As mudanças no futebol

OPINIÃO21.07.202206:30

Nasceu na rua e não pode perder essa faceta que lhe continua a acrescentar momentos únicos de genialidade imparável

N UM tempo de incertezas, de inovações imparáveis, de contratações milionárias (que prometem muito ao nosso futebol mas só depois dos jogos é que se distingue o trigo do joio), não faltam elogios, esperanças e ambições, algumas poderão concretizar-se mas outras serão desilusões. Esta incógnita alimenta a paixão pelo jogo e potencia as melhores esperanças, antes do início do campeonato. Cada equipa apresenta os craques de quem se espera tudo. Entretanto, corre no vento que há novas regras da UEFA, para entrar em vigor em 2023/2024, como a eventual obrigatoriedade que permite participar nas provas da UEFA apenas os clubes com equipas femininas ou com apoios a essas equipas; o futebol feminino tem elevado potencial de crescimento global e pode transformar-se num espaço de investimento, com frutos certos e sustentáveis, como são notórios em Portugal. Obrigar é um método, convencer será sempre mais importante. Para já, valorizam-se craques famosos mas desconhecidos do grande público e tudo corre sobre rodas, embora com chicotada psicológica, como já se criou um hábito. Convém não menosprezar que a UEFA aprovou o novo modelo da Champions League.
É sempre útil entender a evolução para um desenvolvimento sustentado. Em 1955, a competição da Taça dos Campeões Europeus incluía apenas os campeões de cada país, em eliminatórias a duas mãos até à final, incluindo o campeão em título da época anterior. A partir de 1991 começou fase de grupos, com eliminatórias até à final. Entre 1991 e 1993, a seguir a uma fase de três eliminatórias, tinha lugar a fase de dois grupos, e só os dois vencedores atingiam a final. Em 1992, a competição passou a designar-se Champions League. Em 1994 incluíram-se as meias-finais. De 1994 a 1997 reduziram-se as eliminatórias e criaram-se quatro grupos. Em 1997 foram admitidos os campeões dos países e também os segundos classificados das principais ligas. Com os anos, esse número aumentou gradualmente para os países mais poderosos e criaram-se seis grupos. Em 2024/2025 serão 36 equipas a competir numa liga única, no sistema suíço: torneios com grande número de participantes, sem eliminar muitos no início. Não há divisão de grupos e nem todos se enfrentam, mas todos fazem o mesmo número de jogos, numa classificação de uma só liga, com as equipas a jogarem oito partidas (quatro em casa e quatro fora) com adversários diferentes, antes da fase do mata-mata. Serão acrescentados quatro lugares em função de classificações e percursos. Além desses, será acrescentada mais uma equipa, em função das realidades diversas. Todas as equipas completam os oito jogos, sem nunca repetir uma partida, entre os 36 clubes. Os oito primeiros classificados passam diretamente para a fase das eliminatórias. As previsões de receitas podem subir mais de 40%. A Superliga pode ficar somente em projeto, contudo, muito do que se vai passar confirma a força das Ligas mais poderosas (Big Five) e talvez aumente as diferenças em relação às outras. Vamos aguardar, observar e analisar. A mudança de formato também será aplicada à Liga Europa e à Liga Conferência. Num mundo cada vez mais incerto, ainda podem surgir alterações…
No congresso em Viena, a liderança de Aleksander Ceferin e as alterações no formato da Champions foram aprovadas. O vice-presidente Schinas afirmou que o sucesso comercial dos clubes mais poderosos deve apoiar os clubes sem privilégios, como princípio inclusivo de solidariedade. O presidente da UEFA afirma que a instituição não tem posição de monopólio, portanto cumpre as regras da concorrência europeia, com o argumento de que «ninguém está obrigado a disputar competições e que nenhuma federação é obrigada a ser membro da UEFA». Dizer que os clubes que surgem ligados à ideia da Superliga têm o direito de criar a sua própria UEFA, para disputarem competição diversa, pode ser provocação ou humor… Cada vez fica mais complexo o tema, porquanto as realidades têm tendência de repetição sistemática, pois os títulos europeus são disputados por um grupo muito restrito. Paralelamente, a UEFA vai distribuir 935 milhões de euros para o período 2024-2028, mais 21% do que o anterior, com o programa HatTrick VI. Divulgar que cada Federação poderá arrecadar até 17 milhões de euros em quatro anos é sempre uma boa promoção para conseguir maiorias, identificando áreas para investimento: formação de arbitragem e treinadores, infraestruturas e centros de treino... Os dirigentes das instâncias internacionais do futebol passaram a ter excessiva importância de decisão (recordemos que a FIFA já foi caracterizada por Poiares Maduro como ingovernável, não esquecendo os processos, demissões e prisões), embora se notem alguns sinais inquietantes de concorrência, perante investimentos com apoio de Estados. Política e futebol podem ser um vulcão intenso, como se constata pela divulgação de entidades dos direitos humanos, que denunciaram as condições brutais sobre os operários da construção dos estádios do Catar (a própria decisão da escolha da FIFA para o Mundial-2022 mantém muitas dúvidas, passados vários anos) como imagem de prepotência, intolerância e eventual desumanidade. Onde está a apregoada solidariedade? A Humanidade precisa de justiça e dignidade e o futebol tem esse dever para nunca esquecer que se trata de um jogo que vem do tempo longínquo, sem distinção de origem. O futebol nasceu na rua e não pode perder essa faceta que lhe continua a acrescentar momentos únicos de genialidade imparável. No passado, em 2015, no Catar, decorreu um Mundial de andebol, com naturalizações em tempo recorde; contudo a seleção francesa de andebol conseguiu manter o desporto na sua dimensão e venceu contra tudo e todos. Desta vez, os valores económicos em jogo, o tratamento inaceitável sobre os emigrantes que construíram os luxuosos estádios e até a mudança de opinião dos críticos mais duros (como foi possível, David Beckham?) transformaram opositores em defensores dessa competição, incluindo os milhões para desempenhar funções de promoção de algo que contradiz o futebol que praticaram, esquecendo os valores civilizacionais inerentes ao jogo e à solidariedade. O que virá depois para o futebol?


