A paixão não é paciente
Frente à Turquia não bastará a Portugal namorar o golo e a exibição
Depois de um Mundial de 2022 que frustrou os portugueses, a Seleção está na Alemanha a lutar por uma conquista como no Europeu de 2016, juntando no relvado uma das gerações mais talentosas, talvez a mais talentosa de sempre.
Roberto Martínez, selecionador de Portugal, batizou esta seleção de «Apaixonados», querendo com esse cognome homenagear a paixão com que não apenas os jogadores mas também os adeptos portugueses vivem o futebol.
A ideia foi novamente sublinhada pelo treinador no final da vitória por 2-1 frente à Chéquia, no primeiro jogo da fase de grupos deste Campeonato da Europa, em que a Seleção esteve a perder contra um adversário bastante mais fraco e só nos instantes finais da partida conseguiu dar a volta.
Houve coração com disciplina, diria então Martínez, elogiando a capacidade da equipa para nunca se desagregar e a vontade com que se lançou na parte final do desafio à procura do triunfo, que só surgiu graças a um autogolo e um golo do jovem estreante Francisco Conceição, aos 90+2 minutos.
Nada a apontar quanto à justiça do resultado, à organização de Portugal, ao comprometimento dos jogadores, e nem sequer à surpresa e acerto ou não da estratégia utilizada por Roberto Martínez, mas a quase totalidade do jogo, e as sensações que a equipa transmitiu, contrariam em certa medida a ideia do selecionador. Talvez tenha existido disciplina a mais no jogo com a Chéquia, até alguma passividade, ou demasiada paciência na forma como Portugal entrou neste Europeu. Aos Apaixonados faltou um pouco de paixão.
Para se chegar longe nas fases finais é preciso ser inteligente, claro que sim, mas também audaz e afirmativo; e Portugal, tendo essas características, não o foi neste primeiro duelo. Ganhou bem, mas sem chama, apenas ateou brasas que o Chico com o golo da vitória espalhou na exibição.
Hoje, o jogo é contra a Turquia e o nível de exigência aumenta.
Os turcos jogam mais do que os checos e nem se discute que são bem mais determinados no futebol que jogam. Desta vez, tudo o indica, a Portugal não bastará namorar o golo e o jogo, tem mesmo de haver paixão, criatividade para surpreender, capacidade para mostrar quem manda, frontalidade para assumir a genialidade das ideias de Bernardo Silva, Vitinha ou Bruno Fernandes, do capitão Ronaldo, ou dos jovens Francisco Conceição, do monstro físico que é Rafael Leão, da arte de Félix e do poder de fogo de Jota ou Gonçalo Ramos. E poderíamos continuar com os elogios.
Passar a fase de grupos é absolutamente obrigatório para Portugal. A força e poder motivador da palavra Apaixonados é discutível, mas a qualidade desta equipa seguramente não é.