Durante as duas últimas temporadas, foi na Ciudad Encantada de Cuenca que Joaquim Nazaré viveu o sortilégio de tornar-se o melhor marcador da Liga Asobal (221 golos em 35 jogos), lateral-direito mais eficaz e ser eleito para o sete ideal do principal campeonato espanhol. Registos mágicos que colocaram o português de 21 anos na mira dos colossos Europeus: teve propostas da Alemanha e de França, mas é para a Dinamarca que ruma a 17 de julho, a fim de jogar no Skjern, semifinalista do campeonato do país que chegou aos oitavos de final da Liga Europeia. «Ainda estou em Cuenca para terminar de tirar a carta de condução, só depois vou embora», contou Nazaré a A BOLA no início de uma conversa em que, apesar da juventude, revelou saber bem qual a direção que pretende para a carreira. Por isso, não se deslumbrou com os nomes e números apresentados. «Depois da época que fiz surgiram várias propostas, mais interessantes até do que a do Skjern, mas ofereciam-me coisas que entendi serem melhores para mim. Ligas muito competitivas e de sonho, mas se fosse para uma equipa demasiado forte não ia ter o mesmo tempo de jogo. E isso é o que mais preciso neste momento. Não preciso de ir para uma equipa maior do que esta, preciso é de jogar. A aprendizagem será maior do que em Cuenca. É uma liga onde nunca pensei jogar, mas a partir do momento em que o meu jogador favorito joga nessa liga também influenciou na decisão», reconhece, já com sorriso na voz. E depressa o nome de Mikkel Hansen, eleito três vezes o melhor jogador do mundo e cujo currículo não cabe nesta página, se fez ouvir, mesmo estando o dinamarquês do Aalborg em pausa competitiva desde meio da época, depois de assumir estar a passar por um período mentalmente difícil. «Foi por causa dele que passei a pensar no andebol como forma de vida. Mikkel Hansen é único. Não o conheci, mas vou para a Dinamarca para ver se jogo com ele. Tenho a sorte de o melhor amigo dele ser treinador-adjunto da minha equipa. Vai ajudar de certeza», prosseguiu, animado. «Encanta-me a facilidade de controlo de bola, de remate, de passe que ele tem, a maneira como ataca. Isso motivou-me muito quando treinava. Tentava fazer as mesmas coisas que ele, saía sempre mal, mas nunca desisti», garantiu o português. Joaquim Nazaré confessa que «não pensava concretizar tão cedo» tudo o que conseguiu esta temporada em Espanha. «Assim que vi que podia fazê-lo, continuei a lutar e fui bem-sucedido», vinca o lateral-direito, que até queria «sonhava ser jogador profissional de futebol», modalidade que conciliava com futsal. Sorte a Escola Secundária de Odivelas não realizar competições… e ganhou o andebol. «Na escola só havia torneios de andebol e creio de que voleibol. Comecei a jogar andebol, porque o meu professor, Ricardo Costa, que era treinador do Benfica, me levou para lá, logo um clube grande. Até aos 16 anos vi o andebol como um passatempo, mas depois passou a ser projeto de vida. Depois disso, passei para o V. Setúbal e fui o quinto melhor marcador da liga, deixei de ter quaisquer dúvidas. Joguei no Boa-Hora e daí fui para o Cuenca», resume, assumindo que a adaptação a Espanha não foi fácil. «Quando fui para o Cuenca já tinha deixado a casa dos meus pais, pois no Benfica vivia nos apartamentos do clube, no Vitória também vivia em Setúbal, o mais difícil foi o sistema de jogo em Espanha e, depois, a língua. Só sabia portunhol [risos]. Passado algum tempo comecei a namorar aqui em Espanha e isso ajudou-me. Agora levo a namorada espanhola para a Dinamarca. Já tenho companhia», contou, entre risos. Descrevendo-se como «jogador de braço potente com facilidade de executar qualquer tipo de movimento», Nazaré tem muitos sonhos no andebol, depois de ter cumprido o de ser «convocado para a equipa principal de Portugal» - jogou dois jogos da qualificação para o Euro-2024 -, tem outro que também se prende com a Seleção: «Quero muito jogar um Mundial ou um Europeu.» Grato a quem lhe deu as primeiras sapatilhas Se jogar Fortnite na PlayStation é um «vício» no qual Joaquim Nazaré também considera «ser bom a jogar» sem precisar de recorrer a rotinas que, todavia, não dispensa quando em causa estão os momentos que antecedem um jogo. «Chego ao balneário com os auriculares nos ouvidos, troco de roupa e vou para o campo aquecer antes do aquecimento principal», relata, pausadamente, o lateral-direito que, contrariando a forma de estar calma, tem de deixar o autor favorito fora da play-list em prol de resultados mais profícuos. «O meu favorito é o rapper XXXtentacion, infelizmente já morreu [foi assassinado em 2018 aos 20 anos, num assalto], tem vários estilos de música, mas mais depressiva, por isso não o ouço antes de ir para os jogos, porque preciso ir motivado e empolgado. Por isso, são as batidas mais animadas do Drake que me animam», relata Nazaré, cujas ajudas do passado também contribuem para que entre em campo a querer ser melhor jogador. «Sou muito grato ao professor Ricardo Costa por me ter posto no mundo do andebol, ao Fernando Coelho e António Baião, dirigentes do Benfica quando para lá fui, e que foram os primeiros a darem as primeiras sapatilhas de andebol. Continuam a ajudar-me», sublinha.