Opinião de Diogo Luís A insegurança de Frederico Varandas
'Mercado de valores' é o espaço de opinião semanal de Diogo Luís
No futebol tudo muda muito rapidamente. Num momento festejam-se títulos e fazem-se juras eternas, noutro tudo se desmorona, seja por maus resultados ou por projetos e objetivos diferentes. O interesse do Man. United em Rúben Amorim é só mais um exemplo de que o futebol é o momento!
A oportunidade
Rúben Amorim tem uma oportunidade única em mãos. Quantos foram os treinadores que entraram diretamente em Inglaterra num clube de grande expressão provenientes de ligas de menor dimensão? Eu diria poucos. Em Portugal, José Mourinho e André Villas-Boas são os únicos a tê-lo feito, na sequência de êxito interno, mas também nas competições europeias onde obtiveram sucesso.
De uma forma muito direta, entrar na Premier League é uma tarefa muito complicada. Mais complicado ainda é entrar diretamente num clube com a grandeza do Man. United. Tendo em conta estes dois factos, todos nós percebemos a importância da oportunidade que Rúben tem em mãos. Estes são os momentos com que todos os treinadores sonham e que não podem escolher o timing. Quando aparecem são (ou não) agarrados com as duas mãos. É claro que os clubes que perdem o seu timoneiro ficam insatisfeitos, até com alguma frustração por terem a noção da dificuldade da missão de substituir ativos com esta qualidade. Assim foi em Braga, quando António Salvador perdeu o então jovem Rúben Amorim que ainda nem tinha o curso de treinador. Salvador acabou por entender que Rúbens Amorins há poucos, assim como Frederico Varandas também o irá perceber.
Analisando o contexto que Rúben irá ter pela frente no colosso inglês parece-me que o jovem treinador português não tem muito a perder, aliás conforme Rúben afirmou na última conferência de imprensa, o panorama atual do clube inglês é muito desafiante para o técnico português. Desde que Alex Ferguson saiu que o United passa por uma crise de identidade, que se reflete no desempenho desportivo da equipa. Tendo em conta o passado recente, apesar das expetativas serem sempre muito altas, ninguém está à espera que de um dia para o outro Rúben Amorim torne o United campeão. Adicionalmente, RA tem a seu favor o facto de ter passado por momentos muito desafiantes num Sporting que estava instável e descredibilizado.
Com a sua liderança, teimosia, personalidade, competência e capacidade de comunicar, Rúben Amorim, por muito que Frederico Varandas não goste de ouvir, foi o grande responsável por tornar o Sporting num clube diferente, com uma maior exigência e que vence e luta por títulos de uma forma consistente. Com a saída de Rúben Amorim para Inglaterra, a questão que muitos se colocam é se o projeto Sporting era Rúben Amorim ou se existem bases que permitam manter o trajeto que tem sido seguido até aqui.
As contradições de Varandas
Ainda há poucas semanas Frederico Varandas deu uma entrevista a um canal de televisão no qual enalteceu o caminho e a organização que o Sporting tem vindo a seguir. Destacou, como ponto positivo, o facto de clubes com outra capacidade financeira estarem interessados nos ativos do Sporting, como Hugo Viana ou jogadores do plantel e referiu que é incrível como o Sporting tem conseguido manter um dos melhores treinadores do mundo.
Por esta altura tinha acabado de sair a notícia de que Hugo Viana, no final da presente época, irá ser diretor desportivo do Man. City. A abordagem do presidente do Sporting a este tema foi segura, demonstrando confiança na estrutura que foi criada nos últimos anos e querendo passar a mensagem de que, independentemente de quem sair do clube, o sucesso não estará em causa. Passadas apenas algumas semanas, o interesse do Man. United em Rúben Amorim parece ter abalado esta confiança do presidente leonino. Por que refiro isto? Porque o Man. United demonstrou o desejo de bater o valor da cláusula de rescisão do treinador verde e branco e a resposta de Frederico Varandas e dos seus pares não foi a esperada.
Numa situação, aparentemente, fácil de resolver, o Sporting colocou muitos entraves. O mais estranho para mim é o de exigir que Rúben Amorim fique mais três jogos ao leme da equipa. Ora, sendo o Sporting um clube muito organizado e profissional que não depende de uma pessoa e tendo o seu presidente já o sucessor (que seria o substituto do atual técnico no verão de 2025), por que motivo Frederico Varandas obrigou Rúben a ficar até dia 10 de novembro? Será que não tem confiança na escolha que vai efetuar? Será que está inseguro? Por que motivo não encara esta oportunidade como uma forma de demonstrar aquilo que tem vindo a passar para a praça pública: que o Sporting tem uma estrutura forte e não depende de ninguém.
Para finalizar, retiro mais uma conclusão de todo este processo. Frederico Varandas ao adiar a concretização da transferência e ao querer mais dinheiro do que a cláusula de rescisão do contrato de Rúben Amorim, tentou dar a volta a uma cedência sua que se revelou num mau ato de gestão no passado, que foi o de colocar uma cláusula que permite que Rúben Amorim saia para um clube grande por, apenas, €10M.
Valorização: treinadores e Sporting
A concretização da saída de Rúben Amorim para o Man. United é mais uma valorização para a classe de treinadores. O reconhecimento da competência de Rúben e o facto de um clube como o Man. United bater a cláusula de rescisão para o contratar, demonstra o desejo do clube inglês em poder contar com o jovem técnico português. Isto representa mais uma oportunidade para a valorização da qualidade dos técnicos portugueses.
Adicionalmente, é incrível como um dos maiores clubes do mundo tem na sua liderança dois portugueses: um como treinador (Rúben Amorim) e outro como capitão de equipa (Bruno Fernandes). Do lado do Sporting, apesar da forma menos positiva como o processo foi gerido, a realidade é que o reconhecimento da qualidade e competência do seu técnico representa a valorização natural do ecossistema leonino.
Contudo, é importante referir que os líderes devem ter a frieza necessária para distinguirem a racionalidade da paixão. Este é um ponto fundamental para a valorização das marcas/clubes que representam. A ideia que fico é que ao longo deste processo Frederico Varandas não teve a capacidade de o fazer.