O Atlético Madrid, goleado na Luz por 4-0 em outubro, vai numa série de 14 vitórias seguidas, lidera o campeonato espanhol, já tem 12 pontos na Champions e, no entanto, em Espanha, pelo visto e ouvido, perde-se muito tempo a falar do desastre do Real Madrid com o Barcelona e com o desastre das contas do Barcelona, das trocas e baldrocas nas inscrições de jogadores do Barcelona. Diego Simeone, treinador do Atlético Madrid, no meio disto tudo, foi questionado sobre se sentia que o trabalho dele estava a ser reconhecido. E respondeu, mais coisa menos coisa, que não vive do elogio nem da crítica negativa, que conhece o valor dele e é feliz simplesmente por ter encontrado jogadores que se entregam a um objetivo comum. Todos gostam de ser reconhecidos, Simeone também, e vem isto a propósito de lá como cá se ver o mal sem olhar ao bem. Não é exclusivo de Portugal ou Espanha, é próprio da natureza humana, uma doença da qual, provavelmente, todos padecemos, com maior ou menor gravidade. O Benfica recuperou do erro da continuação de Roger Schmidt com a substituição por Bruno Lage e, não obstante ainda dominar nalguns espíritos, como o meu, a incerteza do que poderá produzir no jogo seguinte, aí está a lutar pelo título de campeão, em condições de continuar na Liga dos Campeões para lá da fase de Liga, qualificado para os quartos de final da Taça de Portugal e já com um troféu, a Taça da Liga. Neste caminho imperfeito de altos e baixos, alguma coisa boa terá sido feita. Desde logo a construção do plantel. Mesmo deficitário em algumas posições — já escrevi, só para começar, que lhe falta um bom médio à imagem do melhor Matic — tem o melhor plantel em Portugal, com mais e melhores opções. Dele ainda não foi retirado o melhor proveito e foi o próprio Bruno Lage a reconhecer que a equipa precisa de mais consistência. Manteve Di María mais um ano — só o melhor jogador da equipa, hoje incensado por aqueles que o quiseram destruir a cinzas na época passada. Mantém e talvez vá perder no fim da época o segundo melhor jogador da equipa — Otamendi, também vítima de pelotões de fuzilamento, provavelmente só valorizado depois de sair. Sem querer convencer quem convencido, mesmo com fragilidades, não custará reconhecer que alguma coisa terá sido bem feita. É sempre mais fácil deitar abaixo que elevar, não será agora que vamos mudar, e duas derrotas seguidas abriram caminho a ataques que deviam envergonhar mais os perpetradores que os alvos. Ninguém está imune a crítica negativa, será sempre bem-vinda quando honesta e, já agora, construtiva, mais difícil (pensando bem, talvez não) é compreender quem, sob o manto da circunstância negativa, não consegue esconder segundas intenções. É só triste. Todos os dias comemos o que está à frente do prato, esquecemos depressa o que foi o almoço ou jantar há três ou quatro dias, quanto mais há três ou quatro meses. Para o Benfica ter sucesso, Lage precisará, pelo menos e como Simeone, de jogadores que se entreguem com ele a um objetivo comum. Se no final da época houver banquete aparecerão todos para comer.