OPINIÃO DE RUI ÁGUAS Benfica reiniciou uma fase que se espera tão boa quanto a anterior
Visão de golo é o espaço de opinião semanal de Rui Águas, treinador e antigo jogador
A expectativa era grande no regresso do Benfica à Luz depois da primeira grande contrariedade europeia. Após esse jogo perdido, a sensação de poder voltar atrás, ao tempo mal passado, assaltava, imagino, a mente dos mais pessimistas. A boa, desejada e única opção era recomeçar energicamente um trajeto de recuperação pontual e mental, este sim o tema pretendido neste novo capítulo.
Grupos fortes com uma liderança inteligente ultrapassam melhor os piores dias, reagindo rápido, porque a atualidade não nos dá tempo a perder. O horizonte imediato traz novas e exigentes batalhas e são essas que agora valem.
O passo seguinte contra o Rio Ave trouxe uma entrada forte e eficaz da equipa que empurrou a visita para trás. Tal começo mobilizou desde logo os adeptos ainda mal refeitos da infeliz noite europeia, reiniciando uma fase que se espera tão boa quanto a anterior.
Lage decidiu, no rescaldo da derrota com o Feyenoord, premiar Niklas Beste pelo seu rendimento e bons serviços prestados nos últimos jogos, o que determinou a aproximação de Akturkoglu ao comandante do ataque Pavlidis.
Por outro lado, dando também força ao que tem transmitido frequentemente, o adversário seguinte poderá sempre ter influência nas escolhas do onze do Benfica para o novo desafio. Assim, a aposta em dois médios de indiscutível capacidade construtiva, Kokçu e Aursnes, foi também assumida, sendo interpretada de maneira convincente pela dupla eleita, dois dos motores da amplitude e dinâmica que a equipa conseguiu apresentar.
Golos aos pares
Os golos obtidos nesta clara vitória identificam processos que mesmo pouco treinados refletem algumas ideias diferentes das anteriores. Assim, quatro dos cinco golos obtidos resultam de envolvimentos laterais e cruzamentos para a área, uma raridade antes da mudança de comando técnico. Do lado direito nasceram o primeiro e terceiro golos. Já do lado oposto tiveram origem os golos da segunda parte.
Esta curiosa igualdade na contribuição dos corredores, espelha o equilíbrio que a equipa, toda ela, mostrou. A maior agressividade e presença na área que a nova posição de Akturkoglu veio criar, resultou também em três golos resultantes do aproveitamento de ressaltos, na zona mais próxima da baliza onde é bom aparecer.
Neste jogo, como em muitos outros, repetiu-se o fenómeno frequente dos golos que vêm aos pares: aos 12´e 16´ e aos 79´e 81´... E como é algo que se repete, não é por acaso. É a questão mental de que tanto se fala, a ditar as suas leis.
A equipa que sofre golo naturalmente treme e muitas vezes volta a sofrer, antes de se recompor. Já a equipa que marca é empurrada pela euforia do golo para repetir a façanha e repetir o festejo. Afinal é a felicidade aquilo que todos procuramos, no campo e fora dele.
Clássico
O jogo aéreo é um importante meio alternativo para fazer golo ainda mais quando as pernas se multiplicam na defesa das balizas. O Real Madrid é talvez o maior clube do mundo e como tal é representado por alguns dos melhores jogadores do planeta.
Mas fazer caber no mesmo onze Vinícius, Mbappé Bellingham ou Rodrygo ou ainda Endrick, não tendo nem no banco um ponta de lança, será compreensível? O cabeceamento é reconhecidamente uma das grandes armas de um ponta de lança. Imaginam algum dos talentos referidos a fazer algo parecido àquele portentoso cabeceamento de Lewandowski, que decidiu o clássico? Eu não.
Depois do grande Benzema, verdadeiro especialista da grande área, houve uma aposta tímida em Joselu, que entretanto saiu, mas ninguém entrou.
Numa fase em que jogar com os pés para um guarda redes parece ser mais importante que saber defender, será que ainda veremos, por exemplo o jovem Endrick, na baliza do Real? Era mais um talento que cabia...