Abre a boca e fecha os olhos
1.São vários os motivos pelos quais as pessoas podem abrir a boca. No sábado, em Alvalade, podem tê-lo feito por espanto face ao encolhimento de Marcel Keizer num jogo que o leão tinha de ganhar, tendo em conta os oito pontos de distância para o FC Porto. Depois, terão aberto a boca num longo bocejo em virtude da mansidão em que se tornou o encontro.
2.Tal como abrir a boca, também são diversas as razões que nos podem levar a fechar os olhos, nem que seja por instantes. Uma delas é quando ficamos encandeados por uma luz forte, ou quando temos de abrir e fechar várias vezes as pálpebras para focar algo. Foi o que terá acontecido a muitos quando leram que o Conselho de Disciplina aplicou uma multa de 14 mil euros e um ano de suspensão a Rúben Amorim por ter dado indicações no banco do Casa Pia. Podem dizer que está regulamentado, mas quando se verifica a discrepância para com as coimas aplicadas a treinadores da Liga, fica difícil de entender. «Abre a boca e fecha os olhos», era o que os nossos pais nos diziam para nos obrigar a comer algo de que não gostávamos. É o que acontece agora. Mas esta é difícil de engolir.
3.Quando se abre a boca, a tendência é para quase em simultâneo fechar-se os olhos - pode fazer o exercício, caro leitor. E quando temos os olhos fechados, não conseguimos ver o que está mesmo diante dos nossos olhos. É o que acontece quando lemos as reações de Benfica e FC Porto à prisão do alegado hacker dos emails, Rui Pinto - abrimos a boca e fechamos os olhos. Mas fechar os olhos também pode ser um sinal de que se está a refletir sobre um determinado tema ou num assunto em contexto mais alargado. De futuro, podem fechar os olhos se for para isto, mas não nos façam abrir mais a boca de espanto com tanto argumento, de um lado e do outro, desprovido de senso.