A inteligência de Rúben é a força do Sporting

OPINIÃO23.09.202107:00

Aprender sempre! A ideia que o treinador transmite à equipa, aos adeptos e a si mesmo é a chave com que o Sporting consegue abrir caminhos

NO final do jogo com o Ajax, depois de uma goleada de 1-5, que nos meus tempos de juventude se chamaria abada e baile, Rúben foi aplaudido pelos adeptos. Isto é algo que há muito não se via no Sporting, a união entre as bancadas, os técnicos, a equipa e a direção. Imune a lisonjas e a santificações, o treinador disse que tinha de aprender como jogar em partidas com aquele grau de dificuldade. Dias mais tarde, colocou em causa (no bom sentido, de refletir abertamente) se três defesas seria o melhor para uma equipa como a de Amesterdão.
No final do jogo no António Coimbra da Mota, crucial para uma equipa que tinha sido goleada a meio da semana, e depois de uma vitória, suada, por 1-0 sobre o Estoril, Rúben deixou claro que a equipa aprendera a lição de Famalicão; soubera ter calma, trocar a bola atrás e avançar com certeza de criar perigo. É este desejo, aliás partilhado com todos, de que há um rumo, um caminho e uma aprendizagem, que dá a confiança não só aos jogadores, como aos adeptos e aos dirigentes (como muito bem sublinhou há uma semana o meu consócio José Dias Ferreira, na Quinta da BOLA em que ambos participámos). Esse caminho não é feito apenas de glória e de fanfarras, estilo que será mais para outro género de treinadores, mas de desastres e escorregadelas, como já tivemos esta época.
Pela frente, temos já amanhã um encontro em Alvalade com o Marítimo, que tem mais equipa do que parece (empatou com o Porto e com o Famalicão, foi ganhar ao Belenenses SAD e perdeu com o Estoril e o Braga); e sobretudo em Dortmund, com a equipa da cidade, o Borussia (que aliás é uma antiga designação de parte da Alemanha).
Na sexta-feira, frente à equipa do Funchal, a nossa obrigação de vencer é total. Não se pode colocar em dúvida que a disparidade das equipas é enorme e a vantagem está toda do lado do Sporting. Mas não se pode esquecer que as restantes formações já sabem como se joga em Alvalade, e vão criando cada vez mais dificuldades e explorando mais as fraquezas. É por isso que aprender é fundamental. Para poder surpreender e apanhar o adversário nas armadilhas que nos quer colocar.
Já contra o Dortmund, terça-feira, a conversa é outra, completamente diferente.


DAVID E GOLIAS

SE o Ajax foi o que foi, o Dortmund seria de fugir; ou seja, se a lógica existisse no futebol do mesmo modo do que na matemática, se o Ajax é clube para marcar cinco golos ao Sporting, em Alvalade, o Dortmund teria equipa para dar sete ou oito no seu estádio. Felizmente, nada disto é assim. O jogo contra o Ajax foi excecional, daqueles que acontecem, mesmo a grandes clubes com muito mais experiência europeia do que os Leões. Por exemplo, em agosto do ano passado o Barcelona (a jogar no Estádio da Luz, por causa da pandemia) foi goleado por 8-2 pelo Bayern de Munique, equipa que lidera o campeonato alemão com mais um ponto do que o Dortmund. Ora, fazendo meros cálculos de regras de três simples, não sei de que forma poderíamos sair da Alemanha.
Porém, cá está, podemos aprender que não se joga na Champions como na Liga Portuguesa. Desde logo, há duas vertentes completamente diversas: a primeira é que se tem de jogar muito mais rápido, porque o futebol português é extraordinariamente lento quando comparado com o futebol das principais ligas - incluindo a francesa e italiana. Basta ver jogos de Espanha, Inglaterra, Alemanha para o confirmar; em segundo lugar, os árbitros não são dados a apitar por dá cá aquela palha, ao contrário do que se passa no campeonato português, com jogos constantemente interrompidos pelo apito de quem - salvo raras e honrosas exceções - parece querer ser a figura principal da partida.
De qualquer modo, e mesmo aprendendo tudo o que há a aprender, uma equipa que tem Haaland, Belligham ou Malen à frente, será sempre uma equipa perigosa. Quando, mesmo com otimismo, se olhou para o grupo do Sporting, não era exigível vencer em Dortmund. Mas não há forçosamente que perder perante o colosso. A astúcia, por vezes, faz milagres, como na história de David contra Golias. E astúcia é algo que não falta a Rúben. A ver vamos, não poderei dizer cheios de esperança, mas com a certeza de que não deixaremos a imagem que deixámos contra o Ajax.  
Neste grupo há ainda o Besiktas, clube turco que na primeira jornada perdeu em casa (1-2) contra o Dortmund. É curioso verificar como o Besiktas teve bastante mais posse de bola, fez menos faltas, mas só conseguiu marcar o golo de honra uns segundos antes do apito final. É contra os turcos que o Sporting tem de ser melhor a menos que, como algumas teses em que não creio defendem, seja do seu interesse dizer adeus à Europa, logo após os seis jogos da fase de grupos.
Uma última nota europeia para referir que Porto e Benfica têm os seus calvários. Os portistas contra o Liverpool e os da Luz contra o Barcelona.
Enfim, nenhum encontro vai ser fácil na próxima jornada da Champions. Será preciso muito jogo, ou muita sorte, para arrancar uma vitória portuguesa.