URGENTE 

A S palavras podem servir para unir ou para guerrear, para subverter ou para desviar atenções, alterando sentidos. Por isso, são usadas para influenciar adeptos, para mistificar desempenhos e cumprir objetivos definidos. Tornam-se virais e utilizadas como armas, mantendo conflitos que servem interesses e alimentam ódios que atraem frustrações. É urgente clarificar e pacificar o jogo, contribuindo para a sua elevação a patamares mais altos. O futebol nacional perde adeptos, a qualidade do jogo baixa, as insinuações causam danos de confiança e são urgentes planos para revitalizar o jogo e evitar os profetas da desgraça, quando os títulos fogem para outros emblemas. Há necessidade de envolver os responsáveis do nosso futebol e de promover a excelência da arbitragem como tarefa prioritária e indispensável. Exige-se responsabilização e prestação transparente de contas. O futebol vive uma conjuntura de extremos que pode ter influência sem precedentes nos clubes. A partir de agora, ou protegemos o jogo dos investidores sem rosto ou os clubes podem atravessar fases complexas. As tutelas do futebol não podem desperdiçar uma valiosa e longa herança. O expansionismo desmedido pode transformar a génese do jogo. Os adeptos vão ter de se unir para recuperarem uma palavra decisiva.
Aproximam-se eleições na FPF e simultaneamente levantam-se questões que não fazem sentido: alargar o número de mandatos. Nas Associações Distritais não haverá presidentes que estão há muitos anos a dirigi-las, talvez porque quem legislou se esqueceu de definir prazos?


REMATE FINAL

Francisco Conceição, recentemente transferido para o Ajax, passou a ser jogador do campeão dos Países Baixos. O médio ala campeão português, jovem de 19 anos, completou temporada e meia na equipa principal, com influência decisiva, tendo contribuído para a conquista do Campeonato e da Taça de Portugal (nos quais participou em mais de 3 dezenas de jogos, com golos decisivos e assistências fundamentais), incluindo a vitória contra a Juventus por 2-1, tornando-se no segundo jogador mais jovem da história do FC Porto a estrear-se na Champions. Na opinião de Dani, que também jogou no Ajax: «Acho que vai ter um futuro brilhante no Ajax».

Uribe, o médio do FC Porto, afirmou: «Estamos preparados para abordar esta nova época da melhor maneira. Sabemos que deixámos a fasquia muito alta na época 2021/2022, fizemos 91 pontos, um recorde que queremos bater nesta nova temporada, e esperamos que esta camisola nos traga muita sorte e muitos êxitos.»

Uma palavra de apoio especial aos nossos bombeiros, que todos os anos lutam arduamente para superar a ineficácia do Governo e diversas instituições.