Felipe Massa encontra-se determinado a reescrever a história da Fórmula 1, reclamando o título de 2008, o primeiro na carreira de Lewis Hamilton! «Sinto-me campeão e quero justiça», exclama o brasileiro, atualmente com 42 anos. À época, o piloto encontrava-se na Ferrari, escuderia que representou durante oito temporadas, e terminou o campeonato na segunda posição, com 97 pontos, apenas menos 1 que o britânico, então na McLaren, numa época decidida apenas na corrida que colocou ponto final em calendário que teve 18 rondas, em Interlagos, no Brasil: Massa venceu-a, mas Hamilton terminou em quinto – ultrapassou o Toyota de Timo Glok na última curva do circuito, quando já havia festa nas boxes da equipa italiana! – e ganhou o Mundial. «Repito: sinto-me campeão! Todos os brasileiros sofreram comigo no final da corrida e, hoje, consigo apenas imaginar a dimensão incrível da festa em Interlagos, ganhando um título que era meu, por direito», conclui o paulista, que rompeu o silêncio sobre todos os acontecimentos registados em 2008 que explicam esta batalha legal que Massa pretende travar contra as entidades que considera responsáveis por «manipulação» que assegurou a vitória no campeonato a Hamilton, a Formula One Management (FOM) e a Federação Internacional do Automóvel (FIA). «Sinto-me magoado. O campeonato era nosso e foi-nos retirado de forma impossível de explicar», disse Massa, que falou pela primeira vez, publicamente, sobre o tema. «Nesta situação, não tenho nada contra o Lewis Hamilton, mas os resultados foram adulterados, manipulados. Pensávamos que o desporto era limpo, mas estamos enganados. Não era», acusa Massa, que iniciou processo legal para reclamar a conquista desse título e colocou ponto final num silêncio de 15 anos! Esta história, obrigatoriamente, necessita de enquadramento. O que aconteceu em 2008? Na ronda 15 do campeonato, no Marina Bay de Singapura, deu-se o «Crashgate», nome do episódio por que ficou conhecido acidente intencional de Nelson Piquet Jr! Então, na primeira corrida noturna na história da Fórmula 1, o brasileiro da Renault colidiu com o muro do circuito citadino para originar atuação do Safety Car que acabou por beneficiar diversos pilotos, nomeadamente o companheiro de equipa, Fernando Alonso, vencedor do grande prémio, e Lewis Hamilton, que acabou na terceira posição, atrás do Williams de Nico Rosberg. E Massa, que arrancara da «pole position», devido a incidente durante paragem para reabastecimento e troca de pneus nas boxes da Ferrari, foi apenas 13.º… Os incidentes registados durante a corrida originaram investigações com consequências! Em 2009, Flavio Briatore, ex-diretor da equipa Renault, foi considerado corresponsável pelo acidente que arruinou a carreira de Nelson Piquet Jr na Fórmula 1 (deixou a equipa e o Mundial no início da segunda metade do Mundial de 2009, por falta de resultados, e nunca dispôs de oportunidades noutras escuderias), mas a sentença foi revogada um ano depois, e Pat Symonds, engenheiro da escuderia francesa, também cumpriu castigo, mas voltou à competição em 2011 e, atualmente, é o diretor técnico da categoria! Os seis pontos somados por Hamilton em Singapura beneficiaram o britânico no mano a mano com o brasileiro na luta pelo título de 2008 e Massa quer a reposição da «verdade desportiva». «Em 2009, na sequência das investigações, percebi o que tinha acontecido! No final, na verdade, não existiram quaisquer penalizações. Pat Symonds regressou dois anos depois, Flavio Briatore, que tinha sido banido do desporto, regressou à competição pouco tempo depois e o que aconteceu à Renault? Nada. Confrontado com o roubo, não posso manter-me calado», ‘rematou’ o brasileiro, na entrevista ao Globo Esporte. AMNÉSIA (POUCO SURPREENDENTE) DE ECCLESTONE Massa, aparentemente, não está sozinho na ‘empreitada’ que começou no início do mês, quando a equipa de advogados que o representa, cumprindo norma inscrita na legislação britânica («Letter Before Claim»), notificou FOM e FIA sobre as pretensões do paulista. A Ferrari, curiosamente campeã mundial de construtores pela última vez em 2008 – já o título de pilotos, não vence desde 2007 (Kimi Raikkonen)! –, está solidária com Filipe e diz-se disponível para ‘pressionar’ as duas instituições, mesmo acreditando muito pouco num volte-face. No documento enviado a FOM e FIA que iniciou a ação legal de Massa, reclamam-se o título e compensações financeiras pelas perdas, incluindo em matéria de danos morais e reputacionais. O brasileiro apoia a argumentação em entrevista do ex-patrão da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, à F1 Insider, em que o britânico reconhece erros na gestão do caso de 2008. «Hamilton não devia ter sete títulos, mas protegemos este desporto e salvámo-lo de um escândalo. Aplicando os regulamentos, a corrida de Singapura seria anulada… No entanto, à época, os resultados dos campeonatos encontravam-se homologados e não podiam mudar-se depois da entrega dos prémios pela FIA», disse o multimilionário, que vendeu a organização à norte-americana Liberty Media em 2017. Depois do anúncio da pretensão de Massa, Ecclestone, confrontado pela Reuters, pouco surpreendentemente, conhecendo-se esta personagem sempre tão polémica, garantiu que não recordava a entrevista ‘recuperada’ pelo brasileiro. Outro caso bizarro de amnésia… Já a FOM liderada pelo italiano Stefano Domenicali em representação da Liberty Media ainda não reagiu à notificação, a exemplo da FIA, à época comandada por Max Mosley. Felipe Massa cumpriu quinze temporadas na Fórmula 1, representando Sauber, Ferrari e Williams em 269 grandes prémios – estreou-se em 2002, na Austrália, e despediu-se em 2017, no Abu Dhabi. Durante esta carreira tão longa, brasileiro vice-campeão em 2008 e terceiro classificado em 2006 e quarto em 2008. Felipe ganhou 11 corridas e conseguiu, ainda, 41 pódios, 16 ‘pole’ e 15 voltas mais rápidas. Atualmente, o brasileiro acelera no país-natal, no campeonato Stock Car, num Chevrolet Cruze da equipa Lubrax Podium.