Árbitros a cumprir

OPINIÃO16.03.202106:00

Os números, factuais e objetivos, não enganam e a reflexão impõe-se

HÁ não muito tempo falei-vos aqui sobre aquela que devia ser preocupação importante no nosso futebol profissional: o facto de termos um dos mais baixos tempos úteis de jogo na Europa. Para isso muito contribui, naturalmente, o elevado número de faltas assinaladas por jogo.
Os números, factuais e objetivos, não enganam e a reflexão impõe-se.
Árbitros, jogadores, treinadores, clubes, organizações e até IFAB fazem parte do problema. Aliás, são o problema. Mas a boa notícia é que são também a solução.
Como? Muito simples: os árbitros têm que arriscar mais, apitar menos e deixar de ter critério ultra-defensivo; os jogadores devem ser ainda mais profissionais, abdicando de simulações, conflitos e protestos permanentes; os técnicos têm que deixar de pressionar desmesuradamente e arriscar táticas menos vocacionadas para o contacto e/ou perdas de tempo; os clubes devem cuidar melhor dos seus relvados e comunicar com menos agressividade para o exterior; as organizações devem garantir, via regulamentação, que qualquer tipo de ruído perturbador fora de campo seja severamente castigado; e o IFAB tem que criar regras objetivas que diluam quebras desnecessárias no tempo de jogo.
A verdade é que os árbitros já começaram a dar sinais evidentes de querer resolver a sua intervenção no problema: nas últimas duas jornadas, o número de faltas assinaladas por jogo (Liga NOS) diminuiu consideravelmente, fruto de uma abordagem menos picuinhas ao contacto físico. Falta agora que alguns jogadores não se agarrem à cara quando o toque é na barriga e que não existam ordens dos bancos técnicos para que os guarda-redes fiquem deitados no chão quando dá jeito. Falta ainda que se deixe de tentar condicionar, cá fora e com práticas de medo, o subconsciente de quem tem que decidir lá dentro.
Estruturalmente parece haver sempre algum receio em resolver este tipo de questões, mais práticas, que acontecem em campo. Para o exterior, a sensação que dá é que é uma chatice ter que lidar com questões mais terrenas, como se elas fossem uma pequena perda de tempo quando comparadas com questões maiores, mais políticas e externas ao jogo. A coisa devia ser exatamente ao contrário. Tudo o que realmente interessa no futebol acontece no interior das quatro linhas. Por muito que seja importante o que se cria cá fora, a lógica tem que ser de dentro para fora e não o inverso.
O curioso é que, na prática, esta questão em particular até se resolve com relativa facilidade. Basta que todos queiram.