É ASSIM, DONA DOLORES!

OS jornais encheram-se com declarações de Dolores Aveiro, que terá pedido ao filho Ronaldo para ainda jogar no Sporting, antes de acabar a carreira. Nunca pensei partilhar tanto de uma opinião da Dona Dolores, mas creio que qualquer sportinguista concorda com ela neste aspeto. Ronaldo, tendo ido para o Manchester United, parece outro, mais novo do que os anos em que jogou na Juventus. Quem sabe se não rejuvenescerá mais ainda caso venha para casa, a sua casa. Apesar de o campeonato português ter defeitos que não serão do agrado de Ronaldo: um deles é claramente a arbitragem. Se olharmos a última jornada, chega a ser escandaloso como um penálti claríssimo foi perdoado ao Benfica. Quando digo claríssimo é porque não se ouviu uma voz dissonante. Não pretendo dizer que foi esta falha inadmissível que deu a vitória à equipa encarnada; longe disso. Mas a pergunta - para que serve o VAR? - impõe-se nestes momentos.
Naturalmente, as arbitragens são tão subjetivas que o penálti que deu a vitória ao Sporting, e que os comentadores em Portugal consideraram todos bem marcado, foi visto por um árbitro espanhol reformado, que escreve para a concorrência, como mal marcado, defendendo até que seria cartão vermelho mas… para Paulinho. Ou seja, se por um lado nestas matérias nunca, ou raramente, teremos uma objetividade indiscutível, também é certo que tem de haver um esforço para que se interpretem os lances da forma mais unificada possível. Dizer que o critério de um árbitro prevalece sobre as leis do jogo e sobre o consenso que os árbitros devem construir é estragar o futebol. Se o critério deve ser largo; se na dúvida se deve privilegiar o ataque; se os penáltis, caso entrem elementos das duas equipas na área antes do castigo marcado, devem ser repetidos, independentemente de ser golo; se… se… se… Porque não há um esforço claro para unificar critérios? Nuns casos, recomendando que não se apite por tudo e por nada (e sobretudo consoante o teatro feito pelo jogador); noutros casos, inclusive, alterando a lei (como nos penáltis, onde já se percebeu que ninguém segue a regra quando é golo e a entrada de jogadores não afeta minimamente o guarda-redes ou o que quer que seja).
A arbitragem, depois do VAR, continua a ter os seus mistérios. Um deles é porque não há profissionais de análise do VAR, que podem, com a formação devida, não ser apenas árbitros que andam a correr pelos campos, mas pessoas ligadas ao futebol (ex-jogadores, ex-treinadores, etc. que sabem muito do que se passa em campo).
Mas, já se sabe, no futebol qualquer mudança leva anos.
 

Rúben Amorim recuperou animicamente o plantel após o jogo com o Ajax e venceu no Estoril


RUI COSTA

Já toda a gente sabia que ele ia ser candidato e anunciou, exatamente depois da AG em que se discutiram coisas impensáveis no séc. XXI (como se os votos devem ser contados logo após o encerramento da votação). De qualquer modo, creio que é bom o Benfica mudar de presidente, já que Vieira parece evaporado; mal, só a mania de fazer anúncios à Imprensa sem direito a que esta questione os anunciantes.
 

MUNDIAL

Discute-se se deve ser de dois em dois anos, em vez de quatro em quatro. Nesse caso, os Europeus seriam, igualmente de dois em dois? E a Liga das Nações todos os seis meses? E os campeonatos nacionais resolviam-se em três meses? Há aqui muito desejo de dinheiro e pouco critério desportivo.
 

TROCAS

Atroca de jogadores do Porto com o Guimarães soou tão mal que até Rui Pinto, que os portistas tinham por relativamente aliado, alertou para a necessidade de o negócio ser investigado.