A semana desportiva em revista
O poder da palavra é o espaço de opinião semanal de Duarte Gomes, ex-árbitro
I Federação Portuguesa de Futebol e Liga Portugal, orgãos que gerem o futebol em Portugal, prestaram justa homenagem ao antigo árbitro José Veiga Trigo, falecido recentemente. As duas entidades autorizaram a realização de um minuto de silêncio em todos os jogos da jornada passada.
O ex-internacional português, falecido na sequência de um AVC, foi um dos melhores da sua geração e deu muito à nossa arbitragem.
A sua presença, imagem e forma de impor respeito (em campo e fora dele) continua a ser vista como uma referência de credibilidade e liderança. Eram outros tempos, mais amadores e sem um terço das condições que existem atualmente, mas a qualidade inata, essa, estava toda lá.
Partiu um homem muito bom, de terra de gente muito boa. Que descanse em paz.
II Nuno Almeida, a quem tenho orgulho em tratar por amigo, optou por terminar a sua carreira no passado fim de semana. Fê-lo em Moreira de Cónegos, cidade que o viu nascer para o futebol profissional. O Nuno, mais do que um árbitro de enormíssima qualidade (claramente no top-3 nacional), é um ser humano do outro mundo. Uma pessoa divertida, culta, inteligente, séria, sincera e humilde. Advogado de profissão, chegou ao topo da carreira e por lá manteve-se num total de vinte e duas épocas. O seu compromisso, espírito de classe e capacidade de trabalho foram-se apurando com o tempo. É dos tais que envelheceu bem, quer em termos de qualidade, quer em termos de sensibilidade para a função. Um exemplo apenas para definir a imensidão da sua resiliência: durante mais de duas décadas, saíu da sua terra natal, Montegordo (Algarve), para dirigir jogos em todo o país. Para ele nunca foram apenas noventa minutos de bola. Foram quase sempre mais de mil, mil e tal quilómetros de ida e volta. Dúvidas? É só ver a que distância fica o Estádio do Moreirense e, poucos dias antes... o do GD Chaves. Um abraço enorme ao sócio e que o futuro lhe dê, como irá dar, tudo o que merece.
III No próximo fim de semana, a APAF vai realizar mais um Encontro Nacional do Jovem Árbitro, evento que reúne jovens árbitros de todo o país, na tentativa de dotá-los com ferramentas que lhes permitam absorver conhecimentos técnicos, táticos, humanos e de jogo. Estamos a falar de crianças, meninas e meninos, entre os 14 e os 18 anos. Essa será uma oportunidade única para lhes transmitir os melhores dos valores e lhes ensinar a nobreza que esta profissão tem no desporto em geral. Lá estarei, mais uma vez e com a alegria de sempre, a aprender com quem tem sempre tanto para me ensinar.
IV Há jogadores que ainda não perceberam que a simulação grosseira (e é só a essa que me refiro) é das coisas mais feias que um profissional pode fazer num jogo.
Quando um qualquer atleta de topo opta repetidamente por inventar uma situação que nunca aconteceu, só para tentar enganar quem decide, levando-a a tomar uma decisão que prejudica adversários, verdade desportiva e a essência do próprio jogo... algo está muito errado.
Muito errado. Será por imaturidade? Estratégia pontual? Mera chico-espertice? Todas as opções juntas? Nenhuma delas? Pouco importa. O certo é que, ao mais alto nível, os jogos são todos televisionados e a transparência das imagens desmonta, na perfeição, qualquer exagero, qualquer mentira, qualquer queda fabricada.
Fica mal, sobretudo ao autor da brincadeira. E se eles ainda não têm consciência disso, é fundamental que alguém lhes diga. Que alguém lhes mostre que esse tipo de artifício é a antítese do que define um desportista de eleição.
Simular é fazer batota e quem faz batota de forma padronizada, é batoteiro. Para quê estragar tanta qualidade técnica, tanta capacidade e talento?
E para quê se sujeitar recorrentemente ao julgamento público (e dos próprios adeptos)? Desportistas a sério são maiores, muito maiores, do que práticas pequeninas. É aprender rápido, mudar o chip e lavar a imagem, enquanto é tempo. E há sempre tempo.