Boa ação de Pepê teve a recompensa previsível
Estoril soube retribuir; afinal, foi jogar ao Dragão de 'mãos largas'
A goleada do FC Porto sobre o Estoril, este domingo, fica marcada pelo gesto de desportivismo de Pepê, aos 23 minutos de jogo. Pedro Amaral chegou primeiro a uma bola em profundidade pontapeada por Diogo Costa e ficou com ela controlada, mas logo caiu agarrado à coxa direita, deixando Pepê sozinho, na área, com caminho para o frente a frente com Robles. O brasileiro perseguiu a bola, mas quando lá chegou viu o defesa do Estoril no chão e parou. «Na altura, o meu pensamento foi parar o jogo, porque também gostaria que o fizessem comigo», explicou Pepê no final.
O FC Porto perdia ali a oportunidade de fazer o segundo golo, mas ele não tardou. Porque às vezes as boas ações são recompensadas, nalguns casos até a dobrar. Cinco minutos depois, Boma, central do Estoril, retribuiu a gentileza de Pepê e fez uma assistência que deixou o brasileiro na cara do golo. Dessa vez, o extremo portista não parou, não tinha por que parar.
Este podia ser um texto sobre o fair play de Pepê — de aplaudir, embora a expressão «hino ao futebol», do treinador Vítor Bruno, me pareça exagerada; não foi a primeira vez que vimos uma situação assim, diria até que em mais de metade das ocasiões os jogadores têm reagido como Pepê reagiu, nalguns casos com o resultado desfavorável e o cronómetro mais perto do final (atenção, não estou a dizer que Pepê não faria o mesmo na Luz, com 0-0 aos 90+2'; estou certo que faria). Mas não é. É um texto sobre a recompensa dada pelo Estoril. Pelo coitado do Boma mas sobretudo pelo lirismo do treinador Ian Cathro.
A recompensa para o 2-0 até nem é o exemplo perfeito da forma como o Estoril foi jogar ao Dragão. Sim, é um mau passe em zona defensiva, mas é um atraso para o guarda-redes e seria expectável que Robles, naquela situação, desse um chutão para a frente. Mas isso seria uma exceção. Porque não só os canarinhos foram ao Dragão com um esquema defensivo ambicioso, que cedo se percebeu que era um convite à goleada do FC Porto, como quando recuperavam a bola tentavam sair a jogar a partir do setor defensivo. Respeito a estratégia, mas precisa de intérpretes com perfil. Que o Estoril não tem, pelo menos para fazê-lo contra uma equipa como o FC Porto.
Além do mais, chutões para a frente bem dados são boas armas atacantes. O Estoril podia tê-lo percebido quando Diogo Costa procurou Pepê e Pedro Amaral se lesionou após louco sprint.