ACREDITO que o Benfica vai ser o próximo campeão nacional porque a ninguém passará pela cabeça que, nas quatro jornadas por realizar, seja tão irresponsável que esbanje a preciosa vantagem pontual que detém. Santa paciência, admitir perder mais quatro pontos e deixar fugir um título que lhe escapa desde 2019, além de intolerável, implicará a escolha de outro plano, seja ele qual for, na certeza de que o atual ficou esgotado. Este é o ano um de Rui Costa e apesar de alguns percalços a verdade é que as coisas têm corrido melhor do que o adepto mais exigente estaria à espera, com a virtude de voltar a unir a grande família benfiquista. Agitar a bandeira da recuperação do estatuto europeu do clube foi a primeira e relevante medida de quem conhece o caminho para encontrar o prestígio perdido. Estão reunidas as condições para se abraçar a felicidade e manda a prudência que se concentrem todas as energias no momento presente, aceitando as fraquezas do plantel que ainda não foi possível eliminar, mas colocando o acento tónico na sublimação das suas qualidades que, apesar dos excelentes desempenhos, com particular realce na Liga dos Campeões, ainda não deram o sumo que o grupo tem para dar. CONVÉM ter memória e basta recuar a julho/agosto ao ano passado para recordar o que foi a preparação da temporada. Roger Schmidt teve dificuldades em movimentar-se por entre uma pequena multidão de jogadores que era preciso encolher a todo o custo, libertando-a de gorduras dispendiosas e prejudiciais, que o mesmo é dizer libertar o clube de gente vulgar que foi engrossando um quadro de profissionais formado sem critério e sem valorizar o mérito. Em face do contexto, foi avisada a preferência de Rui Costa por um estrangeiro, ainda por cima alemão e que se está nas tintas para as nossas invejas de bairro. É um treinador de convicções, o que é bom. Com um plantel apenas remediado na relação qualidade/quantidade, Schmidt engendrou uma solução notável e frutuosa que foi projetada em redor do pilar central chamado Enzo Fernández. Os resultados são elucidativos. Sem ele, porém, manteve o desenho tático e aproveitou a embalagem adquirida que, naturalmente, foi perdendo fulgor, até ficar sem ar para continuar em ritmo acelerado. Apesar disso, Schmidt manteve o plano, sempre em frente e sempre com os mesmos, ou quase. O que também se entende porque, verdade, verdadinha, falta o resto da obra, ou seja, dar à equipa o plantel que ela ainda não tem. E como não tem, é preciso revelar ousadia, inventar alternativas e ir à luta. BARCELOS foi um teste de risco, e mais arriscado ficou quando o treinador fez subir ao palco a dupla João Neves-Florentino no espaço central do meio-campo, ficando de reserva Chiquinho, o qual, ironia das ironias, entrou e marcou. O SC Braga habita em patamar mais elevado e creio já não ter segredos para Schmidt, que duas vezes o defrontou e por duas vezes perdeu, em dois jogos com história. O primeiro assinalou o início do conflito com Enzo Fernández e destacou a exibição de Ricardo Horta (autor de dois golos), que continua a dar cartas e a sublinhar o que poderá ter sido o grande erro estratégico de Rui Costa ao não concretizar a transferência ansiada pelo treinador alemão por causa de uma aparente birra de trocos, em contraposição, por exemplo, à generosidade revelada mais tarde na aquisição de dois nórdicos, nada baratos, e que, no último fim de semana, não foram suplentes com o Gil Vicente, nem utilizados na formação B, mal classificada na Liga 2, como constou. O segundo, determinou o adeus da águia à Taça de Portugal. ROGER SCHMIDT sabe que o SC Braga está em alta e sabe que joga bem. Sabe também como irá apresentar-se e sabe ainda que deve ter-se esgotado a paciência nas bancadas. Mais pesadelos? Não. Por outro lado, depois de uma visita ao Dragão e de duas a Alvalade, que corresponderam a três derrotas dos bracarenses e outras tantas goleadas (catorze golos sofridos), os benfiquistas levarão muito a mal se o seu treinador voltar a não levar a sério os trabalhos de casa e não procurar um explicador para o ajudar a perceber a matéria. Não é pecado, nem fica mal. Nem a ele, nem a alguns jogadores. O jogo não vai decidir nada em termos de classificação final, mas perder pela terceira vez na mesma época com o SC Braga é capaz de irritar a Luz… ARBITRAGEM - Se alguma dúvida subsistisse, esta nomeação de Rui Costa para o FC Porto-Boavista é a prova que faltava. O Conselho de Arbitragem da FPF é um problema. Excluindo qualquer espúria intenção de criar dificuldades ao árbitro Rui Costa, só pode entender-se a sua nomeação para o dérbi da cidade do Porto pela completa ausência de sensatez. O presidente Fontelas Gomes tem utilizado o silêncio como instrumento de defesa. É com ele, mas um dia, mais próximo do que distante, perceberemos por que se esconde de tudo e de todos.