As crises, como as marés, vão e vêm
Quanto tempo demorará o Sporting a libertar-se do sentimento de orfandade deixado pela partida de Ruben Amorim? Continua líder mas precisa de recuperar a alegria e a confiança.
HÁ oportunidades, ao longo de um campeonato, que não podem ser desperdiçadas. Depois da derrota caseira do Sporting perante o Santa Clara, Benfica e FC Porto, principais perseguidores dos leões, ficaram constituídos na obrigação de vencer os seus duelos, os encarnados em Arouca, os azuis-e-brancos no Dragão, frente ao Casa Pia. Para já, a equipa de Bruno Lage cumpriu, aproximando-se do Sporting e colocando mais pressão ainda sobre João Pereira (pesada a herança deixada por Amorim, se será um ‘game changer’ só o futuro dirá…); e Vítor Bruno, por todas as razões e mais alguma, precisa de fazer o mesmo para exorcizar os fantasmas que assombram o banco portista.
É importante, contudo, que se relativize o que está a desenrolar-se, porque ainda estão por jogar 69 pontos para Benfica e FC Porto, e 66 para o Sporting, ou seja, nada fica decidido nesta altura. O que não quer dizer que não se perceba que o Benfica está mais equilibrado e coerente, o FC Porto vive dias de grande ansiedade e o Sporting mergulhou, de repente, num mar de dúvidas. De qualquer forma, aquilo que, pela qualidade do futebol, estava cotado como muitíssimo provável, o bicampeonato para o Sporting, desceu o ‘rating’ para ‘apenas’ provável. E continua a ser provável porque os leões não deixaram, de um momento para o outro, de ter um plantel nivelado por cima e uma série de rotinas bem oleadas. Poderão, quanto muito, experienciar um sentimento de orfandade.
TRÊS treinadores portugueses ergueram, por quatro vezes nas últimas seis épocas, a Taça dos Libertadores. No sábado, em Buenos Aires, Artur Jorge juntou-se a Jorge Jesus e ao bicampeão Abel Ferreira nesta galeria de notáveis, que tem um denominador comum, o SC Braga, e um rosto, António Salvador. O presidente dos arsenalistas sempre teve ‘olho’ para escolher treinadores, e se a este trio que tocou o céu na América do Sul, juntarmos outro ex-técnico contratado para o SC Braga por António Salvador, Leonardo Jardim, campeão da Champions asiática em 2021 ao serviço do Al Hilal da Arabia Saudita, o ramalhete ganhador fica ainda mais completo. Mas há mais, no que respeita ao emblema da Cidade dos Arcebispos: antes da era Salvador, passou, durante duas épocas, pelo estádio 1.º de Maio, Manuel José, tetracampeão da Champions africana, com o Al Ahly do Egito.
Se pensarmos ainda em nomes como os de Rúben Amorim, o treinador da moda a nível global, José Peseiro, vice-campeão da CAN com a Nigéria, ou de Carlos Carvalhal, Sérgio Conceição, Jesualdo Ferreira, e Domingos Paciência (segundo na Liga e finalista da Liga Europa pelo SC Braga), só podemos reconhecer o ‘toque de Midas’ de Salvador no que respeita à escolha de treinadores. Finalmente, uma curiosidade: ao percorrermos a lista de técnicos que venceram a Libertadores, encontramos outros dois com passagens por clubes da AF Braga: Abel Braga (Famalicão) e Paulo Autuori (VSC de Guimarães). É a chamada Champions sul-americana à moda do Minho.
PS – Também Zezé Moreira e António Lopes (Belenenses), Mirko Jozic (Sporting) e Luiz Felipe Scolari (Seleção Nacional), triunfaram na Libertadores.