Benfica: António Silva 'joga' pela Juve
'Hat trick' é o espaço de opinião semanal do jornalista Paulo Cunha
1 A três dias do dérbi, jogo que pode marcar a ferro e fogo a Liga 2024/25, duelo que vale muito mais que três pontos, Jorge Mendes atirou a pedra sem esconder a mão. «António Silva quer a Juventus e a Juventus quer António Silva», disse o mais poderoso dos empresários de jogadores, na quinta-feira, à margem da gala dos Globe Soccer Awards, no Dubai, agora que o mercado de inverno voltará a agitar o mês de janeiro.
Tal como os treinadores sempre que acreditam no potencial das equipas que comandam, também Jorge Mendes gosta de pressão alta, asfixiante se possível, sobretudo quando se abre uma janela de oportunidade como esta que se escancarou desde que António Silva perdeu para Tomás Araújo o lugar de parceiro de Otamendi no eixo defensivo dos encarnados.
Aposta inesperada de Roger Schmidt em 2022/23, temporada de sonho que culminou com o título de campeão nacional e lhe garantiu o estatuto de revelação, o central de apenas 21 anos perdeu gás na época seguinte – participação no Euro-2024 desiludiu a fechar – e na atual vive à sombra de outra pérola do Seixal.
«Vamos ver o que o Benfica decide, pois tem a última palavra», assim constatou Jorge Mendes o óbvio, ou não estivesse o clube da Luz protegido por contrato até 30 de junho de 2027 e cláusula de rescisão de 100 milhões de euros.
Um valor para o qual remeteu Rui Costa a 30 de novembro, ao garantir que as principais figuras do plantel – presume-se que António Silva, internacional português numa posição cujas soluções credíveis às ordens de Bruno Lage se resumem a três, seja uma delas – nunca sairiam em janeiro com desconto. Declarações públicas do presidente do Benfica que não terão passado despercebidas a Jorge Mendes, mas que o agente não considerou suficientemente dissuasoras para evitar que pressionasse altíssimo.
O silêncio de António Silva é igualmente revelador do estado de espírito de um futebolista descontente por ver os jogos sentado no banco enquanto o tempo voa sem apanhar aqueles comboios que, dizem, só passam uma vez.
Aposto que António Silva se lembrará do trajeto de outro central, Ferro, ao serviço das águias, um (aparente) prodígio lançado por Lage em 2019, aos 21 anos, que, entretanto, não confirmou aquilo que se esperava dele e hoje representa o Estrela da Amadora.
A Juventus quer António Silva e tanto este como Jorge Mendes acompanham as pretensões da vecchia signora. A bola está a chegar a Rui Costa e desta vez a comunicação social não poderá ser acusada de publicar notícias de mercado para desestabilizar. A não ser que Jorge Mendes e António Silva tenham carteira de jornalista...
João Pereira: O amor é cego
2 Identificar as contradições de Frederico Varandas desde que escolheu João Pereira para suceder a Ruben Amorim até que deu o dito por não dito e apostou em Rui Borges, é um exercício penoso para o presidente do Sporting. A Lei de Murphy, viu-se, não se aplicou só ao agora antigo treinador leonino, abateu-se também em todo o esplendor sobre o líder do clube e da SAD.
«É uma nobreza de caráter e esta nobreza diz muito do que é o João e, enquanto presidente do Sporting, quero agradecer-lhe por tudo o que tentou e não conseguiu», disse Varandas, durante a apresentação de Rui Borges, referindo-se ao facto de João Pereira ter abdicado de qualquer indemnização:« Nem um cêntimo quis, só disse 'este clube deu-me tudo, não vai ter de pagar o que quer que seja'.»
Ao leme da equipa B, João Pereira aceitou um «presente envenenado» e pouco depois vê-se no desemprego. O amor é cego, diz o povo. João Pereira ama o Sporting e só essa cegueira justifica que abdique dos montantes a que justamente teria direito.
Amorim será diferente?
3 Que têm em comum David Moyes, Ryan Giggs, Van Gaal, José Mourinho, Solskjaer, Michael Carrick, Ralf Rangnick, Ten Hag e Van Nistelrooy? Uns na qualidade de treinadores principais, outros como interinos, todos acreditaram ser possível triunfar em pleno no Manchester United pós-Alex Ferguson.
«Se eu não ganhar, independentemente de terem pago a cláusula, estarei em perigo como todos os treinadores», afirmou Ruben Amorim, selado frente ao Wolverhampton o quarto desaire nos últimos cinco jogos.
O ex-Sporting perde desafios mas não perde clarividência – por que razão, aos olhos de quem manda nos red devils, Amorim seria diferente dos antecessores em Old Trafford?