Nada do que fará o favor de ler nas próximas linhas sobre Ángel Di María esteve condicionado por aquilo que aconteceu na final da Taça da Liga. Além do texto ter sido escrito antes de João Pinheiro dar ordem para o começo do Sporting-Benfica disputado este sábado em Leiria, era só o que faltava a opinião sobre um dos melhores jogadores deste século depender de 90 minutos e uns pozinhos que são uma gota de água numa carreira sénior iniciada a 14 de dezembro de 2005 no Rosario Central, suplente utilizado a partir dos 71’ num empate a dois frente ao Independiente. Sobre a longevidade nos grandes palcos — sempre com o estatuto de candidato aos Óscares, ora de ator principal, ora de ator secundário, o preço a pagar por brilhar ao lado de Lionel Messi (Argentina e PSG), Cristiano Ronaldo (Real Madrid) e Neymar (PSG) — estamos conversados. Dezanove anos a tirar coelhos da cartola, os mais recentes diante do SC Braga na meia-final da Taça da Liga, sobretudo aquele desvio de primeira para a baliza de Matheus, a responder a cruzamento a meia altura de Pavlidis, uma finalização que diz tudo sobre a capacidade técnica de um predestinado. Desde que regressou ao Benfica, no verão de 2023, Di María marcou 30 golos e assinou 19 assistências em 73 partidas, mas até às 19.45 horas deste sábado as águias, neste ano e meio, apenas conquistaram uma Supertaça Cândido de Oliveira. Sinal dos tempos deste futebol transformado em ciência oculta, discute-se, mesmo perante dados tão avassaladores, se El Fideo é solução ou problema. Seria o Benfica melhor sem Di María? Eis a mais paradoxal das questões, um hino ao absurdo. É fazer as contas e subtrair aos totais da equipa os números destacados um pouco acima. OK, sem ele o Benfica não jogaria com menos um, alguém teria de assumir esse papel relevante, presumivelmente um futebolista de qualidade a quem se poderia pagar aquilo que se pouparia com um Angelito diabólico — difícil é imaginar um extremo ao alcance dos cofres da Luz capaz desequilibrar tanto. O Benfica só pode ser Di María e mais 10, não convém é que seja Di María do primeiro ao derradeiro apito do árbitro e mais 10, um dos pecados de Roger Schmidt que Bruno Lage não corrigiu como julgo que deveria ter corrigido. Com as águias em vantagem sobre os bracarenses por 3-0, resultado construído aos 37’, justificava-se que o craque permanecesse em campo até aos 77’? «Um mês e já tens 37 anos? A sério?», assim reagiu Jorgelina Cardoso, mulher de Di María, após a exibição de quarta-feira. À beira dos 37 (celebra o aniversário a 14 de fevereiro), num plantel com inúmeras opções para os flancos, a gestão da condição física do fiel escudeiro de Messi na alviceleste — na Argentina surgem notícias sobre pedidos dos companheiros para que volte à seleção... — é a chave para o sucesso da época e, por arrasto, para o futuro do treinador português que sucedeu ao teimoso alemão. E sim, Di María já não consegue defender como, por exemplo, em 2013/14, quando funcionou quase como médio box to box do Real Madrid de Carlo Ancelotti. O segredo é que o resto da equipa compense o que ele deixou de poder dar — ao cuidado de Lage — porque a retribuição chegará com juros.