Durante duas temporadas [2018/19 e 2019/20] jogou com o Neemias Queta na Universidade de Utah State. Em dezembro, na altura do Natal, numa entrevista que fiz ao Neemias, perguntei-lhe, se há dois anos LeBron James era o jogador que mais desejava e gostou de defrontar, quem era agora, que está, nos Boston Celtics, o basquetebolista que gostava de encontrar em campo. Respondeu-me que era você. Sabia disso? Que o Neemias o tem como o adversário mais desejado e só está à espera que isso aconteça? —Sim, isso seria muito divertido, com certeza. Ele é um grande amigo meu. Tivemos dois ótimos anos juntos em Utah State. Esta temporada já defrontámos os Celtics em duas ocasiões, em Boston [120-113, 116-107], mas nenhum de nós entrou nesses jogos. Não sei quando os voltaremos a defrontar [5 de março, em Cleveland], mas espero que, nessa altura, joguemos ambos. — Esta é a temporada em que Neemias tem tipo mais tempo e oportunidades desde que está na NBA. Aquela semana de digressão pelo Oeste, por volta do Natal, foi ótimo para ele. Mas para si também, nesta fase da regular season está com uma média de quase 20 minutos/jogo [16,3m] e perto de chegar aos 30 jogos de utilização [entretanto já os atingiu, o que iguala o máximo que fez nos Bucks em 2020/21]. Como é que lhe tem corrido a época? — Tem sido bom. Tem havido alguns altos e baixos, mas, nas últimas semanas, tenho conseguido jogar muito mais e bastante bem na maior parte do tempo. Este é um bom grupo de rapazes e é um grupo divertido para se jogar. Para nós os dois, para mim como para o Neemi, tem sido bom termos algumas oportunidades e conseguir aproveitar a maior parte delas. — Ele está numa equipa onde o maior risco é tornar-se campeão... —Sim. — Você já o foi, por isso quais são os seus sonhos hoje em dia? — Continuar a melhorar. Honestamente, joguei nos Milwaukee Bucks na minha temporada de rookie e ganhámos o campeonato. Ele está numa situação semelhante, encontra-se numa equipa verdadeiramente boa. Mas nós também temos uma ótima formação em Cleveland. O objetivo é continuar a evoluir e ir encontrando maneiras de ajudar a equipa a vencer [detém médias de 8,6 pts, 2,0 res, 1.6 ass, tudo máximos de carreira na liga]. — Mas diga-me uma coisa, como é alguém ser rookie e tornar-se logo campeão da NBA? Qual foi a sensação? —[risos] Foi uma experiência ótima. Foi uma experiência de aprendizagem ver como é ter sucesso ao mais alto nível. No entanto, por outro lado, essa também foi a primeira vez que não joguei muito tempo, por isso tive de aprender a ser um profissional e desenvolver bons hábitos e tudo mais. Mas, também por isso, foi uma experiência muito boa. — É difícil um rookie ou um não titular estar numa equipa com tantas estrelas que tem hipótese de ser campeã? Pergunto porque passa-se o mesmo com o Neemias nos Celtics, onde atuam alguns futuros jogadores que, certamente, entrarão para o hall o fame do basquetebol. Também passou por isso com o Giannis Antetokounmpo nos Bucks e agora tem o Donovan Mitchell nos Cavs. É mais difícil ganhar o seu espaço?— Sim, com certeza. Acho que todos somos muito confiantes em nós como jogadores e todos queremos jogar, mas temos de aprender a ser pacientes e continuar a trabalhando duro. Assim como a estarmos prontos para quando as oportunidades surgirem. — Para si o mais difícil foi aguardar pela sua oportunidade porque tinha de esperar muito tempo e de quando o chamavam para entrar em campo estar preparado naquele momento?— Penso que sim. Como disse antes, temos de ser muito pacientes. Fui dispensado um par de vezes [Grizzlies e Kings], sofri lesões … não tem sido fácil. Mas acho que se trabalharmos bastante e confiarmos no que fazemos , quando chegar essa hora estaremos prontos. — Mantém contacto com o Neemi durante a temporada ou apenas falam quando têm jogos entre as vossas equipas? — Trocamos mensagens de vez em quando e falamos ao telefone em algumas ocasiões. É obvio que acompanho todas as estatísticas de jogo dos Celtics para ver se e como jogou, quando isso acontece. Mas tenho certeza de que ele faz o mesmo. — Eu também porque ele mencionou-o de imediato… — Exatamente. Temos um relacionamento muito bom. — E também mantém contacto com Diogo Brito [base internacional português que também jogou em Utah State e está no Leida Basket, da LEB Ouro espanhola]? — Claro! O Diogo está num grupo no Instagram e no Snapchat com alguns outros amigos que eram de Utah State. Sei que está a ir muito bem. Esperava que pudesse ter vindo aqui [Paris], mas é é natural que, neste momento, tenha jogos e não possa. Mas estou contente por ele. — No futuro vê o Diogo a conseguir, ou a ter capacidade, para jogar na NBA? — Vamos ver, quantos anos é que tem? Provavelmente mais ou menos a minha idade, certo? Sim, é um ano mais novo, tem 26. O Diogo foi muito bom para nós em Utah State. Terá