Vitória-Vitória, tanto bairrismo nesta história!
Joga-se neste sábado o primeiro «clássico» entre Vitórias na primeira divisão do andebol. Em campo, dois clubes centenários com adeptos muito especiais… e alguns vão estar dentro de campo
Vitória e Vitória.
Inicia-se esta história com um pedido de desculpas. Sabemos que «Vitória de Guimarães» é uma formulação que não existe. Tal como não há registo de qualquer «Vitória de Setúbal» nos registos oficiais.
Mas como podemos designar um e outro, quando eles estão em confronto, sem que se confundam?
Porque ninguém quer confundir o Vitória com o Vitória! Isso é que seria imperdoável.
Assim, uma vez que neste sábado se vai jogar o primeiro Vitória SC-Vitória FC na primeira divisão de andebol, vamos atalhar e recorremos à designação popular. Afinal, com tanto amor que existe de uns e outros pelas cidades que representam, acreditamos que ninguém levará (muito) a mal.
Pedidos de desculpas lançados, vamos ao que realmente interessa: o jogo de duas paixões.
Para o lançarmos, pedimos ajuda a um vimaranense e vitoriano de gema. E a ele junta-se um sadino e vitoriano dos sete costados.
A coisa até pode fazer faísca, mas é apenas o amor que fervilha num e noutro pelo clube que representam. Que ninguém se assuste com isso.
«Ser do V. Guimarães é uma paixão indescritível»
«Sou sócio do Vitória desde o dia em que nasci, em Guimarães, e agora tenho a oportunidade de representar este clube e transmitir este sentimento que nos caracteriza e faz querer fazer tudo pelo clube e por esta cidade», atira para início de conversa Eduardo Leite.
Para ele, são 19 anos de amor a Guimarães. E não são mais porque são esses mesmos 19 que aponta o cartão de cidadão.
Agora, a chegada da equipa criada em 2020 à elite do andebol nacional coincide com um momento muito especial para Eduardo Leite: o primeiro ano que representa o clube do coração.
«Comecei a jogar aos seis anos no Xico Andebol, um clube histórico aqui em Guimarães e joguei sempre lá até há duas épocas», contextualiza, ele que na época passada jogou no FC Porto B.
Ser do V. Guimarães é uma paixão indescritível que se sente por um clube e uma cidade. Uma paixão que vai crescendo dentro de nós e acentua-se ao longo dos anos. É algo que te transforma
Claro que ao ouvir o «chamamento» do seu Vitória, a decisão foi fácil de tomar.
«Sou um adepto muito presente. Vou desde que me conheço aos jogos [da equipa de futebol] em casa. Sou apaixonado por este clube e não falho nenhum. Por isso, é um orgulho enorme para mim. Representar o clube da minha cidade, um clube que cresceu abraçado à cidade desde a criação e que representa este povo pelo país todo é inexplicável», declara.
Tal como é impossível de colocar em palavras o que é isso de «ser Vitória».
«Ser do V. Guimarães é uma paixão indescritível que se sente por um clube e uma cidade. Uma paixão que vai crescendo dentro de nós e acentua-se ao longo dos anos. É algo que transforma. A mim motiva-me para ser melhor. Sentir a garra que o clube tem. Ter ambição em tudo o que fazemos», descreve… apaixonado.
E agora, como será o confronto com o outro Vitória, um clube cuja rivalidade nasceu baseada no nome?
«É uma luta de muitos anos. Mas para mim o meu Vitória é que é o Vitória, o de Guimarães», atira sorridente.
«Não podemos esquecer qual é o Vitória original»
À beira Sado, horas antes da viagem rumo a Guimarães, somos «recebidos» por um outro vitoriano. De um outro Vitória.
Mas com um sentimento muito semelhante.
«Sou de Setúbal, sou sócio do Vitória e é um orgulho jogar com este emblema ao peito», atira Artur Pereira, de 25 anos, que jogou toda a vida com o símbolo sadino estampado junto ao coração.
«Jogar pelo Vitória foi algo que eu sempre quis, sempre foi objetivo chegar à equipa sénior e, felizmente, estou a viver isso», acrescenta o jovem que diz acompanhar o V. Setúbal para todo o lado.
«Sou adepto vitoriano e vou aos jogos fora e em casa [da equipa de futebol]. Quando não tenho jogos meus, vou sempre», detalha.
O orgulho, esse, anda sempre no rosto de Artur.
«Caminhas na cidade e as pessoas conhecem-te, sabem quem és, porque acompanham mesmo o V. Setúbal. Seja no andebol, seja no futebol. Em tudo», sublinha.
«Sinceramente, é um povo apaixonado pelo clube. É como se a cidade o clube fossem um só. E as pessoas adoram o clube, qualquer que seja a divisão, a equipa, a modalidade», reforça.
O ponta esquerda é tão vitoriano, tão vitoriano que diz que a principal característica enquanto jogador… é isso mesmo.
«O que mais me caracteriza é o amor que eu tenho ao clube, como qualquer adepto. Sou um apaixonado pelo símbolo que visto e que represento desde muito novo, e por isso, cada golo celebrado como fosse o primeiro: com garra e alegria. Para ir depois em busca de fazer sempre mais e mais!», resume.
Somos um povo apaixonado pelo clube. É como se a cidade o clube fossem um só. E as pessoas adoram o clube, qualquer que seja a divisão, a equipa, a modalidade
Já quanto ao Clássico de Vitórias, Artur Pereira admite a ansiedade. Mas deixa um alerta em forma de provocação.
«Sabemos que este é um jogo que chama a atenção. Mas não podemos esquecer que o Vitória original somos nós», atira, sorridente.
Do outro lado, Eduardo Leite recebe sem levar a mal.
«Sempre houve uma rivalidade acesa entre os dois clubes, mas é saudável. Cada um puxa para que o seu clube seja vencedor e é isso que irá acontecer neste jogo».
Que joguem como falam. O duelo de Vitórias promete ser quentinho… até porque Artur e Eduardo vão ser rivais diretos no encontro.
Vitória, Vitória… que comece a história.