Cervejas e tremoços

OPINIÃO29.03.201903:00

Uma das grandes discussões do momento é sobre a reintrodução da venda de bebidas alcoólicas dentro dos recintos desportivos. A diretora executiva da Liga, Helena Pires, disse recentemente que ainda temos uma mentalidade de «cervejas e tremoços» quando vamos à bola - esta última expressão não disse a dirigente, mas acrescento eu. A verdade é insofismável. Temos mentalidade de cerveja e tremoços quando vamos aos estádios. Nada contra, desde que as cascas dos tremoços não sejam deitadas para o chão e alguém escorregue e se aleije ou o excesso de cerveja não leve a comportamentos altamente desviantes.

Mas basta ver o assunto que dominou os últimos dias do futebol nacional - a discussão (ou algo mais) entre Catão e Boaventura - e os episódios seguintes para nos apercebermos que a mentalidade vigente continua a ser a de tasca (rasca). A credibilidade de imensa gente há muito que escorregou nas cascas dos tremoços e continua caída sem que alguém a levante. E há outros tantos que se comportam como se a sua ação fosse conduzida pelo excesso de cerveja ou duma outra qualquer bebida alcoólica.

A Liga e a Federação passam mensagens positivistas em torno do futebol e o presidente deste último organismo até tem feito muitos apelos, cujos ecos ressoam nos muros da indiferença. Portanto, a única forma de acabar com isto talvez seja mesmo a intervenção governamental e, já agora, em alguns casos, judicial. Será feio? Sim; não é normal dum país evoluído? De acordo. Mas terá de ser, pois o futebol é uma indústria e porque pode ser rentável se idónea.

O tempo do romantismo da bola à volta dumas cervejas e de uns pires de tremoços já lá vai. Perdeu-se nos excessos das substâncias.