apenas de crescer, melhorar e encontrar o seu lugar. Como disse, sei que vai muito bem na liga espanhola. Só precisa de continuar a trabalha e ir passando de uma liga para outra. E para outra... Tudo é possível. — O Diogo joga em Espanha e acredito que o objetivo, para já, seja chegar à ACB, provavelmente a segunda melhor liga do mundo. Mas, como também passou pela G League [Memphis Hustle e Cleveland Charge], pela sua experiência, não europeia, pensa que, hoje em dia, para um jogador europeu entrar na NBA é bom ter estado na G League ou esse seria um caminho mais difícil? — Depende de cada pessoa e de cada jogador. É certo que existem profissionais na G League. Se alguém estiver bem próximo de entrar [na NBA], mesmo perto, a G League poderá ser uma coisa boa. Mas se não estiver… poderá ter de enfrentar situações difíceis, porque também há coisas más na G League. Sinto que se fores um jogador europeu, a tentar construir o teu caminho rumo ao topo, provavelmente a ideia certa será chegar a uma grande liga, como a ACB, atuar na Euroliga ou algo assim. E então, a partir daí, quando sentir que está perto, entrar na G League e procurar destacar-se. — Já estava na Universidade de Utah State quando Neemias lá chegou em 2018/19. Como era ele nessa época? — Oh, ele foi ótimo. Não falava muito inglês e era muito, muito mais magro do que agora. Mas sempre foi superintenso e superconfiante. E isso não mudou. É uma loucura ver o quanto cresceu fisicamente. Agora é um tipo bem grande. — E é bastante intimidador dentro da área. Vê-se que há muitos adversários que já pensam duas vezes antes de lançar na frente dele. Isso é algo em que evoluiu ou ele já era assim quando jogava consigo? — Não, sempre foi um bom a abafar lançamentos. Mal chegou sabíamos que iria ser bom para nós. — Esta foi a primeira vez que visitou a Europa?— Já estive na Itália uma vez. — Então o Neemias nunca o convidou para ir conhecer Portugal? — Não, ainda não. Adoraria ir lá com ele e também com o Diogo. Talvez num dos próximos verões. — Chegaram a Paris no inicio da semana, já conseguiu ver alguma coisa da cidade? — Sim, fui à Torre Eiffel com a equipa. A minha mulher também está cá e por isso fomos às compras. Estivemos no Arco do Triunfo... Neste momento ela foi visitar o Palácio de Versailles com alguns amigos. Tem sido bom, mas está demasiado frio. Mas sim, joguei em Milwaukee e já estou acostumado ao frio. — Já visitou Itália, agora está em Paris, estas são cidades totalmente diferentes da maioria das que existem nos Estados Unidos.— Sim, sem dúvida. A Europa é muito diferente. Mas adoro a arquitetura e a forma como são as ruas. Às vezes são a direito e depois sobe por uma colina. E como cortam as ruas, que metade vai naquela direção e a outra metade para outro sentido diferente. É muito engraçado. Gosto bastante de ver tudo isso. — Do período em que estiveram em Utah State, de que é que mais se recorda do Neemi e do Diogo? — De estarem sempre a falar um com o outro em português durante os jogos. O que foi uma pequena vantagem para eles. Mas, no meu último ano lá, às vezes gritarem muito um com o outro em português e do nosso treinador não gostava disso porque não sabia o que estavam a dizer. Algumas ocasiões foi ele que gritou para que parassem de gritar um com o outro em português [risos]. — No ano passado, no All-Star de Salt Lake City, conversei com o Domantas Sabonis e o Kevin Huerter e eles chamaram o Neemias por uma alcunha que tinha na equipa. Quando estava em Utah State ele já tinha alguma?— Não. Bem… tínhamos algumas para eles, mas não posso dizer quais são [gargalhada]. — E o que espera que os Cavaliers consigam esta temporada? — Temos tido muitas lesões, por isso tentamos aguentar e a continuar a ganhar jogos até termos o Darius Garland e o Evan Mobley de volta [já regressaram e Cleveland venceu 11 dos últimos 12 jogos, ocupando o 4.º lugar na Conferência Este]. Tínhamos grandes esperanças no início da temporada. Acho que ainda temos. Sentimos que podemos ser uma equipa muito boa e chegar longe. Temos as peças para potencialmente vencer tudo. Queremos chegar aos play-offs e depois ir longe. Mas na NBA a época é longa. Não se pode olhar demasiado à frente, por isso estamos apenas focados nos jogos que vamos tendo e em tentar continuar a ganhar. — Podem ser os Miami Heat desta temporada? Na época passada ninguém espera que os Heat chegassem aos Finals, todos pensavam que seriam os Boston Celtics, Milwaukee Bucks ou Philadelpha 76’ers. Pensa que têm capacidade para ser esse tipo de equipa surpresa no play-off? — Acredito que sim. Temos muito talento no grupo. Contamos com três jogadores que já foram all-stars e outro que o será brevemente. Definitivamente temos as peças necessárias para ganhar, só precisamos estar todos saudáveis e continuar a melhorar para esse momento.