Opinião João Mário renunciou e devia estar tudo bem com isso
Ainda com as celebrações da conquista do título do Benfica bem frescas, causou João Mário uma ‘onda de choque’ na opinião pública com o anúncio da renúncia à Seleção depois de 56 jogos ao serviço do País. Coube a Rafa, em setembro passado, a difícil tarefa de abrir a caixa de Pandora e o médio, aos 30 anos, decidiu que era a hora dele.
A gota de água, não é difícil de adivinhar, terá sido em março, nos jogos de estreia de Roberto Martínez, e desde então João Mário terá maturado a decisão. Portugal passeou frente a Liechtenstein (4-0) e Luxemburgo (6-0) e o máximo a que teve direito, quando atravessava uma das melhores fases da carreira, talvez só equiparável à de 2015/2016, quando saiu por €45M para o Inter, foi um minuto de utilização no primeiro jogo, nem sequer saindo do banco no segundo. Ainda assim, esse minuto, em Alvalade, chegou para que fosse assobiado, numa reprovável confusão entre clubite e Seleção, sempre sabendo que o passado não se apaga e João Mário carregará para sempre a cruz de ter ‘trocado’ o Sporting pelo Benfica.
Foi o médio que renunciou à Seleção mas a Seleção há muito que já o havia prescrito, bastando para isso constatar a parca utilização que teve – também ligada, claro está, ao ‘desaparecimento’ no Inter, Spartak e West Ham – desde o Mundial-2018, em que se contam pelos dedos de uma mão os jogos que teve como titular. Mas, lá está, o passado não se apaga e o João Mário que hoje já não quer jogar na Seleção é o mesmo que, em 2016, em França, teve papel preponderante como titular absoluto no maior feito da história do futebol do País.
Vários terão sido os fatores a fazerem pender a balança de João Mário, que foi novamente pai há pouco tempo e sentirá que, aos 30 anos, é hora de redefinir objetivos, prioridades e focar-se a 100 por cento no clube. Foi, de março para cá, evidente a quebra de rendimento do camisola 20 das águias e nem Roger Schmidt escondeu o desagrado pela falta de jogo e treino de alguns jogadores na pausa para as seleções. E, não sendo tudo, os números não mentem: nos nove jogos antes da ida à Seleção, 10 golos e quatro assistências, apenas dois passes para golo nos nove jogos desde então até final da época. Esclarecedor.
O alemão, que deu nova vida a João Mário e dele fez pedra basilar na dinâmica do meio-campo, não disse nomes mas nas entrelinhas ficou latente o desconforto com a situação.
Numa altura em que dá pano para mangas a fartura de quantidade e qualidade de opções para Roberto Martínez, estranha-se que a decisão legítima do jogador cause tanta estranheza, evidente pelo ‘bombardeamento’ de perguntas sobre o tema feito ao selecionador no anúncio da última convocatória. Há Vitinha, há Bruno Fernandes, há Fábio Vieira, há Otávio, há João Neves a ‘rebentar’, há Matheus Nunes, há André Almeida e, por isso João Mário não criou qualquer terramoto. O que deveria levantar o debate é, isso sim, a facilidade com que jogadores no auge das carreiras se afastem da Seleção tão precocemente.