«Senti na pele aquilo que muitos atletas passam»
Fotografia António Azevedo/A Bola

«Senti na pele aquilo que muitos atletas passam»

MODALIDADES12.04.202409:22

Nuno Laurentino nomeado coordenador da recém-criada Equipa da Unidade Multidisciplinar de Apoio à Carreira Dupla. Antigo nadador olímpico envolvido no projeto desde 2016

O antigo nadador olímpico Nuno Laurentino é, desde o início do mês, coordenador de equipa da unidade multidisciplinar de apoio à carreira dupla dos atletas/estudantes, conforme anunciado em despacho emitido pelo Instituto Português do Desporto e Juventude e publicado no Diário da República de segunda-feira, assinado pelo presidente do IPDJ Vítor Pataco. Equipa que funcionará dentro da estrutura daquele instituto como um projeto para a educação e desporto.

«Para mim, regressar ao meu Instituto e ficar responsável por esta área, assim como a formação paralela à carreira desportiva e ao pós-carreira, é um orgulho. Faz-me sentido na medida em que estive sempre a trabalhar estas medidas em articulação com a coordenação nacional e a direção geral de educação», referiu Laurentino a A BOLA quando instigado a comentar a nomeação após durante tantos anos ter sido uma das figuras que se empenhou para que a carreira desportiva dual se tornasse realidade em Portugal.

«Fiz parte da coordenação nacional deste projeto desde 2016, com o diretor geral da educação, o presidente do instituto [IPDJ] e o coordenador geral Vítor Pardal», disse o antigo internacional português, olímpico em Atlanta-1996 e Sydney-2000, que se mantém como o nadador masculino que mais títulos nacionais absolutos conquistou: 75, entre individuais (40) e estafetas.

«Achei que tinha perfil»

E se ao fim destes anos houve a necessidade de se criar esta unidade, isso significa que agora é preciso dar um novo passo em que sentido? «No fundo o instituto tem vindo a densificar uma série de atribuições e responsabilidades nestes projetos, quer no ensino obrigatório como no superior, mas também devido à nova lei do pós-carreira, publicada em janeiro, entendeu-se que se justifica ter uma pessoa mais dedicada e especializada sobre estes temas», justifica.

«Obviamente que achei que tinha um perfil para a encabeçar. Até porque tenho um percurso académico e desportivo que solidifica o exercício desta função pelo facto de ter passado por todas estas etapas. Quando terminei a carreira era o nadador com maior longevidade à data. Passei por todas estas agruras de ter dificuldades em conciliar no ensino secundário o treino com os estudos, tendo deixado anos para fazer mais tarde. O que voltou a acontecer no ensino superior», vai contando.

Vítor Pardal inspirador

«Não contei com este sistema de apoio que hoje existe. Houve épocas com muitas duvidas e maus resultados», revela. «Senti na pele aquilo que muitos atletas passam. E penso também que tive uma carreia que me permite dizer isto», desabafa, Laurentino, que tem um mestrado em treino de alto rendimento e entre 2019 e 2024 foi membro da Unidade de Coordenação Nacional das Unidades de Apoio ao Alto rendimento na Escola e técnico especialista da Secretaria de Estado da Juventude e Desporto (2022-2024).

Isto após em vários Governos ter sido adjunto na Secretaria de Estado da Juventude e Desporto. «Esta área do trajeto desportivo e da sua preparação sempre foi uma coisa que senti bastante. É claro que contribuí para que estas medidas fossem criadas, mas tenho sempre de referir os membros do Governo que deram a cara por elas em cada momento. Mas o grande mentor é o Vítor Pardal. Pessoa verdadeiramente inspiradora», salienta.

«Em 2016, com o ministro da educação Tiago Brandão Rodrigues e o secretário de Estado João Paulo Rebelo procurou-se disseminar pelo país a experiência que já existia, desde 2008, em Montemor-o-Velho, num gabinete de apoio ao alto-rendimento com o atual coordenador. Era então um projeto piloto das unidades de rendimento na escola. Começou com quatro escolas, no ano seguinte dez, tudo baseado numa avaliação onde estavam atletas de alto rendimento e de Seleção Nacional de jovens talentos desportivos, sinalizadas pelas federações», recorda.

Ensino exclusivo à distância

«Daí foi crescendo. Daquelas 10 passaram-se para 16, depois 19, 23… até chegarmos às atuais 25, com mais duas associadas que constituem a rede nacional. Isto ao nível do ensino secundário obrigatório. As pessoas não fazem ideia mas, para muitos jovens atletas como tenistas, surfistas... e até circenses, que andam a correr o mundo e não se encontram presencialmente, há um sistema de ensino exclusivo à distância onde têm de cumprir o currículo», refere.

«Agora, com as devidas adaptações e tendo noção que a realidade é completamente distinta, procurar-se-á transladar o modelo para o ensino superior, onde foram lançados, ainda com o ex-secretário de Estado João Paulo Correia, seis projetos piloto. Não tenho a mínima dúvida que em tudo isto reside um fator brutal de retenção de estudantes/atletas no sistema desportivo», concluiu Laurentino.