As arbitragens no Mundial
Só no Bélgica-Canadá a equipa de arbitragem esteve muito abaixo do que se esperava e exigia
R EGRA geral, têm sido bons os trabalhos dos árbitros neste Campeonato do Mundo do Catar. Apesar de uma outra análise mais discutível ou de uma ou outra intervenção menos clara, a verdade é que apenas no Bélgica-Canadá a equipa de arbitragem esteve muito abaixo do que se esperava e exigia a este nível.
Janny Sikazwe (árbitro nosso conhecido por ter terminado, já este ano, um Tunísia-Mali aos 85’), não assinalou dois pontapés de penálti favoráveis aos canadianos em infrações claras e óbvias, que as imagens comprovaram terem realmente existido. No primeiro desses lances, um dos seus assistentes indicou erradamente posição irregular a um atacante do Canadá, que recebeu a bola após passe errado de... Hazard.
Há uma razão que pode explicar erros tão incomuns em alta competição: a inexperiência de quem estava em campo e em sala e isso será, em última instância, culpa do sistema de quotas que determina quem é nomeado para este tipo de eventos.
No encontro que colocou frente a frente belgas e canadianos, o árbitro principal era zambiano, o árbitros assistente em questão moçambicano e o videoárbitro venezuelano. Nada contra a competência técnica e integridade de cada um deles (obviamente), tudo contra o facto de serem designados, para provas desta dimensão, árbitros com ligas domésticas menos exigentes, com pouca expressão e sem o apoio corrente da vídeotecnologia. Com todo o respeito, uma coisa é arbitrar sem VAR na 1.ª Divisão da Zâmbia ou Venezuela, outra é dirigir jogos vistos por milhões de pessoas em todo o mundo, num palco onde desfilam estrelas como De Bruyne, Lukaku e companhia.
A pressão, a velocidade, a qualidade técnica, o mediatismo, o profissionalismo ou a maturidade competitiva. Tudo ali é maior e muito diferente do que aquilo a que estão habituados. Era expectável que surgissem erros, como é que venham a surgir outros em encontros dirigidos por juízes menos preparados, como os são os representantes da Arábia Saudita, das Honduras, do Ruanda, da Nova Zelândia, Japão, China e por aí fora.
Percebe-se a política subjacente às escolhas (a tal ideia de distribuição equitativa), mas tenho a convicção que nos melhores jogos têm que estar os melhores atores. Se as seleções são qualificadas após provarem serem as mais fortes dos seus grupos, se os jogadores são convocados por serem os melhores dos seus países... por que motivo não estão nestas provas os árbitros mais competentes da atualidade?
Alguém duvida que há, na Europa e América do Sul - continentes habituados a futebol de nível elevado - centenas de árbitros tecnicamente mais capazes do que muitos dos que estão agora no Catar?
Reparem a justiça destas nomeações, olhando para as quotas atribuídas a cada uma das seis confederações da FIFA: da UEFA foram nomeados onze (só do grupo de elite fazem parte 32); da Conmebol sete; seis da CAF; cinco da Concacaf; cinco da AFC e outros dois da OFC.
Consigo perceber que estes certames exijam algum jogo político, sempre necessário para equilibrar lados e deixar toda a gente feliz. Não consigo perceber que quem tem a responsabilidade de fazer cumprir as leis de jogo num espetáculo que vale milhões seja escalado não em função do seu valor, mas do país onde nasceu ou arbitra.
É demasiado mau e paga-se assim: no relvado e não só. Não há investimento na tecnologia que substitua a competência humana.