Diogo Luís As inevitabilidades no Benfica
Depois da entrevista de Luís Filipe Vieira, foi a vez de Luís Mendes vir demonstrar que internamente, nos órgãos sociais e no interior do clube encarnado, existe uma dura luta de poderes e de egos. 'Mercado de valores' é o espaço de opinião semanal de Diogo Luís
No Benfica vivem-se tempos conturbados. Até às eleições a turbulência deverá continuar. Serão Bruno Lage e a sua equipa a definirem se as águas irão estar calmas ou se vão ficar mais agitadas, porque, no limite, é o sucesso no relvado que abranda ou aumenta a contestação.
A inevitável entrevista de Rui Costa
A palavra inevitável foi a que Rui Costa mais vezes usou ao longo da sua entrevista para justificar as saídas dos jogadores. Saída de João Neves? Por aqueles valores era inevitável! Saída de Marcos Leonardo? Por aqueles valores era inevitável! Quando começa a ser complicado justificar um mercado sem lógica, com entradas e saídas e sem um caminho ou racional definido, Rui Costa apresentou a inevitabilidade como justificação.
Foi ainda interessante o facto de ter considerado Marcos Leonardo como um suplente, dando essa justificação para ter aceitado a proposta do Al Hilal. A pergunta que ficou por fazer foi: se o Marcos Leonardo é visto como um suplente, e só estava no Benfica há seis meses, então por que motivo o Benfica pagou €20 M por um jogador suplente?
A saída de Neres acabou também por ter uma justificação curiosa. Rui Costa referiu que o jogador brasileiro era suplente e que demonstrou inconsistência. Certo, mas no reinado de Schmidt, tirando onze jogadores que jogavam sempre, quem é que demonstrou consistência? A segunda justificação é que Neres gosta de jogar no lado direito. Naturalmente que nessa posição joga Di María. Aqui surgem mais duas questões inevitáveis: fará sentido para o Benfica ter feito um esforço financeiro e renovado com o jogador argentino? Neres só jogava do lado direito ou jogou muitas vezes no lado esquerdo do ataque e com resultados muito positivos (exemplo o jogo com o FC Porto em casa)?
Por fim, e voltando a João Neves, todos percebemos, sem ser necessário dar essa explicação, que a venda do jovem jogador do Benfica foi uma inevitabilidade, mas por questões financeiras!!
As inevitáveis comissões
O tema das comissões é cada vez mais inevitável. Com os adeptos mais atentos a todos os pormenores do dia a dia dos clubes, este é um dos pontos que tem ganho muito destaque. Olhando para o exemplo de João Neves, pelas palavras de Rui Costa, o Benfica não o queria vender. Se assim foi, então devemos deduzir que o PSG apresentou uma proposta irrecusável. Assim sendo, por que motivo se pagou uma comissão de intermediação?
Segundo Rui Costa, estas comissões estão contratualizadas. Aqui surgem algumas questões: no caso de João Neves, que me recorde, a última negociação com o Benfica foi uma renovação de contrato. Será que foi nessa negociação que ficou contratualizado que o seu agente receberia 10% de intermediação de uma futura transferência, tivesse ou não interferência no processo? Ou será que a intermediação foi paga porque o Benfica passou um mandato a um agente para que este procurasse uma proposta interessante? O que me parece óbvio é que a intermediação foi paga porque foi o Benfica a procurar um comprador e não o contrário. Ainda nesta entrevista, Rui Costa referiu que nas compras o clube encarnado não paga nenhuma comissão de intermediação, o que o Benfica paga é uma percentagem sobre o contrato do jogador ao seu empresário.
Apresento um exemplo para que tudo isto fique bem claro. Na renovação de Roger Schmidt, o Benfica negociou com o empresário do treinador alemão. Este defendeu os interesses do seu agenciado e conseguiu um grande contrato. E quem pagou a comissão ao empresário de Schmidt? Foi o Benfica, ou seja, o Benfica esteve a discutir um contrato com alguém que lutou pelos interesses do seu agenciado e no fim foi premiado com uma comissão paga pela entidade com a qual esteve a negociar! O empresário trabalhou para o treinador alemão, mas recebeu a comissão do Benfica. Isto faz sentido?
A inevitável entrevista de Luís Mendes
Luís Mendes deu uma entrevista muito dura. Falou da realidade (que conhece por dentro) do clube encarnado e apontou o dedo a algumas pessoas. Fernando Tavares foi um dos visados, referindo que «denoto falta de rigor e transparência na gestão de agentes, na gestão de fornecedores e na gestão de patrocinadores». Falou do saco azul do andebol e de uma situação irregular (aparentemente grave) no basquetebol (que nunca saiu para a praça pública).
Apontou também o dedo ao Conselho Fiscal a quem entregou vários dossiers com informações que deveriam ter sido investigadas e que, aparentemente, ficaram paradas. Depois da entrevista de Luís Filipe Vieira, foi a vez de Luís Mendes vir demonstrar que internamente, nos órgãos sociais e no interior do clube encarnado, existe uma dura luta de poderes e de egos.
Visto de fora, parece que os objetivos pessoais, e as ambições individuais, se estão a sobrepor à missão de servir a instituição. No meio de toda esta divisão interna, todos percebemos duas coisas: a primeira é que, ao contrário do que nos querem fazer passar, a instituição é muito maior do que as pessoas que a servem ou deveriam servi-la; a segunda e mais óbvia é que no meio desta luta de poderes quem sai prejudicado é o Benfica.
A valorizar
Paulo Fonseca
Após um difícil inicio de época no Milan, Paulo Fonseca conseguiu duas grandes vitórias, uma delas frente ao eterno rival Inter, que lhe trouxeram maior tranquilidade.
A desvalorizar
Farense
Seis jogos, seis derrotas e troca de treinador. Saiu José Mota, entrou Tozé Marreco.