Espaço Universidade O desporto europeu (artigo de Vítor Rosa, 188)
Reconhecido por todos os países da Europa ocidental, o desporto é um fenómeno de grande importância social, económica e cultural. Historicamente, o desporto desenvolveu-se sob uma forma associativa. Esta caraterística comum tem a ver, em primeiro lugar, com o aspeto voluntarista, juntando os adeptos de uma mesma modalidade desportiva. Por outro lado, decorre do facto de o fenómeno desportivo ser o culminar de uma multitude de iniciativas privadas.
Ele estruturou-se muito rapidamente, instaurando no seio de cada modalidade desportiva uma universalidade de regras de prática e de competição, impondo que sejam idênticas para todos. Paralelamente, organizou-se numa lógica de agregação federativa, estabelecendo uma continuidade entre os diferentes níveis de exercício local, regional, nacional e internacional. O Comité Olímpico Internacional (COI), criado por Pierre de Coubertin, assumiu um papel fundamental, graças ao poder federativo dos Jogos Olímpicos (JO). O movimento desportivo transpõe amplamente as fronteiras dos países. A sua unidade formal, não exclui, no entanto, uma grande diversidade, sobretudo ao nível da multiplicidade de modalidades desportivas, que não deixaram de aumentar.
Como na maior parte dos países da Europa ocidental, o voluntário associativo é um dos fundamentos essenciais da organização desportiva. A figura do dirigente desportivo voluntário está omnipresente. Ele assume as funções políticas (relações com o exterior, com os poderes públicos, os parceiros financeiros, os eleitos locais…), administrativas (presidente da associação, secretário, tesoureiro…), técnico (organizador, treinador).
No âmbito das organizações supranacionais é de destacar o papel precursor do Conselho da Europa (CE), que integra, atualmente, 47 estados-membros, 27 dos quais são também membros da União Europeia (UE). Historicamente, é uma das instituições europeias mais antigas (fundada em 1949). Tradicionalmente, está orientada para a proteção dos direitos humanos e dos princípios da democracia, mas manifesta um verdadeiro interesse pelo desporto. A UE interessou-se pelo desporto mais tardiamente (finais dos anos 1980). Várias razões explicam isso: inicialmente, estava orientada para a construção de um mercado único, baseando-se no princípio da livre circulação de mercadorias, pessoas, capitais e serviços. Por outro lado, a tradição de independência das autoridades desportivas e a diversidade e complexidade das organizações desportivas pode explicar o pouco interesse original. O interesse do Parlamento Europeu (PE) pelo desporto data de 1980, adotando, em 1984, uma resolução sobre o desporto na UE. Desde então, tem multiplicado as resoluções.
Apesar de alguns elementos de unidade, devido essencialmente à ação federativa e unificadora das autoridades desportivas internacionais, a Europa não escapa à constatação de que surge política e culturalmente diversa e fragmentada. Existe uma grande diversidade de modos de organização administrativa responsáveis pelo desporto e uma variabilidade de papéis desempenhados pelos poderes públicos, em complemento com as instâncias desportivas federativas.
Vítor Rosa
Sociólogo, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática. Investigador Integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED), da Universidade Lusófona de Lisboa