NO contexto europeu somos dos países mais pequenos e com menor população. Este facto acaba por nos limitar em termos económicos. Por exemplo, o nosso tecido empresarial caracteriza-se maioritariamente por pequenas e médias empresas que têm a necessidade de procurar novos mercados (no exterior) para ganharem dimensão. A dificuldade em nos impormos face a outras realidades é enorme, porque temos menos recursos. O futebol, pela forma como nos conseguimos impor no mundo, acaba por ser um exemplo para muitas outras áreas. Neste desporto, que tanto gostamos, existe uma personalidade que se distingue de todos: Cristiano Ronaldo. ORIGEM NASCIDO na ilha da Madeira e de origens humildes, desde pequeno definiu o seu objetivo. Não estudou e seguiu a sua paixão. Por ela atravessou momentos difíceis, longe da família. Saiu da sua realidade bem cedo e veio para Lisboa, sozinho, com uma idade prematura. Foi percebendo o contexto que o rodeava e desenvolveu aquela que é uma das suas principais características: a força mental. RECEITA DO SUCESSO FEZ ESCOLA C RISTIANO RONALDO tem tido uma carreira incrível. Melhor marcador de sempre da história do futebol, melhor marcador ao nível de seleções nacionais, jogador mais internacional de sempre ou cinco Bolas de Ouro, são apenas alguns dos muito feitos que tem vindo a alcançar ao longo dos 21 anos em que é profissional. A disputa com Messi permitiu, a todos aqueles que gostam de futebol, assistir a dois jogadores com capacidade de se superarem ano após ano. Todo este sucesso está alicerçado na sua qualidade inata, mas também em muito trabalho e dedicação. A forma como sempre se preparou, cuidou da sua ferramenta de trabalho (o corpo), como se preocupou com os detalhes, como se foi adaptando ao longo do tempo à evolução do futebol e dos meios que estão à disposição, são grandes exemplos e fizeram escola entre os mais novos. Atualmente os jovens jogadores sabem que é possível ter uma carreira mais duradoura, mas que para a conseguirem têm de ser muito profissionais, fazer sacrifícios e cuidar de todas as áreas que envolvem a sua condição física e mental. O talento terá sempre uma percentagem importante no sucesso individual, mas é a atitude, compromisso, dedicação e força mental que permitem chegar ao auge e manterem-se nesse patamar. Numa fase em que CR7 e Messi começam a perder fulgor fruto da idade, começam a aparecer outros génios, que seguem a receita de Ronaldo, como Mbappé ou Haaland. Cristiano Ronaldo, 38 anos, é exemplo dentro e fora de campo, defende Diogo Luís PERSPICÁCIA EMPRESARIAL DE CR7 S E dentro dos relvados atingiu um patamar a que poucos chegaram, e que nenhum português tinha alcançado, a realidade é que fora de campo desenvolveu o que quase ninguém conseguiu. Conforme se foi destacando desportivamente, teve a noção do mediatismo e dimensão que foi ganhado fora das quatro linhas. Essa perceção permitiu-lhe desenvolver o conceito de imagem. Criou a sua marca. Aproveitou o desenvolvimento das redes sociais para se projetar. Foi alimentando os fãs e, com isso, alavancou o prestígio que tão bem foi conseguindo no mundo do futebol. Teve a clara noção de que podia ser muito mais do que um jogador fantástico. Desenvolveu a marca Cristiano Ronaldo, projetou-a e deu-lhe dimensão. Tornou-se no maior embaixador de Portugal no mundo. Numa fase em que se avaliam as pessoas pelos seguidores que têm nas redes sociais, até aí CR7 é o número um. Esta característica permite-lhe ter uma enorme influência. Se juntarmos todos estes ingredientes, percebemos a real dimensão de Cristiano Ronaldo. Não só será um dos melhores jogadores de sempre do desporto rei, como, mesmo depois de terminar a carreira, irá continuar a poder fazer a diferença. Se dentro dos relvados se tornou num exemplo para os mais novos, pelo profissionalismo que sempre demonstrou, fora dos relvados também é um exemplo a seguir, pela forma como conseguiu desenvolver a sua imagem e a transformou numa marca global. Não deixa de ser extraordinária a forma como um jovem de origens humildes, sem bases académicas, vingou nos clubes mais exigentes e, em simultâneo, teve a perceção do seu valor e o potenciou no mundo empresarial. QUANDO A MARCA É MAIOR QUE OS CLUBES PELA dimensão que tem, Ronaldo atualmente pode ter uma influência maior que muitos clubes mundiais. A forma como as empresas interagem com os consumidores tem vindo a ser alterada. Hoje em dia, a interação com fãs faz-se pelas redes sociais. Personalidades como CR7 continuam a ser muito atrativas para as marcas, pela forma como as podem potenciar. Jogadores como Cristiano Ronaldo juntam o útil ao agradável, com a capacidade de oferecer rendimento desportivo e, em simultâneo, a possibilidade de potenciar receitas fora do relvado. Seja com a venda de camisolas ou a atrair novos patrocinadores, estes atletas têm a capacidade de dar dimensão à imagem dos clubes. A dificuldade surge quando a principal mais-valia destes jogadores deixa de ser o rendimento desportivo. Por norma, esta situação surge no final da carreira. A consequência é óbvia. Quando isto sucede, os clubes que têm ambições desportivas e capacidade financeira para atrair estes ativos, colocam o foco na vertente desportiva e analisam a dificuldade de gerir o estatuto e a personalidade de jogadores como CR7. No limite, os grandes clubes procuram potenciar as receitas, mas colocam sempre, em primeiro lugar, o sucesso desportivo. CRÍTICA E ELOGIO Acrítica e o elogio andam de mãos dadas. Apesar de CR7 ser um exemplo para aqueles que querem ter uma carreira profissional no mundo do futebol e digno de admiração também pela forma como conseguiu potenciar a sua imagem, a realidade é que ninguém está imune à crítica. Acredito que ao longo destes 21 anos Ronaldo se rodeou de pessoas mais ou menos especializadas em diferentes áreas, de forma a poder tomar decisões conscientes e fundamentadas, em cada momento da sua vida. Um dos ingredientes que permitem a alguém atingir um sucesso semelhante ao de Ronaldo é ter a certeza de que as pessoas ao seu redor são independentes e não yes men. No que diz respeito a CR7 não me parece que seja o caso, até porque quem está à sua volta depende muito dele, o que, desde logo, limita a independência intelectual. Isto para referir que algumas atitudes recentes de Ronaldo não colocam em causa a carreira e a imagem que CR7 criou ao longo de muitos anos, mas é fundamental ter a noção que o seu contexto mudou. Nesta fase, Cristiano já não tem a mesma capacidade para desequilibrar desportivamente, como já teve. Essa perceção será determinante para que a marca CR7 continue a ser construída de uma forma consistente e com a sua imagem salvaguardada. Mais uma vez, as pessoas que estão ao seu lado, profissionais ou amigos, serão fundamentais para ajudarem CR7 a continuar a desbravar o caminho do sucesso. A VALORIZAR Luciano Spalletti. Conseguiu devolver a glória aos adeptos napolitanos, com um futebol atrativo e aglutinador. Há 33 anos que o Nápoles não se sagrava campeão. Conseguiu-o a cinco jornadas do fim da competição. Um ano depois de os adeptos lhe terem roubado o carro e exigido a demissão, faz história. A DESVALORIZAR Santa Clara. Nos últimos 21 jogos, uma vitória, quatro empates e 16 derrotas. O destino parece estar traçado. O rendimento desportivo é o reflexo de divisões internas e de uma época muito mal preparada.
