A habilidade no apito… e a inabilidade na comunicação

OPINIÃO28.02.201903:00

O VAR foi uma conquista importante para o futebol e para a verdade desportiva. Sobre isso penso que não pode haver dúvidas. Porém, não sei se é enviesamento meu, mas parece-me que o VAR provocou uma reação em certos árbitros, que aliás já existia, e é absolutamente perversa: a habilidadezinha. Veja-se o último jogo do Sporting na Madeira. Não houve golos mal anulados (nem golos houve) nem penáltis evidentes por marcar e, ainda assim, o senhor árbitro Tiago Martins teve influência no presente e no futuro da equipa de Alvalade. Como? Na forma como contemporizou com alguns acontecimentos ao mesmo tempo que era implacável com outros.

Por exemplo, o facto de se terem jogado apenas 56 minutos úteis (o que será mais normal na nossa Liga do que possa parecer), não levou o árbitro a dar descontos condizentes. Entradas duras dos maritimistas ficaram sem sanção, mas Coates foi expulso por pouco mais do que um nada. E o treinador Keizer por ter dito uma frase sem importância ao 4º árbitro (será que ele percebeu que em inglês a frase é corriqueira, um mero desabafo?). Aliás, o castigo aplicado a um treinador expulso ser de 200 e tal euros é de rebolar a rir. Mais valia terem anulado o castigo e darem a mão à palmatória.

Permanecer calado não é solução…
 
Nunca fui muito adepto de criticar arbitragens, porque entendo que um Sporting bom e motivado tem de ganhar muitas vezes à equipa adversária e à equipa de arbitragem (como já vi este ano fazer), mas entendo que, por vezes, e a espaços, faz falta alguém que diga umas verdades em nome do clube. Alguém mais do que Beto, que alertou - e bem - para o tempo útil de jogo; alguém da Direção, mesmo não sendo o presidente, tem de deixar claro que não somos destinados a bombos da festa. O Sporting ser o segundo clube da Liga com mais sanções disciplinares é a prova ineludível de como há profundas injustiças.

É mais do que óbvio para mim que o este Sporting tem um problema de comunicação e, embora prefira o estilo low-profile e calmo à berraria e loucura que vivemos, costuma o bom senso mandar nem tanto ao mar nem tanto à terra. Se Varandas fez bem em informar o estado em que encontrou o clube e, pelo meio, desmascarar algumas mentiras que só convenciam os convencidos, é bom que a Direção não tema tomar posição firme quando é necessário fazê-lo.

… menos ainda em questões internas

Se a falta de boa comunicação se nota em relação aos assuntos da Liga e da arbitragem, ela não difere muito no que respeita a questões internas do clube. Seis meses depois soubemos que estávamos num estado bastante mau no que toca às finanças. Que uma sociedade de advogados ligada ao anterior presidente levou €1,7 milhões; que uma empresa qualquer que já não existe levou €60 mil; que o Batuque FC de Cabo Verde tinha um acordo (a este propósito o Bruno de Carvalho ainda tentou dizer que Jovane se devia a tal acordo, mas foi desmentido por toda a gente). Enfim, uma série de informações que eram necessárias, mas que foram abafadas pela autêntica deriva das televisões para o freak show, para o espetáculo de aberrações: tanto a SIC como a TVI debruçaram-se mais de uma hora a ouvir resmungos do destituído presidente, muitos deles mentiras totais, como se o contraditório a factos de um relatório de auditoria pudessem basear-se em meras opiniões de um despeitado e sem qualquer noção da proporcionalidade. Sobre isto, os responsáveis da Comunicação Social (e falo do que sei) têm de compreender que as boas práticas não são palavras vãs. E O SCP tem saber lidar com isto.

Ao mesmo tempo, o tema para muitos sportinguistas passou a ser o fim do programa Pressão Alta, na Sporting TV. Não sei por que razão acabou, mas sei que alguém já devia ter explicado. Assim como por que razão o V. Guimarães já nos ameaça…  Sei que o dinheiro é fundamental, e que essa mensagem foi, mais ou menos, dada. Mas não creio que os sócios estejam ainda suficientemente compenetrados da real situação e, sobretudo, cientes que a cratera criada, que esta penúria quase franciscana se ficou a dever ao ego, à extravagância, à mania das grandezas e sabe-se lá que mais do anterior presidente e seus acólitos.

É preciso que a Direção e todos os sportinguistas que querem refazer e ultrapassar os traumas que vivemos percebam bem o que se quer; o que se tem pela frente, o quanto vai ser necessário esperar. Podem crer que havendo empenho e garra por parte dos jogadores, da equipa técnica e dos responsáveis, não são apenas as vitórias que contam. A determinação e um rumo definido também unem o clube.

Que alternativa querem?

Dito isto, e não me eximindo de criticar seja quem for o responsável por esta ausência de ligação e de solidariedade entre a Direção e muitos sócios, ouvem-se os adeptos (que ainda os há e mais do que seria desejável) do anterior presidente gritar. As claques fazem birras e mesmo candidatos derrotados (e com derrotas grandes) às últimas eleições ameaçam falar ou são agrestes em relação à Direção eleita há seis meses. Não vale a pena. Ricciardi pode vir dizer que tinha razão sobre a situação financeira, mas isso não resolve qualquer problema. Mais: acaso ele o saiba resolver, que ajude. Não se pode ser do Sporting apenas quando se é dirigente. Dias Ferreira, por quem também tenho estima, critica o facto de se falar de mais no passado. Mas é bom que falemos nisso. Porque não se podem repetir os erros da anterior Direção, nem sequer o de algumas direções (várias) antes dessa.

Quanto aos leais a Bruno de Carvalho, por mim bloqueio-os nas redes sociais sempre que posso. As suas ameaças, a sua violência verbal, as suas mentiras tornaram-se insuportáveis, mesmo para alguém, como eu, muito habituado a ser verbalmente agredido.

Como tenho dito o clube precisa de paz. Mas para isso é preciso que a Direção fale mais com os sócios, denuncie mais quem ataca o clube e a equipa. Se na passada sexta-feira foi dado um passo, são precisos mais. Muitos mais. Espero que da reunião de ontem, em Alcochete, a maioria desses passos tenham ficado definidos.