteza se torne uma impossibilidade ou a esperança se funda com a realidade. Para o Benfica e no campeonato, ainda faltam 10 jornadas. Mas o certo é que a equipa de Roger Schmidt vem evidenciando uma capacidade, uma competência e uma autoridade que permitem crer no 38.º campeonato vencedor e fazem cair no cesto da inutilidade as palermices invejosas. E na Champions é conjuntamente com o Bayern e Man. City a equipa que ainda não perdeu qualquer jogo (12 jogos, 10 vitórias e 2 empates, 35 golos marcados e 10 sofridos!). Uma deliciosa combinação entre o jogo associativo, o desempenho individual e o companheirismo que é visível, numa construção futebolística entre prosa e poesia. Poderia escolher vários jogadores para ilustrar esta saúde desportiva. Mas, por agora, opto por um improvável e quase antes desconhecido eleito: Fredrik Aursnes. Nome complicado para um futebol tão inteligentemente simples, tão associativamente polivalente, tão suavemente forte, tão ofensivamente defensivo e defensivamente ofensivo, tão proficientemente omnipresente. Saiu Enzo Fernández, mas, felizmente, cá continua a melhor das aquisições do Benfica. Como já por aí se escreve nas redes sociais, o norueguês bem poderia ser definido com o título do vencedor dos óscares de Hollywood: Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo. Tal e qual, sem tiques de vedetismo, sem adereços folclóricos. Com inexcedível sentido profissional. JOGOS FLORAIS "Porque é que não se há-de vencer um clube mais rico? Eu nunca vi um saco de dinheiro marcar um golo"Johan Cruyff1947-2016 Chegar às meias é sempre possível. Cito o genial jogador neerlandês, ainda sem conhecer o próximo adversário do Benfica na Liga dos Campeões, que o leitor, quando ler este texto, poderá já saber qual é. Um sorteio com quatro ‘tubarões’ endinheirados e - surpreendentemente - três clubes italianos. Em qualquer caso, chegar ao próximo objectivo das meias-finais é sempre possível. O dinheiro só por si não dita os resultados. FAVAS CONTADAS 20. 20 milhões de euros, a maior transferência entre clubes portugueses, embora ainda por pagar na sua quase totalidade: David Carmo. O central quase não tem jogado. Estranho, não é? E já terá o Benfica recebidos os 100 mil do mecanismo de solidariedade? FOTOSSÍNTESE Por cá, transmitem-se agora jogos do excitante campeonato da Arábia Saudita. Há dias, no meu costumado ‘zapping’, passei por lá. Como se pode ver na imagem, fiquei esclarecido com o resultado em língua árabe, não distinguindo que clubes estão em confronto, entre vários ‘al… qualquer coisa’. Um futebol de primeira água, jogadores de ‘fácil’ reconhecimento onomástico, outros em pré-reforma. Lá joga agora Ronaldo. Confesso que até me custa ver o nosso craque a marcar golos em versão saudita, tal como se por cá estivesse a jogar na segunda divisão. Salvo o dinheiro que recebe, pois claro…