O basquetebol português em versão intermitente (artigo de António Pereira)

Espaço Universidade O basquetebol português em versão intermitente (artigo de António Pereira)

ESPAÇO UNIVERSIDADE11.05.202020:32

No último sábado, a Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB) deu a conhecer o seu plano para de 2020/2021, partindo do ponto em que se procedeu à suspensão da temporada 2019/2020, suscitando, desde logo, comentários nas redes sociais e diálogos entre as pessoas do basquetebol.

O documento referido como comunicado nº 151, infelizmente só no seu último ponto é que aborda a evolução do impacto do COVID-19 e uma possível interrupção da atividade.

Quantos aos factos eles são os seguintes.

1 – É proposto um torneio de apuramento para a subida de divisão, definindo as equipas elegíveis para a sua participação, nos diversos níveis de competição;

2 – Cada torneio será disputado em moldes a divulgar e dependente do número de equipas inscritas;

3 – O tempo de duração da competição, nunca será superior a dez dias;

4 – A inscrição do clube deverá ocorrer até 30 de junho de 2020;

5 – As inscrições serão válidas para a época de 2020/2021;

A Liga Placard pode ter 15 equipas?

Na época de 2019/2020 a competição foi disputada por 14 equipas. O comunicado nº 143 dá o Terceira Basket como tendo perdido o direito desportivo e o Imortal ganho o mesmo direito, por via dos respetivos desempenos na Liga Placard e Proliga, respetivamente, à data da suspensão da competição. Portanto mantinham-se as mesmas 14 equipas.

Com a realização de um torneio onde a FPB estabelece 3 equipas (CD Póvoa, Ginásio Olhanense e Académica de Coimbra), elegíveis para ocupar a última vaga, facilmente se chega à conclusão de que ela pode ser disputada por 15 equipas, o que será no mínimo um número estranho.

Vamos então ter um alargamento ou estará a FPB à espera de uma ou de várias desistências? Uma desistência nunca é um bom sinal para a vitalidade da modalidade e dos clubes, apesar dos tempos extraordinários em que vivemos.

A FPB tem investido muito dinheiro nas transmissões dos jogos em diversos canais da televisão, indo ao encontro da ansiedade dos clubes, mas é tempo de percebermos se essa foi uma boa aposta e se teve resultados dessa estratégia foram positivos.

Quantos novos patrocinadores vieram por via desse investimento? Qual o valor desses patrocínios? Quantas equipas beneficiaram disso?

No caso da Liga Placard, coloco muitas reticências quanto à natureza, justiça e operacionalidade da decisão agora tomada.

No que diz respeito ao número final de participantes na época de 2020/2021, devia-se ter começado por saber quais os clubes que querem, os que podem e os que têm condições para competir na Liga Placard, tal como referi num outro artigo.

Porque infelizmente querer não é suficiente. É preciso realmente ter condições de puder disputar a competição, e isso exige capacidade organizacional, sustentabilidade financeira e recursos humanos, quer ao nível de jogadores portugueses quer ao nível de jogadores estrangeiros. Neste aspeto, é preciso relembrar que o tempo médio de jogo por equipa dos jogadores Portugueses na primeira volta da época agora terminada foi de 36%, o que torna a nossa competição demasiado dependente da contratação de jogadores estrangeiros.

Desta forma, interrogo-me se será viável e se é possível trazer cinco jogadores estrangeiros por equipa? Como todos sabemos as fronteiras estão encerradas, a EU aconselhou as pessoas a não fazerem voos intercontinentais, pelo que a eventual necessidade de os jogadores que chegam terem de fazer o período de quarentena pode ser uma realidade, levantando outro tipo de problemas para os quais os clubes e a FPB terão de encontrar respostas à medida.

Quanto aos outros níveis de competição se todas as equipas se inscreverem, coloca-se sérias dúvidas se o torneio pode ser disputado em dez dias. Sete equipas para uma vaga na Liga Feminina é algo difícil de concretizar. Doze equipas para duas vagas para o Campeonato nacional da 1ª divisão masculina, são só alguns dos exemplos.

Mas será justo um jogador disputar este torneio prévio e depois se a sua equipa não subir ficar sem possibilidades de sair para o nível que o atleta pretende realmente jogar? A janela de transferências é entre 15 a 31 de dezembro, desde haja acordo entre clubes.

Será que um torneio de qualificação em setembro é viável? Será justo em termos de verdade desportiva?  E será seguro?

Seguro por certo que não será.

Todos os especialistas do mundo dizem que a segurança só vai chegar quando houver uma vacina ou imunidade. Em setembro por certo nenhuma destas situações se vai verificar. Assim pergunto qual o protocolo* que a FPB vai usar para levar a efeito tais torneios? Qual a sua responsabilidade se algo acontecer de prejudicial á saúde dos intervenientes? E dos clubes? Será que os jogadores estarão disponíveis para correr esse risco? E os juízes?

Que luz o basquetebol nos mostra ao fundo do túnel?

*Protocolo da Direção Geral de Saúde para o arranque do campeonato de futebol: A FPF, a Liga Portugal, os clubes participantes na Liga NOS e os atletas assumem, em todas as fases das competições e treinos, o risco existente de infeção por SARS-CoV-2 e de COVID-19, bem como a responsabilidade de todas as eventuais consequências clínicas da doença e do risco para a Saúde Pública.

António Pereira, é um ex-jogador e ex-treinador de basquetebol, tendo desenvolvido a função de scouting durante vários anos. É licenciado em Comunicação Organizacional com as especialidades de Comunicação de Marketing e Comunicação de Relações Públicas, Mestre em Marketing e Comunicação e escreve sobre Gestão do Desporto, Marketing e Comunicação do Desporto no blog https://apbasketball.blogspot.com/ , https://ideiasparaobasquetebol.blogspot.com/ entre outros.