O tempo é de apoiar Bruno Lage
Bruno Lage vinha de oito vitórias na Liga antes de empatar no último domingo na Vila das Aves (Foto: MIGUEL NUNES)

OPINIÃO DE VASCO MENDONÇA O tempo é de apoiar Bruno Lage

Selvagem e Sentimental é o espaço de opinião semanal de Vasco Mendonça, consultor de marketing

«Um futebol ofensivo, dinâmico, divertido, fundamentalmente um futebol que puxe pela bancada, é o que queremos.»

O seu a seu dono. Passaram alguns meses deste esta afirmação e não podemos dizer que o futebol ambicionado por Bruno Lage no dia da sua apresentação no Benfica tenha sido uma promessa vã ou uma ambição irracional. Bruno Lage sabia a quem dirigia essas palavras e era precisamente à bancada que queria deixar as suas primeiras palavras, a bancada que ele conhece bem, porque é benfiquista e porque foi a bancada que fez dele herói, primeiro, e vilão, até deixar o clube. Lage encontrou adeptos descrentes e angustiados, quase tanto como por alturas da sua saída, convencidos de que a época terminara quase antes de começar e desconfiados do que Lage lhes podia trazer, apesar de o sentimento geral ser um pior que está não fica.

Mas Lage encontrou também adeptos profundamente entediados com o jogo jogado, e conseguiu resgatá-los do estado catatónico em pouco tempo. Ao longo das semanas seguintes, aos poucos, o futebol atrativo foi aparecendo, nomeadamente nos pés de Di María, que não sabe jogar de outra forma, Akturkoglu, um reforço que saiu melhor do que a encomenda, e Carreras, o lateral espanhol que passou de flop a novo craque após meia dúzia de saídas virtuosas com a bola colada no pé.

Houve bom futebol e os golos voltaram a aparecer com mais frequência do que os lenços brancos. Houve golos para todos os gostos. Houve uma goleada épica ao Atlético Madrid que quase me atirou para aquela euforia da época de Schmidt em que tínhamos alegadamente tudo para ganhar a Champions, até a realidade nos impor um duro revés em forma de catennacio. Houve uma goleada ao FC Porto como não me lembro de ter visto, um perfeito esmagamento do adversário.

Essa noite alegrou os Benfiquistas e deixou os adeptos da equipa adversária num estado de profundo desânimo, prontos para crucificar o treinador e já saudosos do antigo presidente. Havia um campeonato que parecia perdido e que agora está perfeitamente em jogo. Havia uma Champions para disputar e a equipa permanece em condições de lutar por um lugar na prova. Havia um plantel esfrangalhado e mal planeado, ao qual Lage deu apesar de tudo um sentido e do qual tirou partido, o suficiente para agora, ironicamente, lhe exigirmos mais do que tem mostrado nestas últimas semanas.

A proverbial gota de água, que por enquanto é uma tempestade num copo, foi o empate de domingo frente a essa figura jurídica que dá pelo nome de AVS Futebol SAD, entidade acerca da qual pouco sei, a não ser que tem sede na simpática Vila das Aves e, consta, terá adeptos. Acresce que roubou pontos ao Benfica nos últimos segundos de um jogo em que, tal como os outros todos, isso não podia acontecer. Mais do que os pontos perdidos, o que incomoda mesmo é aquela sensação de que estávamos a pedi-las há sensivelmente meia hora. Não sei se o AVS Futebol SAD terá passado 30 minutos a encostar outro adversário na Liga portuguesa como o fez na noite de domingo. Foi, digamos, irritante.

É um facto que a equipa esteve a 30 segundos de levar 3 pontos, mas a verdade é que não fez por merecer a sorte que manifestamente não teve, e Lage voltou a mexer mal na equipa. Não há dois jogos iguais, mas este relaxamento, ou a nossa incapacidade de gerir os momentos de um jogo em que temos vantagem mínima, sentiram-se em certa medida nos jogos contra Farense, Arouca e Vitória de Guimarães. São adversários diferentes, com um denominador comum: capacidade de intranquilizar um adversário muito superior como é o Benfica. Ainda assim, não obstante o facto de aquela ideia de um «futebol divertido» ser agora uma memória longínqua, o facto é que nestes 4 jogos o Benfica fez 10 pontos. Não é perfeito, mas pode muito bem vir a chegar se a equipa fizer o que lhe compete no restante calendário.

De resto, neste momento só temos mesmo uma opção, que é apoiar Bruno Lage. Nenhum treinador faz um favor ao Benfica em aceitar treinar a equipa de futebol principal, mas há timings e timings. Lage aceitou regressar quando outros recusaram (compreensivelmente). Não teve oportunidade de planear a atual época, não tem um plantel à sua medida, não é responsável pelo planeamento danoso que originou vários dos problemas agora sentidos, e não teve uma enormidade de tempo para tornar esta equipa assim tão diferente do que era. Ah, e, apesar de tudo isto, não se queixou uma única vez.

O pedido que foi feito a Lage era o mais desafiante que existe no futebol: produzir impacto imediato numa equipa que só está bem se ganhar os jogos todos, ou se deixar sangue, suor e lágrimas no relvado a tentar lá chegar. Contas feitas, o balanço não é estruturalmente negativo. Se me perguntam pelo tal «futebol divertido que puxa pela bancada», eu direi que espero pelo seu regresso a qualquer instante, idealmente com a segunda linha do plantel a aparecer de forma mais consistente (é preciso que Lage evolua no seu aproveitamento destes jogadores).

É um facto que não temos visto o futebol divertido das primeiras semanas, mas não perdi a esperança de que o jogo bonito volte a aparecer. Bruno Lage já foi criticado esta época por teatralizar a comunicação com os adeptos, mas talvez estejamos a ver mal o filme. O que Lage faz de cada vez que clama por mais apoio das bancadas é mesmo pedir-nos que trabalhemos com ele, porque sabe que isto não é nem será fácil daqui até ao final. Vamos prosseguir em circunstâncias bastante imperfeitas e Lage já viu jogos do Benfica suficientes para saber que a bancada ganha jogos. Desta vez, talvez seja melhor deixar o cinismo fora dos convocados. Prefiro alguém que pede aos adeptos para se envolverem do que um treinador fechado sobre si mesmo e apostado em desprezar os adeptos do clube que representa.

Por agora, acho que é de seguir o conselho do Di María de cada vez que nos dirige um daqueles abraços largos. Façamos o mesmo e abracemos este treinador, até porque tão cedo não haverá outro. Em vez das dúvidas, é investir energias no reforço positivo e vermos onde isso nos pode levar. As contas, estas e todas as outras, fazem-se no fim. Até lá, digo ao leitor o que tenho dito a mim mesmo: deixemos as crises de fé para outro dia, acreditemos que a equipa vai emendar a mão já nos próximos 3 jogos - fundamentais -  e levemos o nosso Bruno Lage ao colo, rumo às conquistas que todos desejamos. Pode ser que dê.