Abel e Amorim separados à nascença
Em São Paulo, gerou-se algum pânico assim que se soube que Rúben Amorim ia sair para o Man United. «Fica, por favor, Abel», 'gritou-se' nas redes sociais...
Rúben Amorim vai para o Manchester United. Seja amanhã, seja dentro de 15 dias, o certo é que vai. E vai a meio de uma época em que tinha a possibilidade de fazer história no Sporting, perante o vislumbre de conquista do título de bicampeão, que foge ao emblema de Alvalade há 70 anos — e que, na verdade, também será dele, caso os leões o alcancem no final de 2024/2025. O mero vislumbre dessa possibilidade é demonstrativo de que, sete décadas depois, algo está diferente no reino do leão.
E podem, até, ser muitos os fatores decisivos para tamanha mudança, mas, sem qualquer dúvida da minha parte, nenhum com o peso e influência do jovem treinador que, a 5 de março de 2020, soltou o famoso… «E se corre bem?»
Correu. Correu mesmo muito bem. Tão bem que um gigante europeu a precisar de ressuscitar das cinzas (a mesma necessidade que o Sporting tinha há quatro anos e meio) não hesitou em chegar a Lisboa e bater a cláusula contratual que permite levá-lo já para Old Trafford; tão bem que, entre sportinguistas, praticamente todos choram hoje a sua partida, mesmo que uns o considerem um «traidor» e outros sejam meramente agradecidos por tudo o que trouxe – porque Amorim não trouxe apenas futebol; trouxe também humanidade, um estilo de comunicação único e organização, desde as bases da pirâmide ao seu topo.
Terá tido, como o próprio confessou, condições únicas e invejáveis para trabalhar à sua maneira: «No sentido da estabilidade que tenho, isso ninguém tem. Em Portugal, ninguém tem. E no mundo também é difícil encontrar. Nesse aspecto sinto-me invejado porque é verdade. Não há nenhum treinador com esta estabilidade e com a mesma qualidade de trabalho, manter os jogadores, ter autonomia para fazer. Estou longe de decidir tudo aqui, mas sinto que sou ouvido em todas as decisões que interferem na equipa principal.»
É precisamente neste ponto que Abel Ferreira entra na conversa, ele que, ainda anteontem, celebrou quatro anos de Palmeiras, os mesmos quatro anos que Amorim celebrou de Sporting em março passado. E, tal como Rúben, também Abel é adorado quase como um deus no Verdão e também Abel elevou o clube brasileiro a patamares onde há muito não se movia, fazendo (as duas partes) juras de amor que aparentam ser eternas.
Já agora, tal como Rúben Amorim, também Abel Ferreira se estreou como treinador em ligas principais no comando do SC Braga. E também Abel tem um estilo comunicacional único, ao mesmo tempo que tem igualmente liberdade de ação e de decisão, sendo peça essencial em toda a estrutura.
Outra curiosidade a envolver os dois: Amorim fez até agora 228 jogos no Sporting (161V, 34E e 33D); Abel tem 290 no Palmeiras (168V, 69E e 53D). E mais uma: também Abel deixou um projeto a meio, quando saiu do PAOK no final de… outubro de 2020, para assumir o Palmeiras.
São várias as semelhanças e não passaram despercebidas nas últimas horas em São Paulo, onde, de súbito e sem notícias que propriamente corroborem o receio, se gerou uma onda de pânico nas redes sociais a apelar a que Abel Ferreira, por favor, não troque o Palmeiras pelo... Sporting — no qual, recorde-se, jogou entre 2006 e 2011; e no qual treinou juniores e equipa B, de 2011 a 2014.