Ahistória do futebol diz-nos que só há uma seleção contra qual a Alemanha sente mais dificuldades do que com a Itália. Trata-se do Brasil. Sim, houve o Mineirazo em 2014, porém a Mannschaft tem apenas 21,7 por cento de triunfos diante do Escrete. Já frente à Azzurra, o registo é apenas ligeiramente melhor (27%), seguindo-se França (31,3%). A discussão sobre táticas por terras germânicas foi praticamente inexistente até à viragem do milénio e quando alguém como Ralf Rangnick (sim, esse) explica na ZDF, em 1998, a sua visão - que abolia o líbero e a marcação individual e insistia na pressão como arma... ofensiva - nomes como Erich Ribbeck, o selecionador, que ficará ligado ao desastre no Euro-2000, e Franz Beckenbauer, o inventor da versão moderna do líbero, ridicularizam-no em público. A Alemanha sempre foi energia, força, resiliência e crença e a estratégia limitava-se a situações pontuais de marcação individual como, por exemplo, as de Lothar Matthäus e Diego Maradona nas finais dos Mundiais de 1986 e 1990. É verdade que Roger Schmidt faz parte do lado da Revolução, como discípulo de Rangnick e da Escola de Estugarda, mas quanta dessa arrogância do somos o que somos - curiosamente lema do Bayern - não está na sua ideia e na teimosia de não olhar para o adversário, apenas para si próprio. Já Sérgio Conceição, que obviamente é muito mais do que isso e não está longe de ser o melhor treinador português do momento, ainda não perdeu a costela italiana que ganhou por Parma, Lazio e Inter e usa-a na perfeição para esconder lacunas e moldar-se em função do rival. Mais do que banho tático, foi sim a tempestade perfeita para o portista. Já o alemão não a soube evitar. Ou talvez não quisesse. Ou pudesse.P.S. Chiquinho foi o melhor do Benfica. Mais uma vez. Mesmo que não o queiram ver. E que não seja Enzo.