A importância das escolhas certas
Mercado de valores, a opinião de Diogo Luís
Os profissionais do desporto são pessoas muito bem preparadas, com um conjunto de características únicas. Tratam-se de atletas que estão habituados a trabalhar diariamente nos limites, que não desistem nem relaxam ao primeiro entrave. Diariamente superam-se física e mentalmente e são treinados para suportarem a pressão das competições. Nem todos alcançam o sucesso, porque a competição é dura.
Uma coisa eu tenho a certeza, quem pratica desporto de alta competição está habituado a tomar (ainda que de forma não consciente) decisões em contextos adversos, com pressão, perante milhares ou milhões de pessoas a assistir, a aplaudir ou assobiar. Inconscientemente, cada atleta procura a melhor opção e solução no momento. Os anos e a experiência ajudam a melhorar a tomada de decisão, porque as experiências passadas tornam o processo mais natural. Esta introdução tem como objetivo demonstrar a importância da experiência e da responsabilidade das decisões. Se dentro do contexto desportivo as decisões são tomadas em frações de segundo, fora existe tempo e espaço para poder pensar, analisar e agir.
Saber ser líder
No último sábado o jogo entre Famalicão e Sporting foi adiado por um acontecimento inesperado. A ausência de forças de segurança impediu que o jogo fosse concretizado. Ficou demonstrado que as duas equipas e a Liga de clubes queriam realizar o encontro. Também é sabido que o protesto ou as lutas que as forças policiais estão a travar não tiveram como objetivo prejudicar especificamente uma equipa ou o futebol. Tenho muito respeito por todas as profissões e todos têm o direito de travar as suas lutas. O futebol pelo mediatismo que tem foi o evento escolhido para dar força e visibilidade ao protesto. Todos percebemos isto. É verdade que foi uma situação chata o que aconteceu. Também é verdade que, nesta situação, o Sporting acaba por ser prejudicado.
Por vários motivos: porque está a atravessar um bom momento, porque em caso de vitória garantia o primeiro lugar e criava pressão nos adversários, porque tem um calendário preenchidíssimo e porque o planeamento teve de ser alterado em cima da hora. Relembro este episódio por um motivo muito importante. Se o futebol tem tanto mediatismo e é tão importante na sociedade, as pessoas que têm cargos de liderança no futebol também devem ter essa sensibilidade e responsabilidade. Desta forma, destaco o papel de Frederico Varandas e Rúben Amorim, cada um no seu campo. Rúben Amorim encarou tudo isto da forma que tem de encarar. Não podia fazer nada. A partir do momento em que ficou confirmado o adiamento do jogo, começou a pensar no seguinte, tentando encontrar formas de dar aos seus atletas a carga física pensada para o jogo, motivá-los ou retirar-lhes pressão pelo facto de, neste momento, não estarem em primeiro na classificação.
Frederico Varandas, alguns dias mais tarde teve a mesma postura. Referiu que compreende a luta da PSP, que isto não foi uma cabala para prejudicar o Sporting e apontou para o futuro, demonstrando confiança na sua equipa e no seu treinador. Percebeu e agiu de acordo com a dimensão social que o presidente do Sporting tem. Perante um obstáculo, os dois reagiram e, em vez de encontrarem culpados (até porque não os houve), focaram-se nas soluções, respeitando a forma de protesto da PSP. Em contraponto tivemos o comportamento do presidente da Liga. De uma forma agressiva, emitiu um comunicado em que refere que o futebol exige respeito. Que iria até às últimas consequências exigindo responsabilidades em relação aos incidentes entre adeptos (algo que até hoje nunca tinha feito). Não percebeu o contexto, não teve sensibilidade, procurou encontrar responsáveis e não foi líder! Conforme referi, o futebol, pela dimensão social que representa, tem de ter líderes que reconheçam esse papel e que tenham a devida responsabilidade. Acalmar, analisar e apontar para a solução é o que se espera sempre daqueles que lideram. Infelizmente não foi o que Pedro Proença fez.
Aliás, o que deveria ter feito era referir que a Liga e os clubes já estão à procura da melhor solução, reforçando que o regulamento deveria ser alterado porque não faz sentido a forma como está criado (dar apenas 4 semanas para que o jogo seja realizado na segunda volta). Em vez de atacar, deveria ter-se focado naquilo que controla e que por sinal está mal feito (regulamento). Conforme mencionou Fernando Guerra no seu artigo de opinião, a La Liga decidiu oferecer o pontapé de saída no dérbi entre Real Madrid e Atlético de Madrid homenageando a Polícia Nacional pelo seu 200.º aniversário, o que demonstra duas posturas e lideranças bem diferentes.
Diego Moreira
É um jogador de quem se espera muito. Tem um enorme potencial. Despontou nas camadas jovens encarnadas e teve o seu momento alto na conquista da Youth League por parte do Benfica. Demonstrou qualidade, maturidade (porque era dos mais novos), magia e irreverência. Criou enormes expectativas nos adeptos encarnados que olhavam para ele como o próximo diamante a ser lançado na equipa principal. Estreou-se pela equipa A na primeira liga frente ao Paços de Ferreira e, nesse momento, foi percetível o carinho que os adeptos tinham pelo jogador. Pelas suas características conseguiu criar rapidamente empatia com os associados, o que seria sem dúvida uma mais-valia. Se dentro do campo tudo corria de feição, as complicações apareceram fora dos relvados. Numa entrevista recente, referiu que gostava de ter ficado no Benfica, que a situação foi difícil para os dois lados e que esperava muito mais oportunidades do que as que teve. Temos muitos exemplos de jogadores de quem se esperava muito e que não conseguiram atingir o seu potencial. Aos 17 ou 18 anos, Diego não era um jogador feito.
O espaço na equipa A iria permitir-lhe continuar a crescer e esperar pela oportunidade. Nestas idades é importante que quem está à volta do jogador tenha a capacidade de analisar o contexto, de fortalecer o jogador mentalmente e de perceber qual o melhor caminho para a sua evolução. No caso do Diego, a escolha foi feita tendo em conta o dinheiro, o que é legítimo. Contudo, os anos vão passando e aquele que era um promissor jogador corre o risco de não passar disso mesmo. Não posso deixar de realçar a afirmação de Diego Moreira quando refere que esperava muito mais oportunidades. O papel das pessoas que estão à volta do miúdo que quer ser jogador é o de o trazer à terra e não o de o colocar num patamar em que ainda não está. Foi precisamente o que fizeram com este jovem jogador.
Em vez de o motivarem a continuar, a procurar oportunidades e desenvolver qualidades num clube onde era acarinhado, criaram-lhe a ideia de que com 17/18 anos já devia ser titular e que não havia tempo para esperar pela oportunidade de ganhar o seu espaço no onze e no futebol português. Infelizmente nem todos são o João Neves, dentro e fora do relvado! O exemplo de Diego Moreira é importante para todos os que estão a crescer: uma decisão errada, apesar de financeiramente apelativa, pode colocar em causa a evolução de uma carreira promissora.
A valorizar
ANTÓNIO OLIVEIRA. Após um enorme e difícil trabalho no Cuiabá, António Oliveira tem uma oportunidade num clube de maior dimensão (Corinthians). A missão é difícil, mas o desafio era irrecusável.
A desvalorizar
VIZELA. Um projeto desportivo sem rumo e sem lógica que está a ter o respetivo reflexo dentro dos relvados.