Buzinão do adeus
Uma situação grave como Alcochete não tornou uma das suas vítimas mais humilde
A SSISTIR ao treinador do Benfica declamar que devia existir um buzinão para lhe dar carinho, aos seus jogadores e ao respetivo presidente, leva-nos a pensar na dica que o baixinho Romário dirigiu a Pelé em 2005. O jornalismo desportivo fez bem ao frisar a bipolaridade de Jesus quando este isenta e culpabiliza a pandemia pelo caos que se vive na Luz. Recordar é viver e, para além do fracasso na Champions, da prestação nacional atípica e da Supertaça perdida após investimento sem paralelo, estamos perante um trabalhador dispensado em junho de 2015 pois o presidente decidiu assegurar um novo treinador para apostar naquela que viria a ser a estratégia futura: formação. Mais rocambolesca se torna a história quando o seu atual empregador deu entrada do processo 3587/15 no Tribunal do Barreiro para lhe tentar cobrar a módica quantia de €14 milhões. As comadres lá se entenderam mas isso não lhes confere o direito de esticarem a corda em relação aos sócios que serão os únicos que permanecerão, até ao final da sua vida, intrinsecamente ligados aos clubes. Jesus não pode aproveitar a ignorância da lei e devia ser-lhe dada nota do artigo 45.º da Constituição que concede o direito de manifestação e de reunião pacífica em lugares abertos ao público sem necessidade de autorização. Aparentemente, a vivência de uma situação grave como o caso de Alcochete não tornou uma das suas vítimas mais humilde. O treinador do Benfica desconhece a sorte que o protege por os sócios do clube não conseguirem fazer do insucesso desportivo a justa causa para a revogação dos mandatos dos órgãos sociais conforme obriga o n.º 2 do artigo 46.º dos Estatutos do Benfica. Uma coisa é certa: se a maioria do capital social da SAD estivesse diretamente nas mãos dos sócios do clube, já teríamos assistido a destituições ad nutum ao abrigo do 403.º do Código das Sociedades Comerciais que permite remover administradores do cargo sem justificação. Talvez esta solução, nas palavras do vice do Flamengo, não fosse «amadorismo» nem «burrice sem tamanho».