Mais desporto no feminino (artigo de Vítor Rosa, 96)

Espaço Universidade Mais desporto no feminino (artigo de Vítor Rosa, 96)

ESPAÇO UNIVERSIDADE20.04.202012:47

O desporto foi e continua a ser um produto de homens e controlado pelos homens. A “dominação masculina”, como diria o sociólogo Pierre Bourdieu, conduziu a perceções e a modelos culturais, determinando a forma como o desporto é dirigido e praticado. Originalmente, quando da sua criação, as mulheres não acederam às mesmas modalidades desportivas e muito menos às mesmas condições que os homens. Utilizou-se muitas vezes os argumentos de ordem médica, estética e social para limitar a sua participação desportiva. Os mitos, os estereótipos e o sectarismo fizeram com que esse direito lhes fosse negado durante muito tempo. O combate das mulheres no mundo do desporto foi o de poder ter o direito de participar. Que o diga Alice Milliat (1884-1957), praticante de natação e de remo, fundadora e presidente da Federação das Sociedades Feministas Desportistas de França, e uma das maiores militantes no combate pelo reconhecimento do desporto feminino a nível internacional.

Durante muito tempo, a questão central foi a de se definir as práticas desportivas e as provas que se poderiam oferecer às mulheres. Em 1900, as mulheres participam, pela primeira vez, nos Jogos Olímpicos Modernos, mas somente em duas disciplinas: o ténis e o golfe. O fundador dos JO Modernos, o barão Pierre de Coubertin, não queria que as mulheres participassem. Declarou até que uma olimpíada com a participação de mulheres seria “pouco prática, desinteressante, pouco estética e incorreta”. Para si, e para a sua “entourage”, elas estavam presentes apenas para aplaudir e coroar os vencedores. Apesar do seu desacordo e os seus discursos, as mulheres entraram, de fato, nos JO e aí permaneceram.

O universo desportivo não se conjuga mais sobre o investimento e envolvimento dos homens. O aumento da escolaridade das raparigas e a atividade socioprofissional das mulheres, induzem a um reforço da prática desportiva. Todavia, e apesar dos indiscutíveis avanços, ainda existem muitos obstáculos para aumentar a participação das mulheres no desporto a todos os níveis (lazer, escolar, amador, competitivo, etc.), funções e papéis, e para desenvolver a democracia no seio das organizações desportivas. Ainda existe um pequeno número de mulheres nas estruturas de decisão dos organismos desportivos. Defender as mulheres no desporto, é defender a igualdade e o progresso da liberdade em geral. 

Vítor Rosa

Sociólogo, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática. Investigador Integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares de Educação e Desenvolvimento (CeiED), da Universidade Lusófona de Lisboa