O treinador espanhol do Sporting reconheceu, no final do jogo, ao esforçar-se por falar português, arranhou em bom portunhol, que não é uma «pessoa emocional» no hóquei patins, mas que, durante o dérbi no pavilhão João Rocha, frente ao arquirrival Benfica, teve de constranger o sentimento para não se deixar levar pelo ambiente no recinto e pelo esforço e aplicação dos seus jogadores. Alejandro Domínguez rendeu-se ao espetáculo proporcionado por duas das melhores equipas da Europa, por consequência da posição cimeira de Portugal na modalidade, também do Mundo, e transbordou de «felicidade», naturalmente, pela vitória da formação que lidera. O Sporting venceu. Precisava da vitória, que o próprio Domínguez classificou de «vital» para as aspirações dos verdes e brancos na Champions, e patinou em grande estilo atrás desse sucesso. O Benfica preferiu basear o desempenho na deslocação ao rinque do eterno rival em suposta (provavelmente efetiva) superior qualidade técnica individual dos seus jogadores. Mas rolou menos do que o Sporting, com e sem bola, quis esfriar atmosfera escaldante no recinto leonino com um hóquei mais de stique para stique, em saídas organizadas. Contudo, a partida, frenética desde o início, não estava para abordagens cerebrais, quiçá até para hábeis táticas. Estava para se disputar com raça, velocidade, luta e contragolpe. Foi neste, no contra-ataque, na resposta eficaz à perda do adversário, que os leões superaram a águia e construíram merecida vitória. Nuno Resende, treinador dos campeões nacionais, afirmara em antevisão do jogo, que pretendia que a sua equipa explorasse o que referiu ser pontos menos fortes defensivos do opositor, e estes existiram, de facto, e o seu homólogo do Sporting reconheceu-os no final da contenda. Mas nessa incapacidade de aproveitar essa lacuna alheira falharam os benfiquistas, e como nem sequer defenderam melhor do que o antagonista, ficaram desde logo mais longe de vencer o jogo, e até de o empatar. Podiam tê-lo conseguido, é verdade, se Lucas Ordoñez tivesse tido o mesmo acerto num livre direto no último minuto que teve quatro antes. Igualaria o jogo e a sua equipa ficaria satisfeita pelo resultado mais favorável, mas quem sorriu foi o leão, que nunca deixou de porfiar, de patinar (mais!) e de sticar atrás do objetivo único que lhe valeria, o triunfo. E se os defesas não foram a muralha que o seu técnico quer (por isso promete mais e melhor trabalho) que sejam, o guarda-redes Ângelo Girão revelou-se fundamental com um punhado de intervenções valorosas para seguras os preciosos três pontos. E mais do que esse pecúlio, o ascendente motivacional que ganhar (jogue-se bem ou menos bem) ao arquirrival sempre traz. Este dérbi, emocionante, impróprio para cardíacos, deixou-nos ansiosos por mais. Contemos, então, os dias para os dois que se avizinham, da segunda volta da Champions e do Campeonato, ambos na Luz. No seu ninho, a águia certamente quererá dar a volta e voar alto. Tem mais do que valor para fazê-lo.